O preço da gasolina passou por mais um reajuste no Brasil. Desde sábado (18), os postos de combustível já repassam aos consumidores o aumento de 5,18% anunciado pela Petrobras para as distribuidoras. Com isso, motoristas recorrem aos cálculos para avaliar se vale a pena escolher o etanol na hora de abastecer os veículos. Em Belo Horizonte, quem tem um automóvel flex já opta pelo derivado da cana de açúcar neste domingo (19/6).
Para descobrir se o etanol está valendo a pena financeiramente, a conta básica a fazer é dividir o valor do litro do biocombustível pelo preço cobrado pela gasolina. Se o resultado for menor que 0,7, vale a pena optar pelo álcool.
O cálculo leva em consideração o fato de o etanol ter média de consumo maior que a gasolina, ou seja, o motor precisa consumir mais combustível para obter um rendimento semelhante. Vale ressaltar, porém, que a conta serve para definir um parâmetro geral. Cada veículo tem características específicas que podem interferir nessa relação e pesar financeiramente para um dos lados.
Em vários postos de Belo Horizonte, a conta está pendendo para o lado do etanol. Em um posto do Bairro Serrano, Região da Pampulha, quem fez os cálculos encontrou 0,64 como valor final. Resultado: as bombas de álcool trabalham sem parar.
Guilherme Teixeira é um dos que fizeram a troca pelo etanol. Pessimista sobre o preço dos derivados do petróleo nos próximos meses, o condutor socorrista já se adapta ao consumo do biocombustível no carro, já que a gasolina está fora de cogitação.
“O preço da gasolina está um absurdo, não sei onde vamos parar. A tendência é continuar aumentando, eu espero o pior. Meus dois últimos carros foram flex. Eu sempre usava gasolina e, quando apertava, eu enchia o tanque meio a meio, mas agora nem isso está viável, tem que ser só o álcool mesmo”, conta.
O biólogo Sérgio Malaquias também respondeu “etanol” à pergunta do frentista na manhã deste domingo. Além da mudança no tipo de combustível, ele alterou as quantidades e mudou até de comportamento, deixando o carro mais tempo em casa.
“Hoje em dia é difícil abastecer com muito combustível e quando você abastece muito, tem a sensação de que o tanque está cheio e dá pra andar bastante. Eu prefiro colocar menos combustível e diminuir o tempo de rodagem”, explica.
Como fazer a conta
Usando os valores registrados no posto registrado na reportagem é possível estabelecer exemplos de quando vale a pena optar pelo etanol.
Exemplo 1: compensa usar etanol
- Etanol: R$ 4,86
- Gasolina: R$ 7,55
- Resultado da divisão: 0,64
Exemplo 2: compensa usar gasolina
- Etanol: R$ 5,37
- Gasolina: R$ 7,55
- Resultado da divisão: 0,71
Peso dobrado no orçamento
Quem ganha a vida rodando pela cidade precisa de ainda mais rigor nas contas e comparações entre os combustíveis. Com preços variando mês a mês, motoristas profissionais viram o peso deste elemento essencial para o trabalho ficar cada vez maior no orçamento.
Marcelo Remido é motorista de aplicativo e já optava pelo etanol mesmo antes do último aumento da gasolina. “Sempre vou álcool, para mim é mais viável e agora, com a gasolina aumentando de novo, não tem nem comparação. Para falar a verdade, valer a pena, nenhum dos dois vale ainda. Mas não tem para onde correr”.
Com o consumo elevado por conta do trabalho, Marcelo conta que, em dois anos, seus gastos com combustível dobraram. A renda, no entanto, não acompanha a escalada dos preços nos postos.
“Hoje eu gasto, em média, R$ 4.200 de combustível por mês. Antes da pandemia eram R$ 2.100 no máximo. O ganho pelo aplicativo não acompanhou esse aumento, o preço está mais caro (sic) para os passageiros, mas não para os motoristas”, comenta.
Escolha pelo rendimento
Há quem mantenha a opção pela gasolina pela autonomia do automóvel. É o caso do vendedor Luis Eduardo. Ele conta que, quando vê o preço do etanol, pensa em fazer a troca, mas acredita que o carro perderia muito em rendimento se ele desistisse da gasolina.
“Prefiro o etanol pelo preço, mas a gasolina, pelo rendimento. Graças a Deus eu não rodo muito, é casa-serviço, serviço-casa, mas ainda assim o impacto é grande demais. Eu gasto dois tanques por mês, dá uns R$ 900, salgado demais. Eu tenho carro por necessidade, se não eu não tinha não. Pagar gasolina, óleo, pneu, IPVA e seguro… preferia estar a pé. Se a gente tivesse um transporte público que atendesse, seria muito melhor.
Crise? Que crise?
O empresário do ramo da moda, Adriano Stefano, ainda não precisou mudar de combustível. Em uma BMW azul, ele conta que o orçamento ainda permite manter o abastecimento com gasolina.
“Eu nem sei o preço da gasolina, graças a Deus. Se a gente tem um carro desse e se preocupa com gasolina, não tem jeito. Tá dentro do meu orçamento ainda, nunca coloquei álcool na minha vida. É minha quinta BMW, sempre abasteci com gasolina mesmo sendo total flex”, disse.