Produzida em todo território nacional, também conhecida como “aipim” e “macaxeira”, a depender da região, a mandioca é usada como matéria-prima da farinha e da fécula, servindo para a produção de pão de queijo, bolo, tapioca e outros alimentos, além do consumo in natura. Se você é daqueles que apreciam o famoso prato de carne de sol com mandioca, não se assuste: o mesmo produto que é destaque na culinária também será usado na mineração.
A mandioca será aproveitada no processamento industrial do megaprojeto de exploração de minério de ferro que a empresa Sul Americana de Metais (SAM), subsidiária da chinesa Honbridge Holdings, sediada em Hong Kong, pretende instalar na região de Grão Mogol, no Norte de Minas. O chamado Projeto Bloco 8, que está em fase de licenciamento, tem investimento previsto da ordem de US$ 2,1 bilhões (R$ 11,9 bilhões), com a expectativa de gerar 6,2 mil postos de trabalho no pico da implantação de 1.100 empregos diretos.
O empreendimento tem previsão de alcançar uma produção anual de 27,5 milhões de toneladas de concentrado de minério de ferro. Mas, o minério de ferro das jazidas do Norte do estado é de baixo teor (média de 20%). Por isso, para a viabilidade econômica, o material terá que passar por um tratamento, para elevar sua concentração para cerca de 66,5%. É aí que entra o curioso uso da mandioca na indústria mineradora, no processo de separação do minério de ferro.
Conforme o coordenador socioambiental da SAM, Cristiano Duarte, a mandioca será aproveitada no megaprojeto pelo fato de ser rica em amido, que será usado para elevar o teor de concentração do minério de ferro de 20% para 66,5%, em um processo chamado flotação. O amido contribui para a separação do ferro da rocha bruta, elevando a concentração do minério.
Ele informa que a empresa de capital chinês tem uma previsão de adquirir e usar no processo de separação do minério de ferro cerca 50 mil toneladas de amido por ano em seu projeto no Norte de Minas. A fim de garantir o fornecimento de matéria-prima para viabilizar a extração mineral, a empresa vai incentivar o cultivo da mandioca na região, visando também ao fortalecimento da economia das comunidades locais.
Segundo Duarte, a mineradora vai fomentar a criação de cooperativas comunitárias e o plantio da mandioca na região nas próximas fases do licenciamento ambiental do megaprojeto minerário. Da mesma forma, será incentivado o cultivo do milho, também rico em amido.
IRRIGAÇÃO
“A SAM realizará, em conjunto com o governo de Minas, um projeto de irrigação de 950 hectares para fortalecimento da agricultura familiar na região – uma demanda da população rural local. A empresa distribuirá os kits de irrigação e a proposta é incentivar culturas que possam ser adquiridas pela própria mineradora em suas atividades”, informa o coordenador socioambiental da multinacional chinesa.
A expansão do cultivo da mandioca no Norte de Minas para o atendimento à demanda do megaprojeto da extração do minério de ferro pode ser facilitada pelo fato de a planta ser resistente à seca. Os mandiocais são facilmente encontrados nos terrenos dos pequenos agricultores norte-mineiros, como cultura da resistência.
Um dos grandes produtores de mandioca da região é o município de Padre Carvalho (de 5,8 mil habitantes), situado na área do megaprojeto do Bloco 8. Em Padre Carvalho é realizada anualmente a Festa Nacional da Mandioca.
MINERODUTO E ÁGUA
O início da operação do projeto de exploração de minério de ferro da SAM em Grão Mogol está previsto para 2026. A ideia é usar água para levar o minério de ferro por um mineroduto ao longo de quase 500 quilômetros, entre Grão Mogol e o Porto de Ilhéus (BA), de onde o produto deverá ser exportado. De acordo com a SAM, a logística ficará a cargo de uma empresa terceirizada, que será responsável pela construção e pela operação do mineroduto.
Desde as primeiras notícias da implantação do megaempreendimento surgiu uma preocupação sobre como conseguir água para o escoamento pelo mineroduto, tendo em vista que o Norte de Minas, historicamente, enfrenta carência hídrica. Porém, a multinacional chinesa anunciou um projeto para a construção de uma barragem no Rio Vacaria, entre os municípios de Padre Carvalho e Fruta de Leite, na mesma região.
A empresa assegura que, além de atender à demanda hídrica para o “transporte” do minério, a barragem vai permitir o fornecimento de água para as comunidades locais e também possibilitar a manutenção de plantios irrigados, incluindo o da mandioca, insumo do processo de separação do minério.
Coordenador socioambiental da SAM, Cristiano Duarte salienta que a construção da barragem no Rio Vacaria garantirá “toda a água necessária” para as atividades da operação da empresa, o tratamento o transporte do minério. Além disso, sustenta, também vai garantir o fornecimento de água para os moradores das localidades vizinhas.
“Com distribuição prevista pelo governo do estado, haverá uma quantidade de água disponível que permitirá o atendimento de mais de 640 mil pessoas por dia, número superior à população de Montes Claros, com cerca de 400 mil habitantes”, afirma Duarte.
Nas atividades do empreendimento de extração mineral da empresa chinesa no Norte de Minas, enfatiza, 95% da água utilizada será reutilizada e recirculada. Assim, a iniciativa se tornará o projeto com maior nível de reaproveitamento de água no país em sua operação.
A SAM anunciou também a construção de outra barragem, de menor porte, no Córrego do Vale, para o atendimento à comunidade de Vale das Cancelas, situado próximo à futura área de extração do minério de ferro, no município de Grão Mogol. A barragem terá capacidade para atender 10 mil pessoas. Atualmente, Vale das Cancelas tem 2,8 mil moradores, mas a previsão é que a população local poderá triplicar quando o megaprojeto iniciar suas atividades.
Sistema de segurança para barragem
Depois das tragédias dos rompimentos da barragens de rejeitos nas minas do Fundão em Mariana (2015), e do Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho, ocorrido em 25 de janeiro de 2019, aumentou a preocupação com a segurança na atividade mineradora. A SAM garante que o megaprojeto de exploração do minério de ferro no Norte de Minas terá um modelo de segurança para prevenir riscos de catástrofes com o vazamento de rejeitos minerários.
“O projeto Bloco 8 terá um dos sistemas de depósito de rejeitos mais seguros da atualidade. O alteamento da barragem utilizada será por linha de centro. Essa estrutura terá um filtro vertical, que acompanhará todo o seu corpo central. Durante a operação, esse corpo será separado do espelho d’água. Essa distância faz com que a barragem se mantenha sempre livre de infiltrações, e cada vez mais estável”, explica Cristiano Duarte.
“A futura cava, onde ocorrerá a extração do minério, estará localizada logo abaixo da barragem de rejeitos, primeiro lugar para onde o material escoaria, num caso hipotético de rompimento. A operação cava será feita por controle remoto”, completa o coordenador socioambiental da empresa chinesa.
Ainda segundo ele, aproveitando as condições geográficas do local, a SAM projetou uma segunda estrutura de segurança para o empreendimento de Grão Mogol: muro de contenção logo após a futura cava, onde, num caso hipotético de rompimento, todo o material ficaria restrito e confinado dentro da área da empresa, evitando que qualquer onda de rejeito cheque a quaisquer comunidades. “Esse rigor na construção da barragem de rejeitos e as soluções desenvolvidas garantem total proteção para as comunidades e municípios”, sustenta a empresa.