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Estado de Minas ENTREVISTA

Presidente da CDL-BH: 'Podemos fechar com números de 2019 ou até melhores'

Marcelo de Souza e Silva considera autonomia dos lojistas e e-commerce primordiais para a recuperação dos negócios


01/05/2022 04:00 - atualizado 01/05/2022 07:59

Marcelo de Souza e Silva fala e gesticula
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

''A posição da CDL-BH foi de que poderíamos ter tratado a abertura e o fechamento de forma diferente para que não impactasse tão negativamente a atividade. Hoje, 72% do PIB de Belo Horizonte vem do comércio e serviços''

Marcelo de Souza e Silva, Presidente da CDL-BH


Fortemente impactado pela crise econômica até o ano passado, em virtude da pandemia do coronavírus, o setor de comércio e serviços de Belo Horizonte vive dias menos nebulosos e com maior esperança de repor o enorme prejuízo. Com a reabertura das lojas desde agosto de 2021, a atividade se recompôs em parte com as vendas para as festas de fim de ano e agora almeja perspectiva de crescimento. “A expectativa nossa é de que haja crescimento de 1,2% até 1,5%, mas acho que podemos chegar em torno de 2% este ano ou até mais”, ressalta o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marcelo de Souza e Silva, em entrevista ao Estado de Minas. Ele revelou que muitos comerciantes ainda vivem à mercê do endividamento na capital, mas apostam no faturamento para ter dias mais tranquilos. Na conversa com o EM, Marcelo fala sobre a polêmica em relação à abertura de lojas em feriados, o crescimento do e-commerce na capital na pandemia, o impacto da inflação nos negócios do varejo e as perspectivas para o comércio em ano de eleições.

Segundo dados da Pesquisa Mensal do Comércio varejista feita pelo IBGE em fevereiro, o setor teve um crescimento de 3,8% no volume de vendas em Minas Gerais em relação a janeiro e de 2% em comparação com fevereiro do ano passado. A atividade caminha em busca de uma recuperação, mas viveu um passado recente com muitas dificuldades. Com a abertura das atividades, quais são os desafios que o senhor enxerga daqui pra frente?
A atividade de comércio e serviços tem uma característica muito peculiar. É a primeira atividade que sofre o impacto, porque temos muitas empresas médias e pequenas. Mas também elas são as primeiras que se recuperam. É muito importante para a economia, pois são setores que empregam muitas pessoas e fazem a própria economia girar e que é interdependente de outras atividades, pois elas precisam que o comércio funcione bem também. Falamos, por exemplo, que um evento de turismo só funcionará bem se o comércio e os serviços daquele lugar também forem eficientes. É uma engrenagem toda. A expectativa em 2022 é muito boa para que o setor ajude nessa recuperação que estamos vendo, embora em patamares acanhados. Este ano, podemos fechar com números de 2019 ou até melhores, mas precisamos modernizar a forma de consolidar o mercado.  Comércio e serviços precisam do ponto físico, mas precisam da venda digital. É uma realidade. São canais de vendas diferenciados. A pandemia o trouxe mais forte, mas o digital veio para ficar. As lojas hoje negociam pelo digital, mas vendem pelo ponto físico. Há também a questão do tratamento do cliente, que não pode ser menosprezada. Essas mudanças de como você recebe o cliente, de forma diferenciada, são muito importantes e vêm se alterando agora.

Em qual período exatamente houve a mudança de rota da atividade, que possibilitou essa alavancada?
A grande vantagem foi a segurança que a vacinação trouxe para nós e a diminuição dos casos de COVID-19. A doença assustou muita gente, veio esse impacto negativo. A posição da CDL-BH foi de que poderíamos ter tratado a abertura e o fechamento de forma diferente para que não impactasse tão negativamente a atividade. Hoje, 72% do PIB de Belo Horizonte vêm do comércio e serviços e mais de 80%dos empregos da cidade vêm do setor. Poderíamos ter um diálogo maior. Passamos por esse período e veio a segurança e a necessidade de vendas melhores. O lojista teve meio de pagamentos facilitados, procurou produtos de qualidade, com preços acessíveis, e buscou aperfeiçoar o atendimento. Com isso, trouxe esse avanço das vendas e, com a nova realidade, animou o mercado.

BH anunciou a abolição das máscaras em locais fechados. Isso vai incrementar as vendas no comércio?
Certamente. Precisamos da engrenagem toda funcionando. Ainda temos restrições em estádios, shows e eventos, além da movimentação das empresas, mas essa medida dá mais segurança. Pode não ter a ver, mas o pagamento em dia do servidor público estadual aumenta o consumo em Belo Horizonte, pois são cerca de R$ 800 milhões mensais somente na capital. Antes, as pessoas não tinham segurança, mas agora planejam melhor. Já o fim da obrigatoriedade da máscara traz isso, cria um ambiente seguro e impacta nas vendas. A pessoa, para chegar na loja, precisa estar segura em todos os aspectos, da segurança feita pela polícia, da segurança de sol ou chuva e da doença. Com a vacinação, conseguimos tirar isso da nossa vida.

Os dados do Caged de fevereiro apontam mais de 7 mil empregos gerados em BH, vários deles no setor do comércio. Qual é a perspectiva de vendas e de geração de novos postos de trabalho para esse restante de 2022 com o comércio funcionando plenamente?
Sou um otimista por natureza. Vamos ter mais empregos e estamos comprovando com o surgimento de novos postos. Muita gente se tornou microempreendedor individual e esta é uma forma de empregabilidade. Muitas pessoas atingiram o sucesso. Criamos na CDL um programa para atender a essa personalidade jurídica, para dar um suporte, porque, às vezes, ele acha que é apenas um impulso, e não negócio. A expectativa nossa é de que haja crescimento de 1,2% até 1,5%, mas acho que podemos chegar em torno de 2% este ano ou até mais, conforme passarmos pela eleição em outubro ou pela guerra da Ucrânia. O pequeno comerciante sofre muito com isso.

