O processo de instalação da cervejaria da Heineken em Pedro Leopoldo, Região Metropolita de Belo Horizonte, chega ao capítulo final. O diretor de assuntos corporativos do grupo no Brasil, Mauro Homem, anunciou nesta segunda-feira (13/12) que a empresa não vai instalar a fábrica na cidade, mas vai manter o negócio no estado. No início de 2022, uma nova área para a construção da cervejaria será anunciada.
Segundo o diretor, a decisão de sair de Pedro Leopoldo foi porque a Heineken está exercendo o valor social da companhia, que é alinhar discurso com a prática. Além disso, foi fundamental a divergência de opiniões entre o órgão licenciador, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
“Não vejo nada de errado no processo de licenciamento, temos uma decisão liminar que sustenta isso. Após três meses de diálogo ficou muito claro para nós que, além da questão legal, ainda existem divergências de interpretações entre as diferentes partes interessadas. Como a Heineken se pauta em decisões que respeitam os interessados, para nós não faria sentido em manter um projeto importante como esse sem o entendimento de todos”.
O diretor afirma que a empresa vai permanecer no estado e que já estão acontecendo estudos com a assessoria da Agência de Promoção de Investimentos e Comércio Exterior de Minas Gerais (INDI) para a escolha de um local que tenha capacidades hídrica e logística para facilitar o escoamento para a região sudeste - e propiciar menores impactos ambientais locais.
O anúncio da nova localidade será no início de 2022 e, para agilizar o processo de escolha, Mauro Homem afirma que vai utilizar como ponto de partida estudos realizados antes da escolha de Pedro Leopoldo, com possíveis ajustes no valor do investimento, mas que a grandeza da instalação será parecida.
“Todo estado está em aberto. Se tiver município ao norte e ao sul, estamos em disposição de avaliar porque, a partir de 2024, precisaremos da fábrica pronta para atender à crescente demanda”.
Adequações em Ponta Grossa
Com a capacidade de demanda suprimida em 2023, a direção da fábrica da Heineken decidiu fazer adequações na unidade localizada em Ponta Grossa (PR) para a produção da cerveja. Será realizado um investimento adicional nas instalações, na construção de novos tanques horizontais, com o objetivo de cobrir a demanda de 2023 que seria gerada pela cervejaria em Pedro Leopoldo.
“Esse período entre a nossa saída e o encontro de uma nova localização, a preparação de todos os estudos técnicos de licenciamento demandará tempo e a gente reforça o compromisso de atender a capacidade de demanda no Brasil. Com isso, vamos direcionar o investimento adicional em outras cervejarias da Heineken”, afirma.
Como fica Pedro Leopoldo
Anunciada a construção da unidade da cervejaria em dezembro de 2020, com investimentos declarados em R$ 1,8 bilhão e promessa de gerar mais de 350 empregos, a empresa teve o licenciamento ambiental para a construção da obra em Pedro Leopoldo, dentro de uma unidade de conservação ambiental, APA Carste Santa Luzia, em agosto de 2021.
Ainda na fase inicial da obra, o ICMBio apontou que os estudos realizados pela empresa de consultoria e aprovados pela Semad eram inconsistentes e deveriam ser readequados. A obra foi embargada e a empresa pagou uma multa de R$ 84 mil.
Diante disso, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) instaurou um Inquérito Civil Público para apurar os possíveis impactos do empreendimento ao patrimônio cultural. O diretor de assuntos corporativos do grupo Heinekein no Brasil, Mauro Homem, conta que. com a saída da empresa de Pedro Leopoldo, a Heineken vai formalizar um termo de cooperação junto ao MPMG no valor de R$ 300 mil e os recursos serão direcionados para as partes envolvidas nas questões ambientais do município.
“Não temos o termo de cooperação 100% consolidado, mas o MP deverá destinar o aporte financeiro para o ICMBio, para a prefeitura da cidade e para ONGs que cuidam do meio ambiente no município”.
Estudos ambientais para a nova área
Ambientalistas, espeleologistas e arqueólogos questionaram o trabalho feito pela Pöyry Tecnologia, multinacional finlandesa de consultoria e serviços de engenharia contratada pela Heineken. Os estudiosos dizem que o grupo europeu desconsiderou o plano de manejo da região carste.
Por isso e por outras discordâncias, o ICMBio e o MPMG exigiram a apresentação de estudos complementares sobre os impactos potenciais na arqueologia e no meio ambiente, além das medidas para mitigá-los.
O especialista em espeleologia, do Observatório Espeleológico, Fred Lott, aponta que as medidas mitigadoras apresentadas pela empresa dão a entender que o projeto não envolveu pessoas especializadas em relevos carste e que Minas Gerais é o estado que tem os melhores especialistas em estudos nessa área. “Tiveram vários desajustes no estudo que foi apresentado para o licenciamento”.
O diretor de assuntos corporativos do grupo Heinekein no Brasil, por sua vez, afirma que, a partir da identificação da nova localização do empreendimento cervejeiro, um edital de concorrência será aberto e a empresa vai buscar as melhores referências de mercado para fazer as avaliações específicas da futura área.
“Não temos a definição sobre a mesma empresa ou não. Baseados na localização, vamos buscar uma empresa que tenha conhecimentos ambientais específicos sobre a região”.