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Estado de Minas ENTREVISTA

Presidente da CNI: 'No Brasil, falta política industrial de longo prazo'

Robson de Andrade vê eleição polarizada e apresentará agenda do setor aos candidatos


24/04/2022 04:00 - atualizado 24/04/2022 11:22

Robson Braga de Andrade presidente da CNI
'Mesmo com essa redução agora dos 20% por causa da bandeira tarifária, a gente ainda continua com um custo de energia muito elevado. Por outro lado, o Brasil é um dos poucos países que têm condições de aumentar muito a produção de energia limpa' (foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil - 30/7/19)
Depois de enfrentar dois anos de pandemia de COVID-19, a indústria brasileira vê agora a guerra provocada pela Rússia à Ucrânia reavivar uma crise que se esperava superada, com desarranjo das cadeias globais de suprimentos, inflação global pressionando custos de produção e taxas de juros em alta.

Com esse quadro, a Confederação Nacional das Indústrias (CNI) reduziu a projeção de crescimento econômico do Brasil este ano, de 1,2% previsto no fim de 2021 para 0,9% agora, com projeção de um tombo de 2% na indústria de transformação. Para o presidente da CNI, o cenário de eleição presidencial polarizada entre esquerda e direita, com pouco tempo para surgimento de um nome da terceira via, é mais um fator no cenário de dificuldades do setor.

“Com todas essas dificuldades este ano, dificilmente a gente poderia esperar um cenário melhor do que esse que está previsto. Acredito vá ter mesmo um cenário um pouco pior do que este, com um crescimento menor ainda da indústria brasileira”, afirma o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.

Mesmo com a polarização nas eleições, a CNI está elaborando um conjunto de propostas do setor para apresentar aos candidatos à Presidência da República, com prioridade para a reforma tributária e medidas para reduzir o Custo Brasil, que, segundo ele, suga R$ 1,5 trilhão da economia, e para estimular o setor.

“O problema que nós enfrentamos no Brasil é a falta de uma política industrial de longo prazo”, ressalta Robson Andrade, em entrevista ao Estado de Minas. Leia abaixo os principais trechos.

Como a indústria está vendo o cenário e expectativas em ano de eleições, com inflação alta e guerra na Ucrânia. A CNI refez as expectativas de um crescimento do PIB de 1,2% no fim de 2021 para 0,9% agora. A expectativa é que isso possa se deteriorar ainda mais ou que possa melhorar? O que a indústria brasileira espera do ano de 2022?
A gente está vivendo no mundo inteiro um momento de muita dificuldade. A gente já vinha com o sistema de produção, as cadeias globais desorganizadas por causa da pandemia da COVID-19 e aí veio essa guerra da Ucrânia, que está tendo um impacto muito grande também nas cadeias de valores e na inflação no mundo inteiro. Hoje a gente vê que a inflação é mundial, é global, e nenhum país está isento desse processo, principalmente agora por causa da guerra na Ucrânia, uma vez que a pandemia, de uma certa forma, tem um controle maior, as pessoas estão vacinadas e a vacinação está se mostrando efetiva. A indústria brasileira convive com essa situação de inflação alta, elevada, e que até nos surpreendeu nesse mês passado, com uma inflação maior do que o previsto. Por outro lado, um aumento de juros, que faz com que o consumo das famílias, das pessoas, caia bastante. E o que mais impacta, na realidade, é a incerteza que esse conjunto de problemas traz tanto para a economia quanto para a vida das pessoas. Você convive com uma situação em que as pessoas estão preocupadas com a economia, com COVID, com a guerra, até onde essa guerra vai chegar, isso faz com que haja uma redução grande no consumo e consequentemente nos investimentos.

E as eleições...
O Brasil ainda tem agora este ano uma eleição que está polarizada entre esquerda e direita e acho que a possibilidade de aparecer uma terceira via que se falava está cada vez mais distante. Nós vamos ter que discutir programas e projetos de dois extremos. Eu não estou dizendo que é extrema esquerda nem extrema direita, mas são dois projetos completamente diferentes. A indústria brasileira, que tem investido muito em tecnologia, em inovação, está procurando cada vez mais se inserir num mercado global, buscando alternativas para sua produção, para seus negócios, com todas essas dificuldades e eu acho que este ano dificilmente a gente poderia esperar um cenário melhor do que esse que está previsto. Acredito que a gente vai ter mesmo um cenário um pouco pior do que este, com um crescimento menor ainda da indústria brasileira.

