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Estado de Minas NATAL

Consumo de Panetone é fatiado no cartão de crédito

Produzida em fábricas ou artesanalmente, iguaria natalina reforça estoques do comércio.


23/12/2021 04:00 - atualizado 23/12/2021 07:41

Mesa de panetone
Mesa de delícias do confeiteiro Douglas Enrique, da Espetacular, com destaque para o recheio cremoso com toque francês (foto: Gladyston Rodrigues/em/d.a press - 1º/12/21)

Desde o mais simples ao mais sofisticado pão de origem italiana que tem cheiro de Natal, com os mais requintados recheios, doces ou salgados, o panetone reforça os estoques de supermercados, lojas de chocolates, depois de acelerar fábricas e produtores artesanais da iguaria. Nessa disputa pelo bolso do consumidor, valem ofertas e vendas a prazo – e nesse caso, pagamento fatiado em até sete vezes no cartão de crédito.

Desde a chegada dos produtos ao mercado, no fim de novembro, pesquisa em  sites de supermercados e lojas apontava preços variados, entre o panetone tradicional de 500g da rede Super Nosso, a R$ 10,90, ao Língua de Gato Exagero, de 1,5kg, da Kopenhagen, a R$ 149,90. Nas Americanas, o Italiano Tradicional La Pastini, de 750g, poderia ser adquirido à vista por R$ 148,90 ou dividido em sete vezes, com prestações de R$ 21,27.

Já o hipermercado Extra oferecia produtos de variadas marcas e de fabricação própria a serem pagos em até 30 dias no cartão. O tradicional Bauducco de 500g saía a R$ 20,90 e o Frutas Zero Açúcar 400g, caixa com 18 unidades, da marca Santa Edwiges, por R$ 358,20 em até três vezes.

A pesquisa Natal 2021, da Associação Brasileira de Supermercados, que ouviu 116 empresas de todos os portes, em todas as regiões do Brasil, entre 18 e 29 de outubro, projetou vendas em  alta para todos os tipos de panetone. Para os especiais, a expectativa é de vendas 16,6% maiores que em 2020, e os preços, 13,2% mais altos, quase a mesma estimativa para os chocotones, com estimativa de acréscimo de 16,4% nas vendas e 13,4%nos preços. Na comercialização dos produtos mais tradicionais, a expectativa apontada pela pesquisa é de alta de 15,8% nos negócios, com preços finais 12,7% superiores em relação ao Natal passado.

Dhyeniffer Eládio, encarregada industrial da rede de supermercados Verdemar, explica que a empresa trabalha com as marcas tradicionais do mercado, mas também com importação e produção próprias. Dos fornos do setor de panificação saem cinco opções salgadas, cinco especiais, além dos tradicionais. Também os especiais light 500g e integral, os clássicos italianos e os trufados. Em 2021, as novidades ficam com açafrão com calabresa na versão salgada e trufado com creme de avelã na opção doce.

“Nossa expectativa é que retornemos aos números de 2019 e a meta é vender 300 mil unidades de todos os tipos e sabores. Felizmente, não tivemos problemas com os fornecedores, mas enfrentamos um aumento significativo de custo de todas as matérias-primas”, afirma Dhyeniffer.

Thiago Vaz, gerente comercial da rede supermercadista Mart Minas, conta que os estoques de panetone nos supermercados foram reforçados e no último biênio cresceram, em média, 20% ao ano. A empresa trabalha com várias marcas: Bauducco, Aymoré, Fontine, Nestlé e produtos Suiça e Veneza. Segundo Vaz, são várias as opções de preços e embalagens (lata, caixa e plástico), nas versões chocotone, salgado e de frutas e em tamanhos padrão e míni. “A expectativa é excelente. Afinal, ano passado foi um Natal atípico e a retomada dos encontros favorece o setor. Neste ano, não tivemos problemas com fornecedores. A indústria fez uma entrega mais parcelada, mas garantindo o volume nas lojas. E para os clientes, algumas bandeiras de cartão de crédito parcelam em até três vezes.”

GOSTO FRANCÊS

As opções artesanais também ganham corpo e variações que disputam a preferência dos apreciadores da especiaria. Elisa Dayrell Brasil de Lima, especialista em confeitaria francesa, da Espetacular Doceria, no Funcionários, Centro-Sul de BH, encontrou em seus estudos no país europeu variadas receitas que resultaram em crescimento mensal de 65% nos negócios, mesmo durante as restrições da pandemia.

