"O custo de produção está caro em função de os preços das commodities que impactam diretamente no valor da arroba do boi estarem altos. O dólar também está valorizado. Por isso, a conta não fecha. O pecuarista tem dificuldade de reduzir o preço da carne", afirmou o produtor rural Sérgio Andrade, que ao lado da filha Juliana do Vale Andrade, foi entrevistado ontem no programa CB.Poder, parceria entre o Correio e a TV Brasília.
Sérgio Andrade explicou ainda que o conflito entre Rússia e Ucrânia afeta a pecuária brasileira. "A Rússia é uma grande exportadora de adubo, que estamos com dificuldade para adquirir. E são países consumidores e que estão com problemas de recebimento de recursos", afirmou. "A Rússia é um país que temos que ter relações porque é um grande consumidor de carne."
Ele destacou o papel da China para o Brasil: "A China é importante para o mundo todo, mas, pro Brasil, em especial, é nosso maior mercado. Então, qualquer movimento que o país faça, de parar uma importação ou compra repercute fortemente".
Queda no consumo
Os altos preços têm provocado a queda do consumo de carne no país. Entre 2006 e 2022, a queda foi de 40%, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Para o pecuarista, "o consumo está relacionado ao poder de compra do cidadão. O Brasil é o terceiro maior consumidor de carne do mundo, então, se recuperarmos poder de compra, vamos consumir mais", disse.
Ele afirmou, porém, que acredita que o consumo vai se recuperar. "A economia tem dado sinais de voltar a normalidade, acredito que o consumo tende a crescer."
Andrade disse ainda que a pecuária, mesmo decidindo investir em melhoramento genético há três décadas, ainda tem certo atraso tecnológico em relação à agricultura. "A pecuária não evoluiu na mesma velocidade. Acredito que o Brasil melhorando um pouco, caminhando para a tecnologia, vamos ser um país melhor e mais pujante na área da pecuária", afirmou.
O tema também foi abordado por Juliana. Ela contou que mesmo após concluir um mestrado, abandonou a arquitetura e foi ajudar o pai a cuidar da fazenda. "No começo, não foi fácil. Existe muita resistência masculina a aceitar a presença de uma mulher. Mas a confiança vai sendo gerada no dia a dia", disse.
Quando entrou nos negócios, Juliana decidiu investir em tecnologia. "Busquei um consultor técnico para fazer um mapeamento de onde tínhamos que ser mais eficientes na fazenda. Foi feito um planejamento de como seria a propriedade daqui a 10 anos. Isso ajudou a gente a crescer", relatou.
Hoje, a fazenda conta com diversos sistemas que contribuem para uma administração mais eficiente. "Daqui de Brasília conseguimos monitorar a propriedade. Também temos outro programa em que a gente tem todos os índices, lançamos todas as informações sobre cada animal", declarou a produtora rural.
*Estagiária sob a supervisão de Odail Figueiredo