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Estado de Minas AUMENTO NAS BOMBAS

Combustível consome até 50% da renda nos motoristas de aplicativos

Os motoristas do sistema de transporte de passageiros e seus clientes sentem no bolso os aumentos recorrentes do preço dos combustíveis


11/03/2022 16:21 - atualizado 11/03/2022 19:10

Motorista mostra aplicativo
Pedro acha que piorou muito: antes colocava R$ 50 de combustível, hoje são R$ 150 (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Se a vida dos motoristas de aplicativos de passageiros estava difícil, o anúncio da Petrobras de aumento no preço dos combustíveis deixou apreensivos esses profissionais. Segundo a estatal, a partir de hoje,a gasolina está 18,8% mais cara, gás de cozinha, 16,06%, e o diesel, 24,93%.
 
Quando esse serviço por aplicativo começou a ser oferecido em Belo Horizonte, em meados de 2014, os motoristas dispunham de 15% do que arrecadavam num dia para abastecer seus veículos. Hoje precisam desembolsar 50% de tudo o que ganham só para manter o automóvel em movimento.
É uma situação desesperadora, classifica Paulo Xavier, presidente da Frente de Apoio Nacional ao Motorista Autônomo (FANMA).

"A situação que vinha se arrastando numa equação muito difícil para o motorista devido a tantas altas ao longo desses anos, agora piorou muito. No início das operações do aplicativo o combustível significava no máximo 20% da receita. Hoje ultrapassa a 50%. Os motoristas tem selecionado melhor as corridas. É necessário critério que considere valor do quilômetro rodado. Hoje, o condutor trabalha mais, alguns chegam a 15 horas por dia, não porque esteja ganhando mais, mas para diluir os custos", explica.
 
De acordo com Xavier, o principal custo é o combustível, mas tem outros a serem considerados, como pneu, troca de óleo mensal. "Sem contar o custo de vida, os alimentos básicos subiram muito. Um carro popular que há três anos era R$ 30 mil, hoje não se compra por menos de R$ 70 mil. Estamos lutando por reajuste nas tarifas das corridas, mas as operadoras são muito resistentes."
 
Motorista de aplicativo perto do carro
Veron Guilherme reclama dos repasses das plataformas aos seus operadores (foto: Veron Guilherme/Arquivo pessoal)
Morador de Contagem e motorista de aplicativo há cinco anos, Veron Guilherme percorre uma jornada de 12 horas diárias. "Há 5 anos  a gasolina era 25% da despesas,  hoje está em 50%. As taxas de aplicativos podem chegar a 40%, dependendo das corridas. A gente depende do usuário, portanto a despesa não pode ser jogada ao consumidor. Se você faz R$200, R$ 100 vão para gasolina, R$ 20 para o carro, R$ 15 alimentação e o que sobra é R$ 65. Usuário reclama de não encontrar carro disponível, mas os motoristas estão avaliando as corridas, quilometragem, deslocamento."
 
João Pedro Costa, de 26 anos, diz que por enquanto está vendo o que vai fazer, porque do jeito que está não está valendo a pena. "A gente tem que selecionar muito as corridas. Para cada dez chamadas atende duas que valem a pena. Piorou muito, colocava R$ 50 de combustível, hoje são R$ 150. Já penso em mudar ramo."
 
Foi o que fez o motorista de aplicativo Farid Mothaw Granja, 36 anos. "Começava a trabalhar às 8h, parava por volta de 21h, gastava em média R$ 120 de gasolina, pagava R$ 50 de diária. Sobravam R$ 60 por 12 horas diárias. Desisti de trabalhar com aplicativo de passageiros. Passei a trabalhar com Ifood, com moto. Corro mais risco, mas preferi porque com o aumento de combustível ficou impraticável. Trabalhava na In-Driver e agora estou no Ifood."
 
Situação não está diferente para quem trabalha como motorista de táxi auxiliar. Mailton Rogério Liberato, diarista, diz que seu carro gasta um litro de gasolina a cada 7,5 km e, no álcool, 5km. "Atualmente, só uso gasolina. Pago diária de R$ 80, abasteço R$ 130, em média, e ainda tem alimentação. Trabalho em média 14 a 16 horas de domingo a domingo. Para ganhar R$ 50 a R$ 60 por dia. Só começo a ganhar meu dinheiro a partir de R$ 250."
 
taxista de pé ao lado do carro
O taxista Julio Borges diz que gasta metade do que ganha em um dia para abastecer (foto: Sidney Lopes/EM/D.A Press)
Júlio Cezar Barbosa Borges é concessionário de um táxi e diz gastar uma média, que varia pelo dia da semana, entre R$ 80 e R$ 150. "Antes desses aumentos todos, eu gastava, em média, 1/5 com combustível, hoje gasto quase a metade do que faço no dia abastecendo. Rodo uma média de 100 quilômetros por dia. Hoje tem sido mais vantagem andar com gasolina. Saio de casa às 7h vou até as 19h  rodo de segunda a sábado. Por mês, tenho um gasto em torno de R$ 2.600 com combustível e manutenção do carro."
 
A artesã Raquel Monteiro é usária frequente de aplicativo e mora em Nova Lima. Diz que nos últimos três meses notou um aumento da demora. Quanto a valores diz que não notou muita diferença. "Apenas em horário de pico os preços se elevam, aí eu aguardo uns 10 minutos e solicito novamente. Tem sido recorrente também o cancelamento de viagens. O motorista aceita e dois minutos depois cancela. Teve dia, em Nova Lima, que esperei por 25 minutos por um Uber."

Empresa afirma que cuida dos ganhos dos parceiros

 
Em nota, a plataforma POP 99 informou que está atenta à situação do país e tem investido esforços e recursos para reduzir o impacto da crise econômica global e os consequentes reajustes dos combustíveis que afetam os motoristas parceiros e a todos. "A prioridade é cuidar dos nossos parceiros e seus ganhos, para continuar oferecendo um transporte de qualidade, eficiente e financeiramente acessível. "
 
A empresa discorreu sobre medidas para atenuar a situação econômica junto a seus motoristas:"pacote Mais Ganhos 99, com diversas medidas como o Taxa Zero que oferece aos condutores 100% do valor das corridas em períodos e cidades específicas, além de mais ganhos com o recebimento por taxa de congestionamento, e taxa de deslocamento. Há, inclusive, casos em que é empregada a taxa negativa, ou seja, o valor repassado ao motorista é maior que o pago pelo passageiro e esta diferença é custeada pela empresa para democratizar o acesso das pessoas".
 
Em nota, a 99 informou que "passará a oferecer uma compensação financeira pela nova escalada no valor dos combustíveis. O objetivo é anular o último aumento anunciado para o litro da gasolina e por isso reajusta em 5% o km rodado no ganho do motorista de todo o país.  Este acréscimo será implementado já nos próximos dias, em todas as 1.600 cidades onde a empresa opera no País".
 
Além disso, "paralelamente, a plataforma está  testando uma solução de subsídio para acompanhar automaticamente as flutuações dos combustíveis, tanto para cima quanto para baixo. Após os testes, o novo recurso teria o potencial de trazer ainda mais transparência e segurança aos parceiros".  
 
A plataforma Uber não respondeu à socilitação da reportagem.


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