''As pessoas estão preocupadas com a economia, com COVID, com a guerra, até onde essa guerra vai chegar. Isso faz com que haja uma redução grande no consumo e consequentemente nos investimentos''



O senhor acha que a polarização nas eleições pode gerar distúrbios e ameaça institucional no Brasil hoje?
Não. Não vejo não. Acho que o Brasil é um país maduro e, mesmo com as discussões que existem, é um país que tem bases sólidas na democracia, as discussões são naturais e acho que o povo brasileiro tem que entendê-las, procurar pensar nas eleições, porque agora, tanto na questão da Câmara, do Senado, governador e presidente da República, nós temos que pensar que o que decidirmos vai impactar os nossos próximos quatro anos.  Então, a gente tem que pensar bem.

Na apresentação do Seminário dos 200 anos da Independência, o senhor fez menção a demandas da indústria que pareceram as mesmas de 20 anos, do tempo do governo FHC, como reforma tributária, redução do custo Brasil. Ainda é essa a agenda da indústria? A indústria vai apresentar uma agenda aos candidatos?
A princípio parece que a agenda é a mesma, mas na realidade, nesses últimos anos, nós avançamos muito e em muitas coisas. Posso citar, por exemplo, para você a independência do Banco Central, que era uma das demandas da indústria, o Marco Regulatório do Gás, de energia, o Marco Regulatório do Saneamento, as privatizações e as concessões. Então houve um avanço e a gente tem que dar o crédito ao Congresso Nacional, porque o Congresso realmente trabalhou muito nessas agendas, por exemplo, da Reforma Trabalhista, da Reforma da Previdência, e aconteceram muitos avanços. É claro que a gente ainda continua com a questão da reforma tributária na pauta como sendo uma das questões mais urgentes que o Brasil precisa. Essa sim, vem desde a época do Fernando Henrique Cardoso (presidente do Brasil entre 1995 e 1998 e de 1999 a 2003). E nos lançamentos das agendas legislativas, desde a época do Fernando Henrique Cardoso que a gente tem recebido o compromisso do Congresso com a aprovação de uma agenda, mas ela nunca aconteceu. É claro que a reforma tributária é uma agenda difícil, não é fácil porque impacta todos os setores e ninguém quer perder, todos querem ganhar e aí não tem solução. Mas acho que avançamos muito. Hoje a PEC 110, que está no Senado,  já está muito bem assimilada por todos os setores e existe um acordo prévio.  Continuo com a expectativa de que ela possa ser votada no Senado este ano ainda, mesmo com esse processo das eleições. O presidente Rodrigo Pacheco tem dado diversas sinalizações de que essa reforma ainda vai ser analisada e votada no Senado nesta legislatura. Nós temos trabalhado e esse seria o principal avanço este ano, uma vez que entendemos que num período de junho até outubro e novembro os parlamentares estarão muito voltados para as questões das eleições e a atividade legislativa vai ser de pouco resultado. Mas estamos esperando que essa reforma seja aprovada no Senado.

E em relação ao Custo Brasil, o que ainda precisa ser feito para que a indústria possa competir globalmente. O que se precisa fazer em termos de reduzir o custo Brasil?
No início do governo Bolsonaro, no segundo ano do governo do presidente Jair Bolsonaro, a Secretaria de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia, junto com algumas associações setoriais da indústria elaboraram um estudo, com apoio de algumas consultorias, voltado para identificar alguns pontos do Custo Brasil e foram identificados aí 12 pontos principais que trazem um custo adicional de R$ 1,5 trilhão para a indústria sem que isso represente nenhum ganho para o setor público ou que traga algum benefício. Esse estudo aborda alguns itens como o problema da burocracia, o problema tributário, a insegurança jurídica... algumas questões. A partir daí, com o apoio da CNI, foi criada também uma Frente Parlamentar do Custo Brasil, conduzida pelo deputado Alexis Foteyne (Novo-SP), que tem trabalhado nesses pontos específicos que fazem com que nossos produtos, os nossos bens e os nossos serviços fiquem com um custo mais elevado sem que traga benefício para nenhum setor. Por exemplo, a burocracia tem um custo elevado para nós e não traz benefício nem para o setor público nem para o setor privado. A insegurança jurídica que nós temos na formulação de leis e de propostas e ações da Justiça que a cada momento impactam também no custo das empresas de todos os setores da economia é outro problema. Então, estamos trabalhando nesses itens do Custo Brasil e temos hoje o apoio da Frente Parlamentar para reduzir exatamente essas questões. Agora, muitas delas dependem apenas do Executivo e algumas dependem do Legislativo. Então, a gente continua trabalhando tanto com o Legislativo quanto com o Executivo pra melhorar essa questão. Acho que a gente está avançando, mas não na rapidez que o mercado exige ou que a iniciativa privada gostaria.