Como a inflação atual impacta os negócios no comércio? Quais os efeitos nos custos dos lojistas e onde pesa mais?
Sofremos muito com a carga tributária. Temos até o dia livre de impostos, um projeto que fazemos há mais de 15 anos e mostramos para a população como a carga tributária afeta nas relações comerciais de cada empresa. A inflação não é diferente. Quando se tem a inflação alta, isso impacta na vida das pessoas, o que diretamente impacta na vida do consumo. A inflação alta e os juros são ruins, então estamos vivendo um momento de aumento dos preços do gás de cozinha e da gasolina, que estão impactando em toda a logística do comerciante. A venda é concretizada com a entrega e o pagamento do produto. Vimos no começo do ano a inadimplência crescendo, mas as medidas do governo federal, como a liberação do FGTS e antecipação do 13º salário, ajudaram as famílias a quitarem dívidas. O impacto é muito ruim e isso causa um pensamento negativo muito grande quando se tem um produto que custa R$ 14 e antes custava R$ 10. As pessoas tendem a falar que não vão comprar, porque tudo está muito caro. Sabemos que a inflação vem dessa questão mundial. A logística impacta muito os preços. O lockdown da China, por exemplo, vai atrasar a entrega de aparelhos de ar-condicionado que compramos para a sede da CDL. Em seguida, isso vai encarecer o produto. A dinâmica da economia traz a inflação mais alta, porque precisamos de preços justos. O lojista não consegue reter mais, senão pode quebrar seu negócio.

Diante disso, qual é o comportamento do consumidor? Os comerciantes absorveram aumentos ou repassam a alta nos preços?
É muito difícil esse repasse dos aumentos, porque ele perde a venda e não concretiza o negócio. Logo, os lojistas buscam novos fornecedores, mais próximos; os que compram no exterior, passaram a comprar no Brasil. Eles conseguem fazer também um equilíbrio das contas e cuidam muito do custo do negócio. Em um programa, atendemos mais de 2 mil associados da CDL mostrando a importância de ter o negócio na mão. Saber disso é muito importante, pois gera melhor condição quando não há domínio das coisas que eles compram. A opção é buscar novos fornecedores, com preços similares, e só assim passar um valor que não chega a ser tão impactante para o consumidor.

Em 2022, também vivemos o contexto das eleições. Como o pleito pode ajudar a levantar de vez as atividades de comércio e serviços de BH?
Temos uma prática na CDL que é sempre formatarmos políticas públicas e apresentá-las aos candidatos. Montamos e trazemos as questões que nos afligem. Percebemos em Minas Gerais uma mudança qualitativa das tratativas de que precisamos ter um ambiente de negócios sempre favorável. Estamos com crescimento no estado e precisamos que isso permaneça para que não tenhamos um retrocesso. E também em nível nacional precisamos ajustar as coisas. Não é fácil, pois o Brasil é um país grande, com culturas diferentes. A disputa é forte e legítima. Não podemos retroagir em alguns pontos em que avançamos, como educação, segurança, a organização financeira, a simplificação para quem quer empreender. Não podemos deixar de participar. Vimos poucas pessoas participando na França e não queremos que isso ocorra no Brasil. A CDL vai estar sempre querendo trabalhar com os governos, melhorando o ambiente de negócios e da vida das pessoas. O comércio não funciona bem se você não tem uma cidade, estado e país em boas condições. As pessoas também precisam viver bem, com rendas que atinjam suas necessidades.

Recentemente, vivemos um impasse gerado com os comerciantes na abertura das lojas nos feriados. Como o senhor  viu essa situação? Haveria soluções emergenciais?
O que sempre defendemos é o comércio livre, poder abrir sua loja ou não conforme sua vontade ou acontecimento pontual. Temos a Feira Hippie, na Afonso Pensa, por exemplo. Por que o comércio não pode abrir no entorno e aproveitar o fluxo de pessoas ali? Batalhamos por isso, o funcionamento livre. Os sindicatos dos empregados e lojistas sempre tratam desse assunto, mas o que cabe à CDL é a interpretação do acordo que foi feito. Conforme a legislação federal e as portarias do Ministério do Trabalho, interpretamos que em certos feriados os lojistas podem abrir. Mas não temos o poder de falar quem vai abrir ou não. Apenas damos o suporte jurídico para o lojista decidir da melhor forma. Numa cidade como BH, não podemos ficar criando essa questão de fechamento. Vamos tirar as pessoas daqui e levar para outros lugares e elas farão o consumo lá.

Já houve entendimento com o Sindilojas, o Sindicato do Comércio Lojista de BH, nessa questão?
Não. O Sindilojas tem seu entendimento e temos outro. O que tentamos fazer é buscar no Ministério do Trabalho qual seria a melhor posição para que os lojistas tenham segurança para abrir seus estabelecimentos. O que estamos prontos é para unir forças com o Sindilojas e acabar com isso, resguardando os direitos trabalhistas dos funcionários. Tem muitos funcionários que querem trabalhar, pois são datas boas de vendas e eles vão receber mais. Temos de ter entendimento para dar a segurança.


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