Fortemente afetado pelas restrições impostas pela pandemia do coronavírus, o setor de turismo obteve sua maior participação em Minas Gerais no período antes da doença. Dados divulgados nesta segunda-feira (20/6) pela Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult) por meio do Observatório do Turismo de Minas Gerais e pela Fundação João Pinheiro (FJP) mostraram que a atividade movimentou R$ 22,3 bilhões em 2019, 3,9% do total do PIB do estado no ano.
A metodologia de cálculo do PIB foi realizada a partir da revisão das atividades características do turismo constantes em um estudo contratado pela Secult em 2009.
O total arrecadado pelo turismo corresponde a um aumento de 16,9% em relação ao ano anterior. O crescimento do turismo foi superior ao próprio PIB estadual, que registrou alta de 6,1% no comparativo entre 2018 e 2019 – a totalidade de riquezas produzidas no estado foi de R$ 538,8 bilhões em 2018 e de R$ R$ 571,5 bilhões no ano seguinte.
Os números de 2019 tiveram melhores resultados que em 2014, ano que o Brasil sediou a Copa do Mundo e que até então apresentava, proporcionalmente, as estatísticas mais favoráveis na participação do turismo – a atividade representava 3,7% de todo o PIB e movimentou R$ 16,8 bilhões na economia.
Na comparação entre 2010 e 2019, a participação do turismo estadual passou de R$ 10,8 bilhões para R$ 22,3 bilhões, enquanto o PIB total de Minas Gerais passou de R$ 305,2 bilhões para R$ 571,5 bilhões.
“O turismo se destacou em meio a um ano ruim em vários setores. O ano de 2019 foi um ano ruim para nossa indústria, com queda de 6,8% em termos de volume. Foi um ano que houve colapso em nossa produção mineral devido ao rompimento da barragem de Brumadinho. Nossa agropecuária também teve queda e um ano ruim, com retração de 3,6%. O ano em baixa na produtividade no ciclo anual do café e na produção florestal”, avalia o pesquisador da Fundação João Pinheiro, Thiago Almeida.
“Por outro lado, as atividades de serviço, no qual se equandram os segmentos turísticos, tiveram ano favorável, incluindo segmentos característicos do turismo. Apenas a administração pública teve queda em volume”, ressalta o especialista.
De acordo com a pesquisa, os serviços de alimentação fora do domicílio, que incluem bares, restaurantes, lanchonetes e similares, além dos serviços de alimentação para eventos e recepções, foram responsáveis por 45,6% do valor agregado pelas atividades turísticas no estado em 2019. Os aluguéis não imobiliários representaram 16,5% do total nesse período – a atividade inclui a locação de automóveis e outros meios de transporte sem condutor e os aluguéis dos equipamentos recreativos e esportivos utilizados pelos turistas.
Por sua vez, o transporte terrestre de passageiros (metroferroviário, rodoviário e serviços de táxi) representou 13,3% da participação do turismo em 2019. Os serviços prestados às famílias (que incluem as atividades artísticas, criativas e espetáculos, atividades de recreação e lazer como parques de diversão e parques temáticos, a produção e promoção de eventos esportivos, além de atividades ligadas ao patrimônio cultural e ambiental como museus, jardins botânicos, zoológico e reservas ecológicas) foram responsáveis por 5,9% do valor agregado pelo turismo em Minas Gerais em 2019.
A pesquisa também mostrou que as agências de viagens e organizações de eventos, incluindo os operadores turísticos e os serviços de reserva, contribuíram em 4,7% do total arrecadado pelo turismo no estado. Os serviços de alojamento e hospedagem (hotéis, apart-hotéis, albergues, camping, pensões e similares) representaram 4,5% do valor agregado associado ao turismo estadual no ano em questão. No mesmo período, os serviços de transporte aéreo de passageiros participaram em 3,8% do total.
A representatividade das atividades auxiliares do transporte em Minas Gerais (que incluem os terminais rodoviários e ferroviários e a operação dos aeroportos e campos de aterrissagem) foi de 3,0% em 2019. O comércio vinculado ao turismo, como artigos de viagem, bijuterias, artesanatos, obras de arte, pesca, camping e artigos esportivos, representou 2,6% do total arrecadado pelo turismo estadual no ano analisado.
Finalmente, o transporte aquaviário de passageiros foi responsável por apenas 0,04% do valor agregado pelo turismo estadual em 2019, tendo em vista que essa atividade possui maior relevância em regiões litorâneas, o que não é o caso de Minas Gerais.
Crescimento econômico
Apesar dos números, o pesquisador da FJP, Raimundo Leal, considera que o aumento da participação do turismo em Minas Gerais só é possível com o crescimento econômico e melhor remuneração das famílias.
“Quanto maior a renda da população, maior será eu consumo. A retomada do crescimento é uma variável a ser considerada. Não temos dúvidas de que se tivéssemos seguido a trajetória de crescimento que foi estabelecida depois da estabilização do Plano Real, a proporção do crescimento e do consumo do turismo das famílias em Minas e em outros estados seria muito maior”, diz.
“O Brasil precisa ser visto pelo resto do mundo como uma civilização avançada, tranquila e que recebe bem os turistas estrangeiros”, afirma.
Ranking das cidades
Com a classificação dos serviços de transporte aéreo de passageiros como atividade turística, Confins é o município mineiro que apresentou a maior representatividade no turismo, diante da presença do aeroporto internacional Tancredo Neves em seu território, com mais de 67% da arrecadação. O mesmo motivo explica a participação elevada observada em Goianá, onde se localiza o aeroporto Presidente Itamar Franco, também conhecido como aeroporto regional da Zona da Mata, com 20,7% do PIB do município girando em torno da atividade.
Com 29% de participação da atividade, o município de Tiradentes, no Campos das Vertentes, aparece na segunda colocação por ser um centro histórico de igrejas, monumentos e museus com a arte barroca, com atrações como a Matriz de Santo Antônio, o Santuário da Santíssima Trindade e a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, além da presença de restaurantes premiados e da ocorrência de festivais.
Sapucaí-Mirim aparece na quarta posição do ranking (17,5%) com a presença do NR Resort Sapucaí-Mirim (Nosso Recanto), um complexo recreativo que recebe milhares de turistas e possui um dos maiores criatórios de trutas da América Latina. Em Santana do Riacho (17,4%), o destaque fica por conta da Serra do Cipó, com a presença de picos, cachoeiras e paisagens deslumbrantes, além da estátua do Juquinha (um atrativo de visitação para os turistas).