Tem algum ponto específico que se avançou?
A própria reforma tributária avançou um pouco. Não está conclusa ainda.

Esses avanços já se fazem sentir no dia a dia das empresas depois desses dois anos, já é perceptível do ponto de vista de resultado, de alívio?
Acho que muitas coisas avançaram, tanto na parte de crédito, na liberação de recursos que ajudaram a micro e pequena empresa, a média empresa, na parte de garantias teve muitos avanços sim e temos que reconhecer que avançamos. Também o Ministério da Economia tomou algumas decisões que foram importantes para as empresas atravessarem esse período difícil nessa parte de liberação de crédito, redução recente do IPI em 25% para todos os setores. Por exemplo, esse do IPI foi um ponto importante, ainda estamos trabalhando para que essa redução do IPI seja até mais forte e chegue a pelo menos 50% de redução no IPI

''Precisamos retomar essas premissas de ter uma política industrial e isso se faz com o Executivo e o Legislativo através de propostas que realmente possam ser implantadas no longo prazo''



Essa redução de imposto com inflação de custo alta para a indústria, até que ponto ela vai chegar ao consumidor considerando que a indústria com uma inflação alta está apertada para repassar preços, como custo de energia e de petróleo, e pode usar o imposto para recompor margem.
Primeiro, essa crise energética é uma crise global também. O mundo inteiro passa por uma crise de energia. O problema é que temos no Brasil hoje, talvez, a energia mais cara do mundo. Mesmo com essa redução agora dos 20% por causa da bandeira tarifária, a gente ainda continua com um custo de energia muito elevado. Por outro lado, o Brasil é um dos poucos países que tem uma energia limpa e tem condições de aumentar muito a produção de energia limpa, tanto na parte eólica e solar, quanto na energia verde, com o hidrogênio verde. Acontece que esses investimentos não são rápidos, quando a gente pensa em energia, os investimentos são projetados para seis anos, 10 anos e você não tem condições no setor energético de fazer investimentos de curto prazo. O mundo inteiro não tem uma solução rápida de substituição de energia fóssil por energias renováveis. O Brasil tem esse custo elevado de energia devido a carga tributária que os governos estaduais colocaram em cima da energia. Uma vez que é fácil a cobrança, todos os estados aumentaram muito a cobrança das tarifas e os impostos sobre a energia. Agora, com relação ao impacto no preço final para o consumidor, você, quando tem a redução de impostos, como foi o caso agora com o IPI, uma parte chega sim ao consumidor, eu não posso te afirmar que é a totalidade, mas o que acontece é que como nós estamos num momento de baixa demanda, exatamente pela inflação, pelas inseguranças, pelas incertezas que o mundo está nos impondo agora, e nessa baixa demanda a tendência é que você procure reduzir o preço de venda para participar de um mercado melhor e maior, então uma parte disso, a indústria faz um esforço para que chegue ao consumidor. Temos que considerar que o desejo da camada mais carente da população, pessoas de baixa renda, é de consumo de bens, não de serviços. Querem consumir casa própria, automóvel, fogão, geladeira, vestuário e calçados, são bens. Então, para participar desse mercado, vendo que os consumidores estão retraídos, a possibilidade que existe para a indústria é reduzir os preços no mercado consumidor. Claro que tem tido aumentos significativos, principalmente nos produtos voltados para alimentação. Mas esse custo advém de importações, de combustível, de energia e tem subido muito ultimamente, principalmente devido ao mercado global.

