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Estado de Minas Entrevista

Presidente da Gerdau, Gustavo Werneck diz que reformas são fundamentais

No comando da maior produtora brasileira de aço, executivo afirma confiar na reação do Brasil


30/01/2022 04:00 - atualizado 30/01/2022 07:29

Gustavo Werneck, presidente da Gerdau
Engenheiro, Gustavo Werneck conduziu a companhia a lucro recorde no ano passado (foto: Divulgação/Gerdau)

Eleições e até mesmo crise sanitária são fenômenos com impactos na economia conhecidos e já enfrentados por empresas centenárias no Brasil. Para o grupo siderúrgico Gerdau, que chegou aos 121 anos neste mês, a diferença, agora, num começo de ano conturbado com o avanço do coronavírus e a tensão política na mira do pleito de outubro, está no nível alto de resiliência adquirida internamente.

O presidente da empresa, Gustavo Werneck, defensor de uma cultura de transformação implementada na Gerdau nos últimos anos, afirma que desse aprendizado surgiram simplicidade, agilidade, engrenagem digital e busca incessante de renovação.

São fatores que permitem à companhia, segundo o executivo, tomar decisões rápidas em várias frentes. “Seguimos acompanhando de perto o impacto da pandemia, e apesar de todos os desafios em curso e daqueles já mapeados para o ano, seguimos otimistas”, afirma Gustavo Werneck.

Engenheiro formado pela UFMG, mineiro de Belo Horizonte, 49 anos, ele conduziu a companhia – maior produtora brasileira de aço e fornecedora da América Latina –, a lucro recorde no ano passado e reforça a estratégia de diversificação para atendimento a setores que despontam, a exemplo das energias renováveis.

Nesta entrevista ao Estado de Minas, embora confiante na recuperação da economia, Werneck admite que para crescer o país precisa de mudanças estruturais. “Não tenho dúvidas de que uma agenda de reformas é fundamental para o Brasil crescer de forma mais sustentável.”

A Gerdau encerrou o 3º trimestre de 2021 com ganho líquido de R$ 4,6 bilhões e iniciou no estado ciclo estratégico de investimentos de R$ 6 bilhões previsto para cinco anos. Na semana passada, a companhia se tornou patrocinadora oficial do Campeonato Mineiro de Futebol 2022.


Como o senhor lida com a dificuldade de fazer projeções e conduzir projetos num cenário que, hoje, une crise econômica e disputa política no Brasil?
A Gerdau completou, neste mês, 121 anos de história. Ao longo de todas essas décadas, passamos por momentos desafiadores no Brasil e no mundo. Foram inúmeras eleições e até pandemias, como a gripe espanhola (1918). Toda essa experiência e bagagem tornaram a Gerdau muito resiliente pra enfrentar momentos como esse que estamos vivemos. Um dos nossos aprendizados é que precisamos sempre nos reinventar. Por isso, a transformação cultural pela qual a Gerdau passou nos últimos anos criou uma base sólida para que pudéssemos superar os momentos mais desafiadores. Esse ciclo foi determinante para que a companhia se tornasse mais simples, ágil, digital e mais inovadora. Essa estrutura permitiu que tomássemos decisões rápidas nas mais variadas frentes, desde a priorização da saúde e da segurança das pessoas aos consistentes resultados financeiros. Olhando para o futuro, permaneço otimista e mantenho nossa visão de crescimento de longo prazo.

