O Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu para cima suas previsões de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2022, de 0,3% para 0,8%. A alta foi puxada pelo aumento nos preços no mercado de commodities - especialmente alimentos, os quais o Brasil produz e exporta.
O FMI vê um ganho de curto prazo não só para o Brasil mas para todos os países exportadores de commodity, como Chile e África do Sul. Rússia e Ucrânia, juntas, são grandes exportadoras de petróleo, gás, fertilizantes, metais, milho e trigo, e seus estoques foram praticamente retirados do mercado com a eclosão do conflito. Com menos oferta, o preço desses itens - e de outros que possam substituí-los - sofreram uma alta internacional.
Porém, a nova estimativa de crescimento para o Brasil representa apenas metade do que o órgão havia projetado em outubro de 2021, quando o fundo antevia um crescimento de 1,5% para o Brasil este ano.Com o aumento acelerado dos juros pelo Banco Central no fim do ano, para conter a inflação que ultrapassou os 10% em 2021, os economistas do FMI passaram a esperar por uma desaceleração da economia brasileira.
Para o FMI, esta tendência se mantém como um fator importante para a economia nacional, até porque o Brasil não está imune à pressão inflacionária provocada pela guerra da Ucrânia no setor de combustíveis, por exemplo.
Tanto assim que o ganho com os preços das commodities em 2022 não deve significar um crescimento sustentado de médio e longo prazo. Para 2023, o FMI corrigiu sua projeção brasileira para baixo: projeta 1,4% de crescimento, contra 1,6% antevisto em janeiro, e 2% do relatório de outubro.
Já a taxa de desemprego deve variar pouco entre 2022 e 2023 e se manter em torno de 13%, prevê o FMI. No ano em que o Brasil terá uma eleição presidencial pela frente, o fundo afirma que "tanto em países emergentes quanto naqueles de economia desenvolvida, os aumentos dos preços dos alimentos e dos combustíveis podem aumentar significativamente o risco de agitação social".
Guerra na Ucrânia custou quase 1 ponto percentual de crescimento ao PIB mundial
Segundo o relatório do FMI, a guerra na Ucrânia aprofundou ainda mais riscos e incertezas em um ambiente econômico mundial que enfrenta há mais de dois anos os efeitos da epidemia de covid-19. Os recentes lockdowns na China, que interrompeu o funcionamento regular da metrópole Xangai, reacendem a preocupação sobre novos transtornos em uma economia que ainda sente os impactos das ondas anteriores do vírus nas cadeias de suprimentos globais.
A inflação, que atingiu seu ponto mais alto em 40 anos tanto nos Estados Unidos quanto em alguns países da Europa Ocidental, deve receber um novo impulso com a guerra.
Nesse cenário, avaliam os economistas do órgão, a pressão inflacionária deve se manter alta por mais tempo do que o antecipado, diminuindo ainda mais as margens de políticas monetárias para os bancos centrais de boa parte do mundo.
O fundo reduziu sua expectativa de crescimento mundial em 2022 para 3,6%, uma queda de 0,8 ponto percentual em relação à previsão do FMI em janeiro de 2022, quando a guerra na Ucrânia não havia ainda se iniciado.
Em relação aos dois países diretamente envolvidos na guerra, o fundo antevê um futuro de dificuldades. No caso da Ucrânia, em 2022, a economia deve encolher 35%, mas os economistas afirmam que o dado pode estar defasado, já que é muito difícil antever o peso que as milhares de mortes, os milhões de refugiados e a grande destruição da infraestrutura do país significarão para sua economia no curto, médio e longo prazo.
Já o PIB russo deve contrair 8,5% em 2022 e recuar 2,3% em 2023. "As restrições de comércio e as sanções financeiras - incluindo a perda de correspondentes bancários, acesso de alguns bancos ao sistema de pagamentos SWIFT, e a interdição de ativos do banco central russo - e o embargo aos gás e o petróleo russos por algumas das grandes economias terá um impacto severo na economia russa", analisa o relatório do fundo, divulgado em Washington D.C. nesta terça-feira (19/4).
O FMI nota ainda que a guerra na Ucrânia pode acelerar um processo de "desglobalização da economia", iniciado ainda durante a pandemia, o que levaria a perda de eficiência produtiva e a uma maior demora para que os países se recuperem de suas perdas causadas pelas ondas de covid-19.
O fundo salienta os impactos de movimentos como o fortalecimento do G7, o enfraquecimento do G20 e a aparente tentativa de Rússia e China de se unirem em uma espécie de bloco alternativo ao mundo ocidental rico e exercerem cada vez mais influência e pressão sobre os países emergentes. Os economistas anteveem a possibilidade de uma dinâmica disruptiva de comércio global em oposição ao que tem sido desenvolvido pelas nações nas últimas décadas".
"A guerra também aumenta o risco de uma fragmentação mais permanente da economia mundial em blocos geopolíticos com distintos padrões tecnológicos, sistemas de pagamento e moedas de reserva. Tal 'deslocamento tectônico' causaria perdas de eficiência, aumentam a volatilidade e representam um grande desafio para o quadro que tem governado as relações internacionais e econômicas nos últimos 75 anos", analisa o relatório do FMI.
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