O mercado externo é sempre uma porta para a indústria colocar os seus produtos. Como a queda do dólar está afetando, porque o dólar caro mascara esse custo Brasil, essas ineficiências existentes na própria estrutura da economia brasileira? Até que ponto a queda do dólar vai afetar a exportação das indústrias?
Olha, é claro que você tem mais conforto para exportar quando tem um dólar mais elevado.  Quando você tem aí uma paridade cambial elevada, você fica mais competitivo. Por outro lado, acho que a indústria hoje, o setor industrial hoje, é responsável por 70% das exportações brasileiras, porque quando você pensa, por exemplo, no agronegócio, uma grande parte dele é da indústria. As exportações de carnes processadas, de alimentos processados, isso tudo está no bolo da indústria brasileira. Então, você tem mercados que são já bem consolidados, consumidores que são bem consolidados e independentemente do dólar você continua exportando. Nós temos uma competitividade própria, principalmente nesse setor da agroindústria, que continua a exportar bastante, independente do preço do dólar. Outros setores da economia, como minerais, o próprio petróleo também nós continuamos com uma exportação bastante elevada. As dificuldades são mais com os produtos semimanufaturados. Esses, sim, ficam com mais dificuldades por dois motivos: primeiro pela queda do dólar e segundo porque o mercado mundial também está reduzindo, está em uma fase de.. eu não digo de recessão, mas uma fase de baixo consumo. Então essa indústria manufatureira é a que mais tende a perder com o dólar baixo. Por outro lado, o dólar baixo também facilita as importações de insumos, então é tudo uma compensação, você tem a importação de certos insumos, principalmente para o setor de medicamentos, que você reduz muito o custo. Acredito que vamos continuar exportando, setores da indústria como eu te falei, o setor mineral, a agroindústria, esses setores vão continuar exportando bastante.

E o impacto da guerra?
A guerra, pelo posicionamento no mercado internacional, é realmente muito dura, não é simples. Além de ter havido uma redução no mercado internacional pela compra de produtos, os países todos estão investindo muito nas suas indústrias. Por exemplo, você vê os Estados Unidos incentivando muito a indústria local para que seja menos dependente de compras internacionais. E outros países estão tomando o mesmo rumo. A Alemanha, por exemplo, tem investido mais na sua indústria. São pontos diferentes. Por outro lado, isso está mostrando que o que é importante na economia hoje, no mundo, pelo menos nos principais países, é exatamente a industrialização, o aumento da capacidade industrial de cada um. A Alemanha quer fazer isso, a França já está fazendo, protegendo e incentivado a indústria local e os Estados Unidos já vinham e continuam fazendo, continuam investindo muito no aumento da sua capacidade industrial.

O Brasil tem condições de fazer isso? O senhor citou que a indústria de transformação perdeu participação no PIB ao longo dos anos. Alguns especialistas da USP já discutem e falam em uma desindustrialização no Brasil Como o Brasil pode fortalecer a indústria num mundo que está cada vez menos globalizado.?
Não são soluções simples nem rápidas, mas o que acontece é que o Brasil, desde a época do Fernando Henrique Cardoso, do Itamar Franco, nunca teve uma política industrial de fato e até alguns presidentes, como o próprio presidente Fernando Henrique, ele acreditava que não precisava haver uma política industrial. Ele até falava: 'Bom, se uma indústria fechar vem outra'. O que não é verdade. Então, acho que esse é o problema que nós enfrentamos no Brasil: a falta de uma política industrial de longo prazo. Nós trabalhamos muito, estamos trabalhando com todos os setores, tanto do Executivo quanto do Legislativo, sobre a necessidade de termos uma política industrial de longo prazo, uma política que permita que os investidores voltem a ter um olhar para os investimentos industriais, produtivos, sejam eles micro, pequenas e startups, que hoje estão tendo muito sucesso. Então essa política industrial é que vai fazer com que o Brasil possa realmente voltar a ter uma indústria que seja relevante e importante no mundo inteiro. Temos hoje uma indústria muito diversificada, é verdade que a gente continua no cenário mundial ainda estando aí entre as oito principais parques industriais do mundo, mas temos uma capacidade de aumentar muito isso, deixar de exportar produtos in natura para exportar produtos manufaturados. Mas dependemos dessa política industrial de longo prazo, que passa por questões como investimento em inovação e tecnologia, formação e qualificação de trabalhadores, linhas de crédito de longo prazo para investimentos compatíveis com os resultados industriais, porque na indústria as margens são muito menores às vezes do que em outros setores da economia. Então, tudo isso faz parte de um projeto que estamos discutindo, apresentando para os candidatos para que se possa fazer com que o Brasil volte a ter uma indústria importante. Precisamos retomar essas premissas de ter uma política industrial e isso se faz com o Executivo e o Legislativo através de propostas que realmente possam ser implantadas no longo prazo. Agora, por outro lado, quando a gente olha a participação da indústria no PIB no início dos anos 1990, de lá para cá houve muita mudança tecnológica que deixou de classificar determinadas atividades como industriais e passou a classificá-las como serviços industriais. Analisar simplesmente o número de que a indústria tinha uma participação no PIB de 33% e caiu para 21% não é só o fato da desindustrialização, a desindustrialização é o mais importante, mas também tem outras questões a serem levadas em conta.