O ano começou com revisões para baixo das previsões de crescimento do Brasil. Embora com resultado recorde em 2021, o senhor considera que a nova onda de COVID-19 e as dificuldades de recuperação da economia, como a inflação alta, podem reverter o cenário positivo esperado pela companhia para 2022?
Seguimos acompanhando de perto o impacto da pandemia, e apesar de todos os desafios em curso e daqueles já mapeados para o ano, seguimos otimistas. Contribui para essa expectativa a previsão da manutenção da demanda por aço em bons patamares, resultado do desempenho positivo dos setores da construção civil e industrial, com destaque para a agricultura (máquinas, tratores, colhedeiras), linha amarela (construção rodoviária e terraplenagem), máquinas e equipamentos e energias eólica e solar. Segundo o Instituto Aço Brasil, a produção brasileira de aço bruto deverá crescer 2,2%, alcançando 36,8 milhões de toneladas em 2022. As vendas internas devem aumentar 2,5% na comparação com 2021, chegando a 23,3 milhões de toneladas.

Outro foco de preocupação é com o sistemático adiamento das reformas e a dificuldade de o governo emplacar concessões de infraestrutura. Falta prioridade ou força política para conduzir esses temas?
Os investimentos em infraestrutura continuam sendo destravados. Além de obras de mobilidade e privatização de estradas, destaco os leilões para a instalação de infraestrutura para energia renovável. Em 2016, iniciamos a produção de chapas grossas em nossa planta de Ouro Branco (MG) e, desde então, estamos trabalhando muito próximos aos nossos clientes no desenvolvimento de novos produtos e soluções. Em 2021, por exemplo, foram construídos 20 parques fotovoltaicos no Brasil e 600 novas torres de energia eólica, que usam chapa grossa em sua constituição. Mas não tenho dúvidas de que uma agenda de reformas é fundamental para o Brasil crescer de forma mais sustentável.

Como presidente da Associação Latino-americana do Aço (Alacero), quais são os desafios que o senhor identifica para que os países da região cresçam?
A indústria do aço na América Latina tem um papel relevante na geração de empregos e riqueza, e os números reforçam sua importância em um cenário de retomada econômica. Em 2021, ao mesmo tempo em que o PIB deve avançar 6%, a produção de aço deve crescer 16%, totalizando 65 milhões de toneladas. A região já produz aço mais limpo e sustentável que seus concorrentes e tem condições de ser protagonista no combate às mudanças climáticas. Nesse sentido, a Alacero está trabalhando em alguns projetos junto ao Banco Internacional de Desenvolvimento (BID), e uma das frentes é justamente a descarbonização do setor. O crescimento da indústria do aço latino-americana também passa pela correção de assimetrias perante outros players globais que afetam o nível de competitividade da região, bem como do equacionamento de problemas estruturais dos países. Variáveis como uma alta carga tributária, baixa disponibilidade de financiamento local e gargalos logísticos impedem o aço latino-americano de competir de igual para igual com demais produtores globais.

Como o senhor tem avaliado o cenário da economia do ponto de vista do cronograma que foi definido para projetos da companhia em Minas?
Nosso plano de investimentos de R$ 6 bilhões para a ampliação da produção e modernização tecnológica em Minas, hoje o estado mais importante para as operações da Gerdau, segue conforme o previsto. Este ciclo faz parte da estratégia global de crescimento da Gerdau e reflete as nossas iniciativas de inovação e a evolução do nosso pilar de sustentabilidade. Estamos contemplando todas as regiões onde a companhia tem atuação no estado, beneficiando dezenas de municípios mineiros, em atividades de produção de aço, mineração, produção de energia renovável e a atividade de florestas plantadas. Um exemplo do que já fizemos são os mais de R$ 75 milhões investidos, em 2021, em projetos ambientais na usina de Divinópolis, investimento recorde para a unidade, que opera há 27 anos.
O senhor disse recentemente que a companhia deve trabalhar com alerta máximo para se reinventar, investindo em novos negócios, para não desaparecer. Como Minas se enquadraria nessa política?
A Gerdau realiza de forma contínua estudos voltados para inovação e novas oportunidades de negócios. E, em Minas Gerais, polo estratégico para nós, lançamos um olhar especial para o mercado de energias renováveis, com o desenvolvimento de parques fotovoltaicos para geração de energia limpa. A intenção é aprimorar ainda mais a nossa matriz energética e deixá-la mais limpa e diversificada, reforçando o nosso comprometimento com um futuro cada vez mais sustentável. Em Minas, também estamos apostando no crescimento da nossa base florestal. Hoje, somos o maior produtor mundial de carvão vegetal. Essa matéria-prima renovável é uma das nossas apostas, junto com a reciclagem de sucata, para avançarmos na nossa agenda de diminuição de emissões de gases de efeito estufa. A Gerdau já emite, hoje, menos da metade da média mundial do setor de produção de aço, e nossos investimentos em Minas nos ajudarão a avançar nessa temática.

