Os consumidores devem preparar o bolso para os reajustes em cadeia que devem ocorrer já no início de 2022, acompanhando a inflação acima de dois dígitos registrada no ano passado. Mensalidades escolares, passagem de ônibus, conta de luz e Imposto de Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) são alguns exemplos de despesas que virão com aumentos em torno de 10% neste ano.
A inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), registrou alta de 10,74% no acumulado em 12 meses até novembro. E, pela mediana das estimativas do mercado computadas no boletim Focus, do Banco Central, o indicador deve encerrar o ano com elevação de 10,02%.
Os contratos de aluguéis, reajustados pelo Índice Geral de Preços — Mercado (IGP-M), terão alta ainda maior, de 17,78%. Ao longo da pandemia, proprietários e inquilinos buscaram indexadores mais baixos, como o IPCA, para evitarem aumento acima da capacidade de pagamento. Agora, porém, será preciso muita disposição de ambos para, novamente, renegociarem os contratos, avaliam os especialistas.
Conta salgada
A falta de chuvas ao longo de 2021 deixou a conta de luz mais salgada e uma nova bandeira tarifária, a de escassez hídrica, que adiciona R$ 14,20 a mais para cada 100 kWh consumidos, pelo menos, até abril.
Mas novos reajustes na conta de luz neste ano serão inevitáveis, em grande parte, para compensar o deficit entre os custos com a geração de energia e os valores arrecadados por meio das bandeiras tarifárias. Pelas projeções da consultoria GRID Energia, o saldo negativo da Conta Bandeiras, a ser considerado nos eventos tarifários das distribuidoras de 2022, deve chegar a R$ 15 bilhões. E, para frear um reajuste muito alto no ano que vem, o governo editou a Medida Provisória (MP) 1078/2021, que autoriza um empréstimo às distribuidoras de energia elétrica. De acordo com estimativas do governo, o reajuste médio da energia deve cair de 21% para 9,1%, considerando os efeitos do socorro financeiro.
No entanto, Hugo Lott, especialista da GRID Energia, explica que o consumidor pagará essa conta mais salgada de qualquer jeito. A MP vai apenas evitar um estrago maior em um ano eleitoral. "O prejuízo aconteceu, e vai ser pago. Ele será diluído nos próximos anos e o custo dessa manobra fiscal poderá ser maior do que os R$ 15 bilhões estimados como perdas atuais", afirma. Pelos cálculos da consultoria, a conta de luz pode registrar aumento médio de 12% neste ano.
Os combustíveis, que acompanham a alta do dólar e a variação das cotações do petróleo no mercado internacional, têm sido uma das maiores fontes de pressão para a inflação em 2021.
A gasolina acumula, em 12 meses até novembro, alta de 50,78%; o etanol, de 69,40%; e o diesel, de 49,56%. "Tivemos aumento atípico dos preços internacionais do petróleo em 2021. O barril era cotado a US$ 62, na média dos últimos seis ou sete anos, e, no ano passado, chegou a ser negociado entre U$ 83 a US$ 84", afirma o economista William Baghdassarian, professor de finanças do Ibmec.
De acordo com analistas do mercado, é provável que o litro da gasolina fique entre R$ 7 e R$ 8 ao longo deste ano, pois o dólar tenderá a refletir a tensão eleitoral.
Ônibus
As passagens de ônibus, por sua vez, devem, pelo menos, acompanhar a inflação. Conforme estudo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), devido à alta dos preços do diesel e da falta de reajustes há dois anos por causa da pandemia, a correção deveria ser de 50%. Mas, pelo que foi informado pelos prefeitos ao Palácio do Planalto, o aumento dos bilhetes será de até 11%.
O diretor administrativo e institucional da NTU, Marcos Bicalho, informa que o diesel representa 27% do custo do setor e a mão de obra, 50%. Segundo ele, a perda de produtividade das empresas, em função da queda de demanda durante a pandemia, é outro fator que vem pressionando os custos.
A educadora financeira Silvia Machado orienta que é importante começar o ano organizando as contas, planejando as despesas mês a mês, de forma a evitar a inadimplência. A especialista aconselha a rever os hábitos de consumo, começando pelo lazer, se o endividamento já for elevado. "A situação se agrava, porque a renda do trabalho está no menor nível desde 2012. E, na maior parte dos casos, os salários continuarão perdendo para a inflação", afirma.
*Estagiário sob a supervisão de Rosana Hessel