Como a indústria brasileira se posiciona hoje na agenda de ponta, que dizer indústria 4.0, na transição energética ou seja, como está o setor hoje do ponto de vista de tecnologia e inovação e onde ele pode chegar?
A parte de inovação e tecnologia é uma das principais agendas da CNI, por meio da Mobilização Empresarial para Inovação, onde reunimos mais de 400 CEOs de grandes empresas inovadoras e grandes empresas que investem em inovação e tecnologia. O objetivo que temos na CNI é fazer com que a inovação e tecnologia estejam no centro do planejamento estratégico das empresas industriais brasileiras de tal forma que a empresa brasileira tenha consciência clara de que o caminho do sucesso de longo prazo tem que ser através da inovação e da tecnologia e a gente tem conseguido isso; cada vez mais as empresas estão investindo em inovação e tecnologia. Para você ter uma ideia, hoje 70% dos investimentos em inovação e tecnologia é o setor industrial privado que tem feito. Infelizmente, temos no Brasil poucos recursos governamentais para investimento em inovação e tecnologia. Até o ano passado, para você ter uma ideia, os recursos do FNDCT, que é o fundo de desenvolvimento tecnológico e científico, havia a possibilidade de contingenciamento e a partir do ano passado foi aprovado no Congresso Nacional um projeto para que esse fundo não possa mais ser contingenciado. Então, isso já vai ser um facilitador Este ano, por exemplo, vamos ter no Orçamento perto de R$ 8 bilhões para investimentos em ciência e tecnologia, enquanto em anos anteriores o valor total ficava próximo de R$ 1 bilhão. E investir em tecnologia e inovação é caro para as empresas, porque nem sempre você tem sucesso no seu processo de inovação e de mudanças tecnológicas, então precisa ter financiamentos de longo prazo, condizentes com as condições de mercado. Por outro lado, também o Senai investiu no Brasil mais de R$ 4 bilhões em institutos de inovação e institutos de tecnologia. Hoje, temos no Brasil a maior rede de institutos de inovação da América Latina. São 26 institutos de inovação e 62 institutos de tecnologia espalhados no Brasil com parcerias internacionais, as melhores que você pode imaginar, com o IMT, com o Instituto Fraunhofer, com universidades de Israel, do Reino Unido, da França. Então, acho que essa questão começa a ser sedimentada no planejamento das empresas e dos empresários de que investir em inovação não é uma opção é uma necessidade.

Hoje se fala muito em economia circular. A CNI tem alguma agenda para disseminar esse conceito pelos setores industriais?
Quem começou todo esse processo de economia circular no Brasil foi a CNI, junto com grandes empresas e começamos isso a três ou quatro anos e estamos trabalhando com muitas empresas e muitos setores específicos, desenvolvendo metodologias e processos para que a economia circular seja uma realidade em setores em que você tem mais possibilidades, como os de bebidas, alimentos, cimento. Então, em algumas áreas temos trabalhado muito com esse conceito de economia circular e está avançando muito no Brasil essa possibilidade da economia circular. Agora, estamos trabalhando muito nas empresas com a questão da sustentabilidade, de realmente a gente cumprir as metas dos acordos internacionais de redução de gases do efeito estufa, preservação de florestas, negociação no mercado de carbono, quer dizer, essa também é uma agenda nossa.

