A recuperação de vários setores da economia em todo o estado abre novas vagas de emprego. Os últimos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), do fim de março, divulgados pelo Ministério do Trabalho e Previdência, sinalizavam o surgimento de mais de 36 mil postos de trabalho com carteira assinada espalhados por Minas Gerais. Há setores em alta no recrutamento de profissionais com diferentes qualificações, apesar de o estado ainda ter 1 milhão de desempregados. O Estado de Minas mostra os setores que estão contratando, as áreas onde há mais vagas e as regiões de Minas em que há mais oportunidades de trabalho.
A indústria continua sendo a líder na geração de empregos, com saldo de mais de 8 mil postos nas várias regiões do estado, de acordo com o Novo Caged. Para trabalhar no setor, a predominância é para pessoas de 18 a 24 anos, embora a atividade empregue até 49 anos, com exigência do ensino médio completo. Em seguida, vêm os profissionais de ciências e artes, com mais de 6,2 mil postos, para pessoas de 30 a 39 anos e ensino superior. O setor de serviços voltou a contratar em abundância e saldo de mais de 5,6 mil vagas.
“Minas Gerais hoje incorpora todas as formas de trabalho e engajamento produtivo e está no mesmo compasso nacional. Tivemos um mercado que trava a partir do primeiro trimestre de 2015 até meados de 2017, quando houve aprovação da nova legislação trabalhista. A partir daí, houve crescimento do desemprego até a pandemia. Mas hoje constatamos que houve recuperação em relação ao que houve na pandemia, com condições melhores ao final de 2019, porém com condições ocupacionais diferentes de 2014”, ressalta Lúcia Garcia, coordenadora da pesquisa de emprego e desemprego do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese).
Os últimos levantamentos da Pesquisa Pnad Contínua, do IBGE, já mostraram queda na desocupação em Minas Gerais, mais um alento para aqueles sem trabalho. Em seu menor patamar desde 2015, a taxa de desocupação no estado no trimestre encerrado em fevereiro foi de 9,4%, totalizando 1,07 milhão de pessoas sem trabalho. A desocupação apresentou queda de 0,7 pontos percentuais no comparativo com o trimestre anterior e tem relação com o número elevado de contratações no período de fim de ano.
Referência para o recrutamento de profissionais com qualificação reduzida, o Sistema Nacional de Emprego (Sine-MG) lista mais de 7,4 mil vagas de empregos existentes em Minas Gerais. As regiões do Triângulo e do Alto Paranaíba são as que mais empregam, com 80% das vagas direcionadas ao setor industrial, à construção civil e aos serviços. Na Grande BH, mais de 2,6 mil oportunidades são oferecidas para as mesmas áreas, com salários a partir de R$ 1,2 mil.
Numa rotina que vem ocorrendo desde 2017, os novos empregos remuneram cada vez menos. “O nível ocupacional está crescendo acima do engajamento de pessoas novas no mercado de trabalho em todos os segmentos, como indústria, agronegócios, comércio e serviços. Temos uma recuperação que cresce muito na informalidade, mas também percebemos avanços no mercado formal, que é mais devagar e intenso. Isso faz com que a segurança institucional e o rendimento dos trabalhadores sejam puxados para baixo”, afirma Lúcia Garcia.
Dificuldades
Morador do bairro Alto Vera Cruz, Alcides Pereira de Souza, de 59 anos, está na busca por novo emprego meses após ser demitido na pandemia. “Sempre trabalhei na área comercial, em livrarias e lojas de móveis e roupas e como instrutor em oficinas. Temos muitas dificuldades, até porque vivemos na periferia, onde já não há tantas oportunidades. Há muitas pessoas desempregadas aqui no Alto Vera Cruz, no Granja de Freitas e no Taquaril. Com a pandemia, tudo se agravou”, ressalta.
A idade, segundo ele, é um fator que adia a reinserção ao mercado de trabalho: “As empresas hoje procuram pessoas de 30 a 35 anos para trabalhar. Por isso, a idade se torna empecilho. Além disso, como moramos num lugar distante, muitas empresas não querem pagar transporte até o trabalho, porque isso implicaria novos custos”.
Nesse cenário difícil, as empresas de recrutamento pedem que os trabalhadores se qualifiquem ao máximo para obter melhores salários no futuro. Insatisfeito com a atual condição, o atendente de restaurantes Cláudio Júnior Pereira, de 24, vem se esforçando para ter um novo trabalho no futuro: “Trabalho há cinco anos nessa área. O que melhorou para a gente é o pedido pela internet, que aumentou o faturamento da empresa e nossos ganhos. Mas estou estudando para fazer cursos, concursos e faculdade. Esse trabalho é só mesmo para alavancar algo melhor”.
Nesse sentido, áreas como tecnologia, logística e o agronegócio despertam como potenciais geradoras de emprego ainda em 2022. Nessas áreas com remunerações maiores, certamente serão exigidas competências técnicas, no que diz à formação, e comportamentais, relacionadas ao perfil profissional. “Vemos uma alta exigência, não só de curso superior, mas uma pós-graduação ou MBA. Quando falamos de cargos de gestão, essas exigências ficam cada vez mais complexas. Essas formações e especializações são muito importantes. Quando falamos de multinacionais de fora, para esses profissionais no contexto de nível superior, o inglês é muito importante”, explica Fabiana Klauss, gerente comercial do Grupo Selpe, empresa que atua na seleção de profissionais para empresas da iniciativa privada.
“Na parte comportamental, vemos competências emocionais hoje sendo muito exigidas, como a inteligência emocional, flexibilidade, estabilidade, resiliência para lidar com cenários de adversidades e competição corporativa. Para cargos estratégicos, essa visão de negócios tem sido requisitada. O cenário de emprego vem mudando e as empresas estão exigindo cada vez mais”, acrescenta.
Idade
Para o público acima de 50 anos, o caminho torna-se mais árduo. Lúcia Garcia, coordenadora do Dieese, diz que as oportunidades ainda são mínimas, o que exige mais criatividade: “As pessoas com mais de 50 anos que tiveram uma trajetória voltada para ocupações de nível superior e maior contribuição à elevação da prestação de serviços e que não atingiram a aposentadoria estão voltando ao mercado na condição de consultores ou terceirizados no segmento público. Além disso, aqueles que vêm numa linha de trabalho mais difícil têm uma tendência de viver na informalidade, na condição de sobrevivência, pois poucos postos têm sido gerados para essa faixa etária”.