Que expectativa o senhor tem de aceleração de startups pela Ventures Gerdau?
Os programas de aceleração são um dos pilares de inovação, pois possibilitam entender sinergias e selecionar parceiros, reunindo a força de uma empresa centenária a novas ideias e pessoas. Focado em construtechs (empresas que crescem em escala, atuando na cadeia da construção civil), o primeiro batch (ciclo de seleção) aconteceu no Brasil, a partir de agosto de 2020. Foram 15 as startups selecionadas e cinco empresas efetivamente aceleradas. Tornar a segunda rodada de seleção internacional e explorar outros mercados foi um passo natural, já que a Gerdau Next, divisão de novos negócios da Gerdau, passou recentemente a estar presente nos Estados Unidos com uma equipe no Vale do Silício. O segundo ciclo buscou, em 2021, startups focadas em oportunidades sustentáveis e inteligentes, como captura de carbono e CO2 e reciclagem. Em Minas Gerais, participamos de um projeto exclusivo para a aceleração de startups. Trata-se do Gerdau Challenge Fiemg Lab, um programa de inovação aberta que tem o objetivo de testar novas soluções nos desafios das nossas operações em Minas. O programa tem sido um sucesso e vamos continuar apoiando.

Qual é o cronograma que o senhor espera para a nova empresa resultado de co- operação com a Shell Brasil para atuar em energia solar em Brasilândia de Minas?
A Shell Brasil e a Gerdau assinaram um termo de cooperação para o desenvolvimento de um parque fotovoltaico no município de Brasilândia de Minas, norte de Minas Gerais. O termo estabelece as premissas para a discussão e constituição de uma joint venture. Com capacidade instalada de 190MWdc, o parque Aquarii fornecerá parte da energia limpa para as unidades de produção de aço da Gerdau e outra para ser comercializada no mercado livre através da comercializadora de energia da Shell, a partir de 2024. A joint venture, que terá participação igualitária das duas empresas, faz parte da estratégia de transição energética e descarbonização de ambas. Trata-se de um passo voluntário da Shell Brasil na oferta de mais produtos e serviços energéticos renováveis e sustentáveis, em total alinhamento com a busca de uma matriz de energia mais limpa pela Gerdau. A Aquarii também venderá energia para consumidores livres, ajudando a aumentar o parque gerador do estado de Minas Gerais e contribuindo para a segurança energética da região com mais energia renovável.

Quais são as medidas previstas para segurança de barragens, tendo em vista a nova força-tarefa criada pelo Ministério Público Federal, o MP estadual e o governo mineiro, que exigem ações preventivas?
A Gerdau tem apenas uma barragem de rejeitos, a barragem dos Alemães, localizada em Ouro Preto. No nosso plano de investimento, anunciado em agosto do ano passado, está prevista uma série de ações voltadas para a mineração. Uma delas é a descaracterização dessa barragem, que está em fase de obras. Além disso, em 2021, a Gerdau passou a adotar a tecnologia de empilhamento a seco de rejeitos, que responde por 85% da geração, e eliminaremos completamente o uso de barragens nos próximos anos. As nossas estruturas de mineração estão estáveis, sem alteração no nível de segurança e o monitoramento é realizado 24 horas por dia, sete dias por semana, em tempo real, além de inspeções e auditorias periódicas.


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