E a questão do emprego na indústria
Nós temos hoje uma dificuldade que é a questão do emprego. Muito se fala no Brasil de um nível de desemprego aí de 13 milhões, 12 milhões, 11 milhões de pessoas. O Brasil tem muitos paradoxos. Estamos pesquisando por que você não acha trabalhador, por que determinados setores que estão querendo contratar, precisando contratar, não encontram pessoas interessadas. Por exemplo, a construção civil, no Brasil inteiro, o setor está precisando contratar e não encontra pessoas interessadas. Onde está o desemprego? O setor de alimentos, eu vou te falar, por exemplo, o Mato Grosso do Sul tem dificuldade enorme para contratar pessoas para o setor de alimentos. Algumas empresas de Santa Catarina, do setor de alimentos também estão deixando de fazer investimentos, produtivos, não só da indústria, mas da área de serviços, porque não acham trabalhador, porque não encontram gente disposta a trabalhar

E por quê? Os senhores estão pesquisando e descobriram o quê?
Tenho uma teoria que não está comprovada. Mas o que acontece é o seguinte: hoje você tem o Auxílio Brasil, que dá R$ 400; muitas pessoas conseguem o auxílio Brasil e, às vezes, na mesma família duas pessoas conseguem o auxílio Brasil já vai para R$ 800. Quando você, em vez de você trabalhar, por exemplo, trabalha como diarista, com um serviço autônomo, fazendo algum serviço, então você acaba tendo uma remuneração maior do que se tiver um trabalho fixo. Essa é uma possibilidade que estamos analisando, até para informar para o governo porque eu sei que é verdade, alguns estados brasileiros, principalmente do Norte e do Nordeste, as pessoas não têm, às vezes, muita oportunidade de trabalho e dependem realmente do Auxílio Brasil para ter um mínimo de condição de sobrevivência. Mas em regiões do Sul, do Sudeste e algumas do Centro-Oeste você tem disponibilidade de emprego e não acha quem queira trabalhar. A realidade é essa. E olha, no setor agrícola tenho conversado também com muitas pessoas e você não acha a pessoa disposta a trabalhar  numa fazenda e numa produção agrícola. No Brasil se fala muito do desemprego, mas você não acha as pessoas com vontade de ter um emprego fixo porque hoje você tem muita política social que garante um resultado maior do que ter um emprego fixo.

Mas isso não é porque o salário é baixo?
Não é verdade, porque, por exemplo, no Mato Grosso do Sul, em uma indústria do Mato Grosso do Sul, o menor salário é R$ 1.600 líquidos. Se duas pessoas de uma mesma família recebem o Bolsa-família já são R$ 800 e se essas duas pessoas fazem serviços de diarista, de bico, eles vão ganhar mais. Agora um salário de R$ 1.600, R$ 1.800, você fala é baixo, mas também a indústria não tem condição de pagar um salário maior. Então, se as coisas fossem fáceis, qualquer um de nós resolveria, mas as soluções são complexas.

Tem programa de qualificação de mão de obra, como o Senai está atuando?
Temos mais de 3 milhões de pessoas por ano se qualificando no Senai no Brasil inteiro. Temos também 1,7 milhão de trabalhadores em programas do Sesi, que vão desde educação até saúde e segurança. E 85% das pessoas que vão para o Senais saem quase que com um emprego garantido, mas isso não é suficiente.

E para o futuro, o que esperar?
Temos avançado sempre,  estamos fazendo seminários para discutir os 200 anos da Independência e se olharmos para trás vemos que vai avançando. A gente gostaria de avançar mais rápido e espero que a gente não leve 200 anos para resolver nossos problemas. Independentemente dessas discussões da pandemia, temos o melhor sistema de saúde do mundo, universalizado para todos. Tirando a questão da COVID dessas análises, porque ficou muito ideológica essa questão, mas o sistema é excelente. Precisamos muito, muito ter como prioridade nossa ter investimento na educação. Temos que ter prioridade zero, porque só através de uma sociedade educada com conhecimento com formação com possibilidade de melhoria de vida, porque o importante é você ter um sistema que dê as mesmas oportunidades para todos.



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