Brasília – A Petrobras anunciou ontem reajuste de 8,86% no preço do diesel para as distribuidoras de combustíveis. Na prática, o combustível passa de R$ 4,51 por litro para R$ 4,91, elevação de R$ 0,40. Segundo a estatal, o preço do diesel não era reajustado há 60 dias e o novo valor já passa a valer hoje. “Desde aquela data, a Petrobras manteve os seus preços de diesel e gasolina inalterados e reduziu os preços de GLP, observando a dinâmica de mercado de cada produto”, afirmou a empresa em nota. Os preços da gasolina e do gás liquefeito de petróleo (GLP) foram mantidos. Além do impacto previsível do novo reajuste na inflação e no custo de vida da população, a nova alta causou reação imediata dos sindicatos dos tanqueiros, que já falam em paralisação, e das empresas de transporte coletivo de Belo Horizonte, que pediram reunião emergencial com a prefeitura da capital para discutir compensação para o setor como consequência da majoração.
A empresa justifica o aumento informando que o balanço global de diesel está sendo impactado, nesse momento, por uma redução da oferta frente à demanda. “Os estoques globais estão reduzidos e abaixo das mínimas sazonais dos últimos cinco anos nas principais regiões supridoras. Esse desequilíbrio resultou na elevação dos preços de diesel no mundo inteiro, com a valorização deste combustível muito acima da valorização do petróleo. A diferença entre o preço do diesel e o preço do petróleo nunca esteve tão alta”, diz a empresa em nota divulgada à imprensa.
A Petrobras informa ainda que suas refinarias estão operando próximo ao nível máximo e que o refino nacional não tem capacidade de atender a toda a demanda do país. “Dessa forma, cerca de 30% do consumo brasileiro de diesel é atendido por outros refinadores ou importadores. Isso significa que o equilíbrio de preços com o mercado é condição necessária para o adequado suprimento de toda a demanda, de forma natural, por muitos fornecedores que asseguram o abastecimento adequado”, explica a Petrobras na nota.
REAÇÃO O aumento de 8,86% no preço do diesel para as distribuidoras surpreendeu transportadores de combustíveis de Minas Gerais. O impacto pode levar a uma alta de 20% dos custos operacionais e, de acordo com o presidente do sindicato, há possibilidade de uma greve dos tanqueiros contra o aumento. O efeito do aumento do diesel é em cascata, com impacto em diversos gastos do transporte rodoviário. Por isso, um aumento de cerca da 20% dos atuais custos operacionais já é esperado, que deve repassado ao consumidor.
“A categoria está reclamando muito”, afirmou Irani Gomes, presidente do Sindtanque-MG. A notícia chegou como surpresa. “A gente não acreditava que a Petrobras poderia trazer esse aumento neste momento”, concluiu, tendo em vista a alta da inflação e o agravamento que se pode esperar dela após a alta do combustível. O sindicato das transportadoras marcou reunião para esta semana, que deverá ocorrer até sexta-feira, para discutir, entre outras pautas, a possibilidade de uma greve.
O último reajuste do preço do combustível ocorreu há 60 dias. No anúncio de hoje, a gasolina e o GLP tiveram seus preços mantidos. A Petrobras afirma que a alta é motivada pelo aumento da demanda global do diesel acima da oferta, com uma valorização maior que a do petróleo.
O CEO da Patrus Transportes, Marcelo Patrus, com sede em Contagem, na Grande BH, e com 85 unidades no país, também comentou o reajuste. “Em décadas de atuação nesse segmento, nunca vivenciamos uma situação de tamanha volatilidade e instabilidade no preço dos combustíveis. Um cenário que fragiliza sobremaneira a operação. Os reajustes tornam-se imprescindíveis para a manutenção da viabilidade dos negócios”, disse.
“O combustível é um dos itens na composição do preço da nossa operação. Não é o único. Vamos fazer um reajuste que não inviabilize o negócio. Não fazemos uma transferência automática. O impacto no setor é generalizado, trazendo uma imprevisibilidade imensa para o nosso segmento”, completou.
* Estagiário sob supervisão do subeditor Paulo Nogueira
Empresas de ônibus querem compensação
Após o anúncio da alta de 8,86% no preço do diesel a partir de hoje, o Setra-BH, sindicato que representa as empresas de transporte coletivo da capital mineira, informou que solicitou reunião com a Prefeitura de Belo Horizonte para discutir o impacto do aumento do combustível no funcionamento do transporte urbano. Segundo o sindicato patronal, a empresa terá suas operações inviabilizadas se não houver compensação. Linhas podem ser paralisadas fora dos horários de pico.
A entidade alega que “a situação é de extrema gravidade, principalmente em um contrato desequilibrado, com tarifas congeladas desde 2018, com inflação descontrolada, aumento de custos absurdos, queda no quantitativo de passageiros transportados e com receitas financeiras geradas pelo sistema muito abaixo dos custos de operação”. Os gastos com óleo diesel são o maior custo operacional da empresa, chegando a 35% do total. Em entrevista, o sindicato afirma que é possível chegarmos à situação de Teresina, no Piauí, onde os ônibus pararam de rodar.
A sinalização de que um aumento do diesel levaria a um caos no transporte público de todo o país já havia sido feita pela Associação Nacional de Transportes Urbanos (NTU) na sexta-feira passada. Na ocasião, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) afirmou que operava em colapso, e que tal aumento seria catastrófico.
Na quinta-feira passada, houve reunião entre a prefeitura e parlamentares, quando foi proposto um subsídio de R$ 163 milhões para as empresas de transporte urbano até o fim do ano. Seriam R$ 13 milhões por mês. Mas não há consenso em torno da proposta. O debate foi acalorado entre prefeito e parlamentares, e a minuta do decreto que será enviado para a Câmara Municipal não foi aprovada. A reunião será retomada hoje. A contrapartida para o subsídio é que as empresas se comprometam com uma série de requisitos, como a manutenção da frota de ônibus em operação.