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Operários trabalham na preparação do terreno para a instalação da unidade industrial da mineradora canadense em Itinga, no Vale do Jequitinhonha

Sigma/Divulgação

Com aporte de R$ 630 milhões dos acionistas em uma operação de aumento de capital concluída no fim do ano passado, a Sigma Lithium iniciou o ano com os recursos em caixa para concluir até dezembro o investimento de R$ 1,2 bilhão na instalação de um complexo com mina e unidades de beneficiamento e concentração para produção de concentrado de lítio com 6% de pureza, nos municípios de Araçuaí e Itinga, no Vale do Jequitinhonha.

A previsão é que a Sigma Mineração, subsidiária brasileira da canadense Sigma Lithium Resources Corporation, inicie a produção em novembro, com capacidade para processar anualmente 1,5 milhão de toneladas de minério e produzir 220 mil toneladas de concentrado de espodumênio (lítio), equivalente a 33 mil toneladas de carbonato de lítio, na primeira fase de projeto voltado para o mercado mundial de baterias para veículos elétricos.
 
“Nós estamos com 67% das obras de escavação, terraplanagem e fundações concluídas e em abril iniciamos a construção da estrutura, como programado”, afirma Ana Cabral-Gardner, copresidente da Sigma Lithium.

Ainda de acordo com ela, a operação de aumento de capital dá folego ao projeto e mostra a confiança dos investidores. “O BlackRock, maior fundo de investimentos global, com ativos de US$ 6 trilhões, fez a segunda maior subscrição, sendo que mais de 40% foram adesão desse fundo. Isso nos dá um colchão financeiro no plano de investimentos e é, na nossa visão, um voto de confiança no projeto da Sigma”, afirma Ana Cabral. O BlackRock aportou US$ 50 milhões (pouco mais de R$ 250 milhões hoje) na empresa.
 
Para mostrar o impacto da produção de lítio, Ana Cabral observa que a tonelada do minério é vendida hoje no mercado spot a US$ 50, enquanto o carbonato de lítio é comercializado a US$ 3.500 a tonelada. “Nosso produto, com pureza de 6% de lítio grau de bateria, assegura uma economia de 20% na produção de hidróxido com 98% de lítio”, explica Ana Cabral, uma das sócias da boutique de investimentos A10, que é gestora do fundo private equity que controla a Sigma Lithium. O hidróxido, segundo Ana, chega a US$ 12 mil a tonelada.

Empregos e tecnologia

Nas obras da primeira fase do projeto, batizado como Grota do Cirilo, a Sigma conta com 210 trabalhadores, sendo que 77% dessa mão de obra de nível técnico é formada por pessoas da região. “Com um programa que nós chamamos de 'Volta ao lar', conseguimos repatriar esses trabalhadores”, conta Ana Cabral-Gardner.

De acordo com ela, a empresa contribui com o desenvolvimento social da região com o pagamento da Contribuição Financeira sobre Exploração Mineral (Cefem). A previsão é de que os investimentos da Sigma tenham potencial para gerar renda de R$ 320 milhões na região, uma das mais pobres do país. O número de empregados deve chegar a 500 nos próximos anos.
 
Desde 2018, a empresa opera uma planta-piloto com produção anual de cerca de 12 mil toneladas/ano de minério para desenvolvimento, testes e certificação do produto, que será comercializado a partir de novembro. Até o momento, segundo a co-presidente da Sigma, foram investidos R$ 560 milhões no projeto, sendo que neste ano o complexo terá aporte de quase R$ 700 milhões para finalizar a primeira fase do projeto. Em uma segunda fase, prevê expansão para 440 mil toneladas/ano de concentrado de lítio a partir de 2025, com o investimento total chegando a R$ 2,3 bilhões.
 
Ana Cabral-Gardner destaca que o projeto da Sigma colocará o Brasil na rota de produção do “lítio verde” por seguir os conceitos de sustentabilidade social e ambiental e de governança (ESG, na sigla em inglês). “Nós não economizamos e destinamos quase 20% do Capex (investimentos) para ações ambientais e sociais”, afirma a executiva.

Ela relata que a empresa não usa produtos químicos nocivos no processo de concentração do lítio, que é totalmente automatizado, recicla toda a água captada no Rio Jequitinhonha e usada na produção e fará o empilhamento de 100% dos rejeitos das minas onde são extraídas as rochas pegmatíticas com o espodumênio, o concentrado do metal.

Mercado

Com a previsão de que o mercado de veículos elétricos salte de 5 milhões de unidades/ano para 35 milhões de unidades até 2030, as estimativas são de que a demanda por lítio também cresça exponencialmente até o fim da década, com o Brasil podendo se tornar um dos maiores exportadores de concentrados de lítio (minério grau bateria, carbonato e hidróxido de lítio). A previsão é de que a demanda mundial de lítio, hoje entre 450 mil e 500 mil toneladas/ano, salte para cerca de 3 milhões de toneladas/ano até o fim da década.
 
Além da Sigma, a Companha Brasileira de Lítio (CBL) extrai o minério e produz concentrado de espodumênio em Araçuaí e Itinga e fábrica carbonato de lítio com 99% e hidróxido de lítio de 99,5% em Divisa Alegre, no Vale do Jequitinhonha. A CBL produz 36 mil toneladas/ano de espudomênio e tem unidade verticalizada para fabricação de carbonato de lítio e hidróxido de lítio, com capacidade para produzir 1,2 mil toneladas de carbonato equivalente de lítio.

Já a AMG Mineração, controlada por holandeses, investiu R$ 650 milhões na unidade de Volta Grande, entre os municípios de Nazareno e São Thiago, na Região Central de Minas, e dobrou sua capacidade de produção de 90 mil para 130 mil toneladas/ano de concentrado de lítio.