O custo de vida na Grande BH, medido pelo Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA), apresentou uma alta de 0,80% em janeiro, de acordo com dados divulgados nesta quarta-feira (9/2) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o maior resultado para o mês desde 2016, quando o índice foi de 1,19%.
O IPCA para a Grande BH foi o quarto maior resultado mensal entre as dezesseis capitais pesquisadas – menor apenas do que Aracaju (0,90%), Rio Branco (0,87%) e Salvador (0,86%).
No país, a variação mensal foi de 0,54%, também o maior resultado para um mês de janeiro desde 2016. Já as variações acumuladas em 12 meses foram de 10,09% na Grande BH, quinto menor resultado entre as capitais, e de 10,38% no Brasil.
“Apesar de termos visto uma desaceleração da inflação no Brasil, comparando o resultado de dezembro, esse resultado ainda é bem significativo. Janeiro é um mês em que a inflação costuma recuar mais. Os gastos de final de ano estimulam muito mais o mercado no final do período e quando chega no início do ano, vemos muito menos aquecimento, já que as pessoas estão com alguns compromissos financeiros maiores”, explica o economista economista-chefe do Denarius e professor da Faculdade FIPECAFI, Samuel Durso.
“Nesse janeiro vimos essa redução comparando com o final do ano, mas ainda sim, nos últimos seis anos, é o maior resultado. O que mantém a preocupação que já tínhamos desde o ano passado, já que a inflação está acima do controle que temos feito, em termos de política monetária” completa.
Segundo o economista, apesar de ser um ano novo, as análises são as mesmas do ano passado. “A primeira questão é uma desvalorização muito forte. Vários produtos que são cotados em dólar, seja de alimentação ou combustível, acabam gerando essa pressão maior. Toda a cadeia que leva esse item, no caso do combustível ela é muito grande, acabam gerando essa subida de preços. A inflação é gerada pela escassez e pela depreciação do real frente ao dólar.”
Outro fator preocupante na visão de Durso é a elevação da taxa de juros, uma das formas de controle da inflação. “Vimos na última reunião do Copom mais uma elevação (1,5%). E na ata que ele lançou essa semana já sinaliza que a inflação deste ano vai estar acima do teto da meta, o que é uma sinalização forte. É uma grande expectativa que a inflação fique acima da meta estipulada de 3,5%. É uma coisa que preocupa para o futuro.”
Vestuário e seguro de veículo apresentaram as maiores altas
Na Grande BH, todos os nove grupos apresentaram aumento, com destaque para:
- Vestuário (1,93%),
- Alimentação e bebidas (1,63%) e
- Artigos de residência (1,30%).
No grupo Vestuário, que teve a maior variação positiva (1,93%), foram destaque:
- bijuteria (3,89%),
- blusa (3,61%),
- camisa/camiseta masculina (3,44%),
- bermuda/short feminino (3,12%) e
- camisa/camiseta infantil (3,01%).
“Muito possivelmente foi um reajuste feito dentro da cadeia como um todo. Durante a pandemia, o setor de vestuário foi muito impactado. As pessoas passaram a consumir menos e ter menos acesso à rua, as compras para demandas diárias de vestuário. Algumas áreas até aumentaram, como aquelas de roupas para ficar em casa. Mas, de uma forma geral, o setor foi muito impactado pelas possibilidades de consumo da população”, afirma o economista.
“Pode ter relação também com a cadeia produtiva. A demanda forte que pode ter sido feita no final do ano para a compra de vestuário, talvez em janeiro tenha freado um pouco a produção e, consequentemente, a oferta de alguns produtos foi menor. Isso faz com que o preço suba.”
Pesquisando preços antes de comprar
A cabeleireira Karina Batista, de 30 anos, é uma consumidora regular de roupas. Ela conta que percebeu o aumento no preço de algumas peças.
“O jeans aumentou demais. Eu costumo pesquisar preços nas redes sociais, quando vejo um preço acessível, vou lá e compro. Por exemplo, hoje, tinham algumas peças na promoção, eu corri e já comprei.”
Segundo ela, apesar de ficar atentas aos descontos, em alguns casos, compra sem se preocupar com o preço das peças
“Se eu gostar muito e tiver precisando com uma certa urgência, eu levo sem olhar o preço. Se for uma coisa mais do dia-a-dia, eu fico de olho nas promoções.”
Alimentação e transporte
Já o grupo Alimentação e bebidas, segundo com maior variação positiva (1,63%) foi o grupo com maior impacto no índice de janeiro na Grande BH, com destaque para a alimentação no domicílio com aumento de 2,07%.
Essa variação ocorreu principalmente devido ao aumento nos preços de tubérculos, raízes e legumes (20,25%). Os alimentos com as maiores variações foram:
- cenoura (49,51%),
- batata-inglesa (33,06%),
- banana-prata (16,66%),
- tomate (15,49%) e
- alface (13,58%).
“Desde o segundo semestre do ano passado, tivemos vários problemas com o clima, tanto de seca quanto de chuva em excesso, que podem atrapalhar a produção de determinados itens. Isso provavelmente refletiu para Minas, que sofreu com as chuvas em quase todo o estado, o que gera impacto na oferta desses produtos. Não necessariamente as pessoas estão querendo comprar mais e por isso o preço sobe. É porque está tendo menos oferta de determinados itens e isso faz com que se reflita no preço para o consumidor final”, explica Durso.
Já os alimentos com maiores quedas neste grupo foram:
- banana-d’água (-10,12%),
- carne de porco (-5,32%) e
- mamão (-4,82%).
Mesmo com o grupo Transportes não estando entre os grupos de maiores variações positivas (0,54%), o impacto desse grupo foi o segundo maior no índice geral de janeiro.
O resultado foi influenciado principalmente pelo aumento no preço do seguro de veículo (14,86%), que gerou o maior impacto individual no índice geral. Já os subitens com maior queda desse grupo foram passagem aérea (-16,50%) e transporte por aplicativo (-15,54%).
“Em Belo Horizonte, é possível perceber que o preço dos combustíveis e outros itens do grupo Transportes ainda tem pesado mais para o consumidor final. O reajuste de preços do transporte urbano acontece no final do mês de janeiro, portanto não entrou nessa mensuração do IPCA de janeiro. Possivelmente, esse reajuste que ficou artificialmente represado durante a pandemia, vai gerar um grande impacto nos próximos índices”, destaca o economista.
*Estagiária sob supervisão