A criatividade e a forma artesanal tornaram seu produto dos mais procurados no período do Natal. O chocotone Noix petit, de 150g, vendido a R$ 30, e o Grand, de 700g, ao custo de R$ 95. Além da massa fresca com notas de chocolate, é recheado com ganache cremosa e praliné de nozes, amêndoas e avelã e finalizado com chocolate meio amargo. A marca é feita em chocolate e pintada de dourado para compor a embalagem.

Diante das dificuldades em encontrar embalagens, Elisa escolheu um tecido fino, que pode se tornar um enfeite, um forro ou pano de prato. “Foi um grande sucesso”, conta.

Douglas Enrique, chefe de confeitaria da Espetacular, onde começou como estagiário, diz que o chocotone deste ano repete o sucesso do ano passado. Mas recomenda também o Cake aux fruits, comum aos franceses. “Um bolo amanteigado, de forma alongada, com frutas, e sem a essência do panetone, oferecendo um sabor diferenciado”, define. O preço para provar a variedade é de R$ 40.

VERSÃO SALGADA

Já a jornalista Gabriela Siqueira Resende resolveu testar receitas de panetones salgados, sabores com que tem mais afinidade. “Há quatro anos, descobri uma receita, comecei a fazer testes e apresentar o produto a familiares e amigos. Queria algo diferenciado.” A iniciativa fez sucesso e ela foi surpreendida com o aumento de pedidos a cada ano. “No ano passado, suspendi a produção devido à pandemia e voltei em 2021 com força total”, conta. Segundo ela, foi preciso muita pesquisa antes de montar o cardápio e os sabores.

 Ela espera superar as vendas de 2019, que chegaram à média mensal de 50 unidades, ofertando sabores como tomate seco, alecrim e rúcula, pesto, salaminho, nozes com gorgonzola e frango com requeijão. Os preços ficaram entre R$ 13 e R$ 35. As opções de gorgonzola e nozes, com 500g,  custam um pouco mais caras.

Embalando panetones
Gabriela Siqueira aposta no panetone salgado e receitas temperadas com pesquisa (foto: Gladyston Rodrigues/em/d.a press - 1º/12/21)

Sabores para todos os gostos

A fabricação de panetones não passava pela cabeça do engenheiro civil João Paulo Gabriel de Andrade e de sua mãe, Maria Helena Andrade, quando, “quase por brincadeira”, começaram a produzir geleias, há três anos, em Carmópolis de Minas, no Centro-Oeste do estado. “Entendíamos que geleia era mais um complemento de café da manhã. Mas aos poucos fomos percebendo que poderíamos extrapolar essa receita. E por que não chocotones com recheios inovadores?”, diz ele.

Os amigos foram as “cobaias”. João Paulo resolveu estudar a fundo as técnicas e hoje sua marca Dolce Frutteto é encontrada em todo o país. “O legal é que quando me vi fazendo chocotones e ovos de Páscoa, era despretensioso, era para aproveitar a data e mostrar que a geleia é muito mais que o contexto matinal. As pessoas ficaram alucinadas.”

A embalagem foi o nó, também para ele.  “O fornecimento de insumos neste ano está melhor que ano passado, mas a falta de embalagens aumentou os preços. Precisamos fazer pedidos com muita antecedência e melhorar a logística para atender os clientes.”

Aos apaixonados pela iguaria, os panetones não podem faltar na mesa natalina. A professora Maria Ângela de Lima Nascimento, de 60 anos, é uma delas. “Já ganhei um de minha filha, mas agora vou sair à procura de bons preços para garantir presença na ceia do Natal.” Para Gilberto Rodrigues, de 73, veterinário, a especiaria “tem o gosto de Natal”.  Mas  confessa que deixa a pesquisa  para a família. “Entro com o bolso. E com a boca, claro.”

Comerciante e sócio da Padaria Pão de Casa, no Bairro Funcionários, em BH, Fabiano Silva Morais, de 44, conta que a casa, fundada em 1979, começou a trabalhar com panetones há pouco tempo. E que por isso o produto ainda não é um dos mais procurados. A iguaria de fabricação própria custa entre R$ 17,90 e R$ 19,90 na versão chocotone.


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