A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo divulgou, nesta quinta-feira, que em março 77,5% das famílias brasileiras estão endividadas. A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) mostrou que, mesmo com a inflação alta, famílias precisam recorrer ao crédito, mesmo com juros altos.
O recorde de março chamou atenção, já que em 12 anos de pesquisa, nunca se chegou a essa porcentagem. Especialistas acreditam que a pandemia da COVID-19 tenha abalado a economia das famílias drasticamente, proporcionando compras impulsivas e endividamentos. Além disso, o preço de insumos básicos, como os alimentos, teve alta devido à inflação persistente.
O presidente da CNC, José Roberto Tadros, avalia que o resultado da Peic reflete a pressão da inflação nos orçamentos. “Essa inflação alta, persistente e disseminada mantém elevadas as necessidades de crédito para recomposição da renda, fazendo com que as famílias encontrem nos recursos de terceiros uma saída para manutenção do nível de consumo”, observa.
Endividamento não afetou apenas as famílias de menor renda
De acordo com a PEIC, 73,7% das famílias que recebem mais de 10 salários mínimos estão endividadas, o maior índice desde 2019. No grupo com renda até 10 salários mínimos, o percentual chegou a 78,5%. Considerando os indicadores de inadimplência, 31,1% das famílias de menor renda encerraram o primeiro trimestre com algumas contas e/ou dívidas atrasadas, outro recorde histórico. Essa proporção alcançou 13,2% do total de famílias no grupo de renda superior, o percentual mais alto desde abril de 2016.
Cartão de crédito permanece como “vilão”
Somente o cartão de crédito representa 87% do total de famílias endividadas no Brasil. Entre as famílias com ganhos acima de 10 salários mínimos, o uso do cartão de crédito apresentou o maior crescimento mensal, com 89,3% de famílias endividadas nessa faixa de rendimentos. Já entre os mais pobres, o percentual permaneceu igual ao registrado em fevereiro, 86,5%.
Neste sentido, a economista responsável pela pesquisa, Izis Ferreira, avalia que a retomada do consumo, especialmente de serviços, pelo grupo de maior renda em um ambiente de reajustes de preços, ajuda a explicar o maior uso do cartão de crédito por esses consumidores.
Além disso, ela considera que o panorama de endividamento elevado deve se manter, já que a inflação persiste em aumentar. “O crédito continuará caro, com a manutenção dos juros altos por mais tempo, em razão do novo choque nos preços aos consumidores. Somando-se à fragilidade apontada no mercado de trabalho, a dinâmica da inadimplência dos consumidores nos próximos meses seguirá sendo negativamente afetada”, afirma Izis.
* Estagiária sob supervisão de