A cada novo aumento no preço dos combustíveis, colecionadores de carros antigos se preparam para separar um espaço maior no orçamento para conseguir manter o hobby. Neste domingo (19/6), dezenas de apaixonados por automóveis se reuniram no estacionamento de um shopping em Contagem, na Grande BH, e o reajuste da gasolina anunciado pela Petrobras na sexta-feira (17) foi um dos assuntos que movimentou o encontro.
Em comemoração antecipada pelo Dia Mundial do Fusca (22/06), Anderson Alencar, conhecido como “Black”, tirou seu Volkswagen da garagem para participar da reunião. O carro, que só anda a gasolina, está custando cada vez mais caro para o ferrador de cavalos de 47 anos.
“É um carro que uso casualmente, para encontros e um evento ou outro, mas no dia a dia eu não rodo nele. Com o aumento de combustível, tudo acaba aumentando, tem um vínculo. A manutenção de carros antigos tem que ser melhor até do que a dos carros do dia a dia porque como são pouco usados, as peças se desgastam mesmo estando paradas. Não tem como correr, o fusca aqui é carburado, e a gente fica refém do combustível, a gasolina só aumenta, é uma loucura, cada semana vem um valor”, disse.
Nos últimos 12 meses, a gasolina teve um aumento superior a 25%, acima da inflação, nos postos mineiros. De forma geral, todos os derivados do petróleo ficaram mais caros no último ano, com variações superiores ao acumulado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do mesmo período.
Manutenção mais cara
A escalada de preços significa um hobby mais caro para os colecionadores de carros. Rodrigo Cunha trabalha com restauração de automóveis desde a adolescência e explica que não está mais caro apenas para dar uma volta com as máquinas antigas, mas também para mantê-las.
“A gente que trabalha com a restauração está vendo o preço dos insumos subir demais também, o valor da tinta, do óleo, das peças acompanha o preço do combustível. O consumo é o mesmo quando a gente vem ao encontro, mas se antes a gente gastava 100 reais de combustível há cinco anos, você não anda nem metade hoje”, avalia.
Prisco Eduardo trabalha com a parte mecânica de carros antigos e também percebe um aumento generalizado nos valores gastos para trabalhar com o setor. A bordo de um Gurgel 1987, ele reclama do preço da gasolina.
“Eu uso o carro durante o dia a dia, não tem o que fazer, tenho que pôr gasolina. O povo brasileiro não aguenta mais, o preço só está aumentando. Quem gosta de carro antigo quer um trabalho bem feito, mas fica caro. Material aumentou muito, o pessoal quer ter um hobby, mas não consegue”, comenta.
Impacto no preço final
Parte do charme do negócio da florista Daniela Bicalho está no transporte utilizado para carregar plantas e flores para eventos dentro e fora do estado. Em uma Kombi 1997, ela circula entre compra e venda de mercadorias e o valor da gasolina acaba impactando diretamente na atividade.
“Eu vou aos fornecedores buscar plantas, muitas vezes fora da cidade, vou a Holambra (SP), a Tiradentes, faço entregas em domicílio e participo de eventos. Essa semana já fui a Tiradentes, São João del-Rei, fui a um evento no Belvedere e hoje estou aqui em Contagem”, conta.
Só nesta semana, Daniela já gastou dois tanques de gasolina para trabalhar. O preço da gasolina obrigou a florista a colocar na balança a margem de lucro do negócio e o repasse dos custos para os clientes. Para manter o negócio funcionando, ela foi obrigada a cortar do próprio bolso.
“A gasolina mais cara afetou em tudo. O produto já teve cerca de 400% de aumento nos últimos seis meses, muito em função da logística e acaba que eu não consigo repassar isso para o cliente, fica inviável, então eu absorvo. Estou com uma rentabilidade menor por conta da logística. Eu também não consigo me planejar a longo prazo, este ano é um ano de eleição, está todo mundo com uma incerteza em relação o que vai acontecer. Então vamos vivendo semana por semana”, conclui.