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Estado de Minas O PETRÓLEO E A AGRICULTURA

Preço dos combustíveis prejudica produtores do Jaíba

Para integrantes do projeto de irrigação do Norte de Minas, preocupação é segurar preços, apesar da alta dos custos


17/04/2022 04:00 - atualizado 17/04/2022 08:14

Movimentação na Central de Abastecimento do Norte de Minas (Ceanorte), em Montes Claros. Quarta-feira é o dia da feira livre, oportunidade para os pequenos produtores faturarem um pouco mais
(foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)

 

Todas as quartas-feiras, ainda antes do nascer do sol, o movimento é intenso na Central de Abastecimento do Norte de Minas (Ceanorte). É o dia da feira livre na unidade, que permite aos pequenos produtores da região a satisfação de vender a produção e voltar pra casa com algum trocado no bolso. Mas, com o último reajuste de combustíveis, a alegria deu lugar à preocupação e ao receio de prejuízos com o aumento do custo do transporte. Os agricultores reclamam da elevação do custo dos insumos, também consequência do reajuste dos derivados de petróleo, por conta do efeito em cascata na cadeia produtiva.

 

“As despesas com transporte, adubo e outros insumos subiram demais. Se a gente tiver que repassar o aumento do custo para as mercadorias, o  povo vai parar de comer”, afirma Gedeon Martins de Souza, pequeno produtor do Projeto Jaíba (situado no município homônimo). Gedeon conta que transporta sua produção em um pequeno caminhão, de sua propriedade, do Projeto Jaíba até Montes Claros (distância de 285 quilômetros). 

 

A cada viagem, carrega  batata doce, mandioca,limão e goiaba, entre outras verduras e frutas que produz numa área de 18 hectares no perímetro irrigado do Jaíba. Na Ceanorte, vende as caixas dos produtos para atravessadores ou varejistas, que revendem os produtos para o consumidor final. 

 

 O assentado do Projeto Jaíba salienta que o grande problema dos pequenos agricultores com a elevação do preço dos combustíveis sobe é que a categoria não consegue embutir, imediatamente, o aumento de custos do frete nos preços de venda dos seus produtos. “O aumento dos combustíveis foi muito ruim porque antes a gente tinha retorno. Agora, estamos praticamente pagando para trabalhar. Do jeito que as coisas estão indo, aumentando os combustíveis e os insumos, dentro de  alguns  meses vai faltar mercadoria no mercado, pois os agricultores não vão ter mais condições de plantar. As coisas estão caras demais”, alerta.

 

Agricultores da região descarregam seus produtos na Ceanorte, em Montes Claros
(foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)

 

A reclamação de Gedeon é a mesma de Genilson Santos Pereira, outro pequeno agricultor da comunidade de Planalto Rural, do município de Montes Claros (distante 20 quilômetros da área urbana). Genilson explica que os pequenos produtores não conseguem repassar o aumento do frete para as frutas e verduras por causa da sazonalidade dos produtos agrícolas. Ou seja: nos períodos de safra, os preços das mercadorias baixam em função da lei da oferta e procura. 

 

Queda no consumo “A gente tem que obedecer o preço de mercado. Se não baixar o preço e voltar com as mercadorias pra trás, o prejuízo é dobrado”, argumenta Genilson . Ele informou que gastava R$ 60 com combustível para  ir até a Ceanorte vender frutas e verduras. Agora, gasta R$ 100 em cada viagem, feita numa picape Saveiro, de sua propriedade. 

 

“O  custo de produção está muito alto”, diz Gilmar Pereira Silva, outro pequeno produtor de Planalto Rural. Ele vai até a cidade (distância de 20 quilômetros) em carro próprio para vender as verduras que produz. “Antes do aumento (da gasolina), eu gastava R$ 200 por semana. Agora, gasto R$ 300 por semana com o transporte”, descreve o pequeno agricultor. 

 

Também de Planalto Rural, o agricultor Hugo Rafael Leal de Souza  afirma que, além de serem “penalizados” pela alta dos combustíveis e dos insumos,  os pequenos produtores também sofrem com a perda do poder de compra da população, que, segundo ele, “ficou empobrecida e reduziu o consumo”. “Além disso, quando aumenta a oferta das verduras e frutas, mesmo com o aumento do custo de produção, a gente não consegue elevar o preço dos nossos produtos”, conclui. 

 

Gedeon Martins de Souza
"Se a gente tiver que repassar o aumento do custo para as mercadorias, o povo vai parar de comer", Gedeon Martins de Souza, pequeno produtor do Projeto Jaíba (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
 

Sem poder de barganha, pequenos sofrem mais

O agrônomo e consultor Pierre Santos Vilela, do Sebrae  Minas, afirma que o reajuste do preço da gasolina tem efeitos em  toda a cadeia produtiva e pesa mais ainda para os pequenos agricultores. “O aumento de combustíveis impacta toda a cadeia produtiva, tanto antes da porteira, por causa do aumento dos insumos, como depois da porteira, quando os agricultores saem para comercializar a produção. Então, há aumento do custo de logística também”, observa Santos Vilela. 

 

“Naturalmente, quando o pequeno agricultor sai de sua propriedade para transportar a produção, ou quando um comprador chega à sua propriedade para buscar a mesma produção, ele (o produtor)  arca com o custo para que seus produtos cheguem até o mercado consumidor. Este é um custo perverso, que  acaba minando a lucratividade das pequenas lavouras”, observa o especialista. 

 

O consultor do Sebrae Minas lembra que os pequenos agricultores são mais dependentes dos intermediários e do mercado varejista dos municípios onde exercem a atividade. Por isso, têm mais dificuldades em  repassar o aumento de custos para os preços das verduras e frutas que produzem. Ele lembra que os agricultores familiares também pagam mais caro pelos insumos agrícolas por adquirir quantidade menores dos adubos e defensivos, sem ter o mesmo poder de barganha e de descontos obtidos pelos grandes produtores. 

 

Gilmar Pereira Silva
"Antes do aumento (da gasolina), eu gastava R$ 200 por semana. Agora, gasto R$ 300 com transporte", Gilmar Pereira Silva, agricultor em Planalto Rural, Montes Claros (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)

 

A professora e economista Vânia Vilas Boas, do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), salienta que a alta dos combustíveis “afeta todos os custos logísticos”, sobretudo, em relação ao transporte. “Quando tratamos do agronegócio, vamos verificar que há impactos em todas as camadas produtivas, desde os pequenos agricultores aos produtores de porte  mais elevado. Além do transporte, sabemos que na produção agrícola utiliza-se muito dos combustíveis no manuseio de máquinas e equipamentos”, observa.

 

Cooperativas A economista assegura que, de fato, os pequenos produtores têm  dificuldades para repassar o aumento do custo do transporte para seus produtor por causa da sazonalidade. “Existem períodos de grande produção de determinados produtos. Nesses períodos, como tem muita oferta do produto no mercado, o preço cai. Neste caso, o pequeno produtor, que normalmente não tem diversificação da produção, acaba ficando no prejuízo, sem alcançar uma rentabilidade que possa cobrir os seus custos”, relata a  coordenadora do IPC/Unimontes. 

 

Ela diz ainda que uma estratégia para o pequeno produtor minimizar os custos do transporte e não ficar na dependência de atravessadores é recorrer ao associativismo. “Os agricultores devem se filiar a uma cooperativa, onde possam entregar seus produtos sem a necessidade de deslocar para locais distantes e, assim, reduzir o  custo logístico”, recomenda a economista.  


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