O empresário Rick Schirmer diz que ele e a família "se sentem mais seguros" viajando de jatinho particular.
"Um voo particular significa que nossa família é capaz de evitar a experiência da segurança do aeroporto, as aglomerações do aeroporto, comportamentos agressivos em voos e estar cercada por pessoas que muitas vezes não usam máscaras adequadamente", diz o executivo de marketing de Los Angeles.
Embora a grande maioria de nós nunca tenha estado em um jatinho particular, é fácil entender seu apelo.
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É um mundo luxuoso e exclusivo em que você pode evitar grandes aeroportos e outros passageiros. E não tem aquela correria para não perder o horário do check-in — a aeronave decola quando você estiver pronto, e não o contrário.
Além disso, em muitos casos, você nem precisa entrar no terminal. A limusine segue para a pista, até a porta da aeronave. Lá, um membro sorridente da tripulação te entrega uma taça de champanhe, enquanto você relaxa em uma poltrona de couro macio.
A outra vantagem recente dos aviões particulares — que você normalmente freta como um táxi aéreo bem caro, em vez de comprar o seu próprio — é que eles continuaram voando durante a pandemia de covid-19.
Então, quando as companhias aéreas suspenderam os serviços nos últimos dois anos, os super-ricos e os líderes empresariais ainda foram capazes de viajar, seguros de que continuariam dentro de suas próprias bolhas em meio à pandemia de covid-19.
Como resultado, o uso de aviões particulares aumentou, sobretudo em 2021. No ano passado, foram contabilizados 3,3 milhões de voos deste tipo ao redor do mundo — o maior número já registrado, segundo a empresa de pesquisa de dados de aviação Wingx.
Uma quantidade 7% maior do que a alta anterior observada em 2019, com os EUA e a Europa liderando o crescimento.
Mas à medida que o mundo deixa a pandemia para trás, será que o uso de aviões particulares vai diminuir? E será que seu uso deve ser justificado, dado seu significativo impacto ambiental?
"Mais gente está procurando soluções de viagem que ofereçam uma experiência controlada e flexível, que não pode ser fornecida por um voo comercial", diz Ian Moore, diretor comercial da empresa de aviões particulares VistaJet.
A companhia global, com sede em Malta, tem 73 aeronaves — e, de acordo com Moore, a demanda dos clientes aumentou 26% no ano passado na Europa e 21% no resto do mundo.
Ele acrescenta que 71% das solicitações recebidas pela empresa são de passageiros que antes não eram usuários regulares da aviação privada.
"E esperamos que o aumento do número de passageiros de voos particulares de primeira viagem continue crescendo em 2022 e em diante".
O cenário é semelhante na Jettly, uma nova plataforma de reservas online para aviões particulares, que está recebendo 15 mil solicitações do mundo todo.
Ao mesmo tempo, as empresas irmãs Jet It e JetClub afirmam que estão com dificuldade de obter aeronaves novas suficientes para atender à demanda.
"Precisamos de mais aviões, mas nossos parceiros OEM [sigla em inglês para fabricante de equipamento original] não são capazes de produzir o suficiente", diz o cofundador das duas marcas e executivo-chefe da JetClub, Vishal Hiremath.
Uma questão que pode começar a diminuir a demanda por aviões particulares é o aumento do preço dos combustíveis — com o repasse aos passageiros do grande aumento no custo do combustível de aviação como resultado do conflito contínuo na Ucrânia.
O combustível de aviação está atualmente mais que o dobro do preço do ano passado.
"Infelizmente, ainda não sabemos o quão alto [os preços] vão subir, mas acreditamos que será bastante impactante no mercado", diz Justin Crabbe, executivo-chefe da Jettly.
Mas, ao mesmo tempo, jatinhos particulares nunca foram baratos. E, na maior parte das vezes, os usuários podem colocá-los nas despesas da empresa, em vez de pagar do próprio bolso.
Quanto custa exatamente hoje fretar um jato particular é um pouco como perguntar 'quão longo é um pedaço de corda?'. Mas, para dar um exemplo, se você quisesse que um jato particular levasse seis pessoas de Londres a Ibiza no final deste mês, isso custaria cerca de US$ 28 mil (ida e volta).
O analista do setor de aviação, John Grant, da Midas Aviation, acredita que algumas pessoas que começaram a usar aviões particulares nos últimos dois anos continuem a fazer isso.
"A crescente variedade de voos programados e as tarifas ultracompetitivas oferecidas por muitas companhias aéreas vão acabar levando os viajantes a aceitar relutantemente um serviço programado, por um preço mais barato e menos flexibilidade", diz ele.
"No entanto, uma pequena proporção daqueles que usaram jatos particulares nos últimos dois anos pela primeira vez vão considerar que o valor dos benefícios é suficiente e continuarão a usar esses operadores sempre que possível".
Para tornar o mundo dos aviões particulares mais acessível para nós, meros mortais, vários fornecedores agora oferecem um meio termo, os "jatos semiprivados".
Este serviço utiliza aeronaves particulares de maior porte (os jatinhos geralmente acomodam entre seis e 20 pessoas), mas você precisa compartilhar com outros passageiros que não conhece. E apenas um número limitado de destinos são oferecidos.
Um destes fornecedores é a empresa americana JSX. Seu porta-voz, Benjamin Kaufman, diz que a companhia "viu uma lacuna no mercado de empresas aéreas" e que as tarifas começam a partir de apenas US$ 199, cada perna.
Ele acrescenta que a companhia "oferece aos viajantes muitas das vantagens dos voos particulares, com uma economia significativa".
Mas e o impacto ambiental dos jatinhos particulares? Eles são de cinco a 14 vezes mais poluentes do que as companhias aéreas comerciais por passageiro, de acordo com o grupo Transport & Environment, que faz campanha por meios de transporte limpos.
A indústria de jatinhos particulares argumenta que incentiva os passageiros a compensarem o carbono, e algumas empresas também estão migrando para o uso de biocombustíveis e explorando aeronaves elétricas, movidas a hidrogênio e híbridas.
Moore, da VistaJet, diz que sua empresa está comprometida a alcançar a neutralidade de carbono até 2025.
"E hoje, desde que lançamos nossa iniciativa de sustentabilidade, mais de 85% dos membros compensaram as emissões de CO2 relativas ao consumo de combustível de seus voos".
Mas Anna Hughes, diretora da Flight Free UK, não está convencida disso. Sua organização incentiva as pessoas a se comprometerem a não usar transporte aéreo por um ano.
"Em um momento em que precisamos fazer todo o possível para reduzir as emissões, temos que questionar se os jatos particulares são um meio de transporte adequado", diz ela.
"Nenhum esquema de compensação é capaz de compensar as enormes emissões de um voo particular. As árvores levam muito tempo para crescer, mas as emissões dos voos são imediatas. A maneira mais confiável de reduzir as emissões dos voos continua sendo a mais simples — voar menos."
"Ser capaz de voar em um jato particular é um grande privilégio e, à medida que a humanidade enfrenta a crise climática, devemos usar nosso privilégio para não prejudicar os outros".
Reportagem adicional de Will Smale.
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