Moradores de cidades mineiras mais pobres e isoladas, como no Norte e no Vale do Jequitinhonha, estão sofrendo impacto maior da disparada dos preços dos combustíveis do que os que vivem em municípios mais ricos, como Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, que tem o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), de 0,813. Não são apenas os consumidores os afetados, mas o comércio também sofre, prejudicando a economia local.
Nessas localidades, até o serviço de entrega de mercadorias na zona rural, que chegam a até 45 quilômetros de distância, está sendo restringido por alguns comerciantes para evitar mais prejuízos. Os custos elevados dos derivados de petróleo somam-se às dificuldades de circular por estradas malconservadas.
Com o último reajuste dos combustíveis autorizado pela Petrobras, em algumas cidades o óleo diesel custa mais que a gasolina. Em São João das Missões, município com o mais baixo IDH do estado (0,529), o diesel está sendo comercializado a R$ 8,19 o litro. A gasolina, R$ 8,09. Por lá, os preços são mais elevados que os praticados em Nova Lima, onde, na última semana, o litro da gasolina variou entre R$ 7,65 e R$ 7,79. Já o diesel é vendido a R$ 7,65, segundo pesquisa da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Proprietário de uma loja de produtos veterinários e rações em São João das Missões, Dario Mardônio Soares de Brito disse que a situação ficou complicada. “Nossa margem de lucro diminuiu. O valor do frete aumentou muito e não temos como repassar esse custo para os consumidores, pois a região é carente e as pessoas não podem pagar. Se aumentarmos os preços das mercadorias, a gente não consegue vender”, afirmou.
“O aumento de preços dos combustíveis acarreta o reajuste todas as mercadorias. As pessoas de baixo poder aquisitivo passam a comprar somente aquilo que consideram indispensável”, complementa Patrícia Souza Santos Neves, dona de um supermercado na cidade.
Aumento das despesas
Diesel também mais caro que a gasolina em Bonito de Minas, que tem o terceiro pior IDH de Minas: 0,537. Por conta da elevação do preço do combustível, o comerciante Geraldo Justino da Silva, dono de um supermercado, viu crescer as despesas com o frete na entrega de compras para comunidades a 42 quilômetros de distância. Nos últimos seis meses, também teve aumento de 30% nos custos com o ônibus que transporta gratuitamente parte da clientela que mora na zona rural para fazer compras no município.
“O que fazemos é uma prestação de serviços à região. Se a gente cobrar as viagens das pessoas da zona rural, elas não têm como pagar, são aposentados, recebedores do Programa Bolsa-Família (Auxílio Brasil) e trabalhadores rurais, que ganham pouco”, conta Geraldo Justino.
Na cidade, Salvador Pereira Neto, gerente de outro supermercado, reclama das altas dos combustíveis. A unidade também oferece o transporte de clientes, buscando pessoas em localidades a 45 quilômetros de distância. Mas apesar do aumento dos custos nesse tipo de benefício, ele lamenta ainda mais é a recusa de transportadores para levar mercadorias que ele compra em Belo Horizonte para vender em seu estabelecimento. “Está difícil encontrar caminhoneiros. Eles estão recusando as cargas por causa do preço alto do diesel, que quase dobrou nos últimos seis meses”, revelou.
Entregas limitadas
Já em Cristália, que tem IDH de 0,583, comerciantes não tiveram alternativas. Para evitar prejuízos com a elevação do óleo diesel (R$ 7,99 o litro), que também está mais caro que a gasolina (R$ 7,89), o jeito foi restringir entregas para os clientes nas comunidades rurais. Dono de um supermercado, José Cleiton Rodrigues Rocha só leva até a casa do morador se a compra atinge o valor mínimo de R$ 600. “Reduzimos pela metade para evitar prejuízos, pois o custo do transporte praticamente dobrou nos últimos seis meses”, justifica. “Toda vez que vem visitar a gente, os vendedores informam que os produtos estão mais caros”, complementa.
Vendas em queda
O comerciante Altino de Souza, proprietário de um comércio em Botumirim, reclama da queda no faturamento. “Toda vez que sobe o preço da gasolina, aumenta o preço das outras mercadorias e as vendas diminuem de forma proporcional”, conta.
Para Maria Alaíde Veríssimo, dona de um pequeno supermercado no município, os sucessivos reajustes dos combustíveis, em efeito cascata, aumentam preços de outros produtos. “Sempre que a gente vende uma mercadoria, não consegue mais comprar a reposição pelo mesmo preço. Estou desanimada de continuar trabalhando”, lamentou a comerciante.
Quem comercializa roupas sente ainda mais na pele os efeitos econômicos. Que o diga Hérviro Moreira dos Santos. Ele afirma que todo reajuste dos combustíveis já é esperada a diminuição no faturamento da loja. “Quase tudo que vendemos aqui vem de fora. O reajuste dos combustíveis eleva o custo de vida. As pessoas passam a comprar somente os produtos de primeira necessidade, deixando de comprar outras coisas como roupas”, diz.
O comerciante relembra ainda que o cenário é registrado bem após os dois anos de pandemia da COVID-19, situação que já pesou demais para os negócios, principalmente os pequenos.
Donos de postos já perdem clientes
Donos de postos de combustíveis também sentem as consequências dos reajustes dos derivados do petróleo, com queda da clientela. “Acredito que, nos últimos seis meses, tivemos uma redução de 30% nas vendas”, estima o empresário Gilvan Domingos Almeida, proprietário de um estabelecimento em Botumirim, no Norte de Minas, cidade com IDH de 0,602. Atualmente, por lá o óleo diesel está sendo comercializado a R$ 8,05. A gasolina, R$ 7,99.