A Itapemirim Transportes Aéreos (ITA) não é a primeira companhia aérea a enfrentar dificuldades na operação de voos no Brasil. Nos últimos 20 anos, pelo menos seis empresas tiveram que encerrar suas operações no país por dificuldades financeiras.
A Itapemirim, que começou a operar em junho de 2021, pegou milhares de passageiros de surpresa ao anunciar, na sexta-feira (17/12), a suspensão de todos os seus voos por tempo indeterminado.
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) suspendeu a licença da companhia, que não pode mais operar voos no país. Além disso, exigiu que a empresa aérea preste assistência aos clientes que compraram passagens com a companhia, com a reacomodação em voos de outras companhias.
Outras empresas aéreas também deixaram de operar no Brasil em razão de dificuldades financeiras. Relembre algumas delas.
Varig
Fundada em 1927, a Viação Aérea Rio-Grandense (Varig) chegou a ser a principal companhia do Brasil e uma das maiores do mundo.
Criada pelo alemão Otto Ernest Meyer, a expansão da empresa aconteceu nos anos 1940 com voos internacionais na América do Sul. Em 1955, surgiram os voos para os Estados Unidos.
A companhia aérea se destacava pela qualidade do atendimento ao passageiro, que chegou a ser premiado como o melhor do mundo em 1979 pela revista americana “Air Transport World”.
Porém, a partir da década de 1990, a Varig começou a ter prejuízo em seu balanço financeiro após a entrada, no país, de novas companhias estrangeiras. No início dos anos 2000, o crescimento da TAM e a entrada em operação da GOL no mercado acirraram a concorrência na aviação doméstica.
Em 2005, a companhia entrou em recuperação judicial e, dois anos depois, foi vendida para a GOL. A falência da Varig foi decretada em 2010.
Vasp
A Viação Aérea São Paulo (Vasp) foi fundada em 1933 por um grupo de empresários de São Paulo.
A companhia enfrentou dificuldades logo no início e, em 1935, foi estatizada pelo governo de São Paulo. Na década de 1990, ela foi novamente privatizada. O empresário Wagner Canhedo promoveu uma grande expansão internacional, com voos para a Ásia, Estados Unidos, Canadá e Europa, além de comprar empresas estrangeiras.
Esse crescimento, porém, foi muito maior que a capacidade da empresa. Em crise financeira, ela atrasou pagamentos e colocou em risco até a manutenção dos aviões. Alguns chegaram a ser proibidos de voar. A situação se agravou e, em 2005, a companhia teve sua autorização de operação cassada e deixou de voar. Três anos depois, a falência foi decretada.
Transbrasil
Criada originalmente em 1955 com o nome de Sadia Transportes Aéreos, a empresa surgiu para transportar carne fresca de Santa Catarina para São Paulo. Com o sucesso da atividade, em 1961, a Sadia comprou a Transportes Aéreos Salvador, ampliando sua participação no mercado aéreo nacional.
A mudança de nome para Transbrasil veio em 1973. A empresa se consolidou como uma das mais importantes do país até a década de 1980, quando o Brasil enfrentava crises financeiras que afetaram o setor. O dono da empresa, Omar Fontana, chegou a entrar na justiça contra o governo e a Transbrasil sofreu uma intervenção federal. Quando retomou o controle, Fontana encontrou uma empresa ainda mais debilitada.
Nos anos 1990, a companhia apostou em voos internacionais para se recuperar, mas a situação não melhorou. Em dezembro de 2000, com a morte de Omar Fontana, a crise na empresa se agravou. Um ano depois, a companhia teve sua falência decretada, a pedido da General Electric Capital Corporation, que disse não ter recebido o pagamento de uma dívida de US$ 2,6 milhões, referente a aluguéis de aviões e turbinas.
Avianca Brasil
A Avianca Brasil foi a última empresa aérea a encerrar suas operações no país, em 2019. A empresa entrou em crise no ano anterior, deixando de pagar contratos de arrendamento de aeronaves e motores de sua frota.
A companhia, que chegou a ter 11% de participação no mercado doméstico, acumulou mais de R$ 2,7 bilhões em dívidas e teve sua falência decretada em julho de 2020.
Webjet
A empresa aérea foi criada por executivos do mercado financeiro em 2004, mas começou a operar apenas no ano seguinte. Poucos meses depois de fazer os primeiros voos, a Webjet enfrentou sua primeira crise e chegou a ficar três dias sem operar nenhum de seus 26 trechos.
Em 2007, ela foi comprada pela operadora de turismo CVC, que vendeu a empresa para a GOL em 2011. No ano seguinte, as atividades foram encerradas.
BRA
A Brasil Rodo Aéreo (BRA) foi fundada em 1999 e atuou por seis anos no mercado fretado. Em 2005, passou a fazer voos regulares. Porém, dois anos mais tarde, a companhia pediu à Anac a suspensão de todos os seus voos.
Na época, a BRA tinha 4,6% do mercado doméstico, e operava 315 voos mensais para 26 destinos nacionais e três internacionais. Atualmente, a empresa aérea está em processo de recuperação judicial.
Cruzeiro
Fundada em 1927 como Syndicato Condor, a empresa foi criada por alemães. A Segunda Guerra Mundial trouxe as primeiras dificuldades e a companhia aérea passou a se chamar Cruzeiro do Sul.
Na década de 1940, era uma das mais importantes companhias aéreas brasileiras. Passou a fazer voos internacionais em 1947 e entre os destinos, estavam Nova York e Washington. A crise da empresa veio nos anos 1970, justamente quando Varig, Vasp e Transbrasil atingiram seu auge. Sem conseguir competir, a Cruzeiro acabou sendo vendida para a Varig, em 1975.
Panair
Uma das primeiras companhias aéreas brasileiras, a Panair surgiu em 1929 com uma subsidiária da norte-americana NYRBA (New York-Rio-Buenos Aires), que logo em seguida seria incorporada pela Pan Am. Assim, a empresa também mudou o nome de Nyrba do Brasil para Panair do Brasil.
A empresa chegou a ser a principal companhia aérea brasileira entre 1930 e 1950. O crescimento da Varig ameaçava a empresa e a pressão para transformá-la em totalmente nacional crescia. A Varig queria incorporar a Panair, mas ela acabou ficando com os empresários Celso da Rocha Miranda e Mário Wallace Simonsen.
O governo militar ficou incomodado com a situação e, em fevereiro de 1965, um decreto suspendeu todas as operações da empresa. Os voos que eram operados pela Panair passaram imediatamente para a Varig. A suspensão nunca foi revogada.
Real Aerovias
A Real Aerovias ficou apenas 15 anos em operação, mas chegou a ser a maior companhia aérea brasileira em quantidade de aviões na frota. Fundada em 1945, a empresa se aproveitou do excesso de aviões DC-3 do governo norte-americano para comprar aeronaves a baixo custo e iniciar suas operações. O primeiro voo decolou em 1946.
A expansão da empresa veio no início dos anos 1950, com a compra de diversas outras companhias menores. Com isso, a frota da Real chegou a ter 117 aeronaves. Na época, era a sétima maior frota do mundo, segundo ranking da Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA). Foi a posição mais alta ocupada por uma companhia aérea brasileira.
O crescimento chamou a atenção da Varig, que comprou a empresa em 1961.
* Estagiária sob supervisão da subeditora Ellen Cristie.