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Estado de Minas ECONOMIA

Banco Central aumenta projeção de inflação

BC admitiu que existe "100% de probabilidade" de o IPCA chegar a dezembro acima do teto da meta de 2022 determinada pelo CMN


01/07/2022 10:14

Entrada do Banco Central, no DF
(foto: Marcello Casal JrAgência Brasil)


O Banco Central (BC) atualizou as projeções macroeconômicas no Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado ontem, reforçando o aumento dos riscos e das pressões inflacionárias. O teor do relatório reforçou as apostas de que a autoridade monetária não conseguirá cumprir as metas de inflação por três anos seguidos, um constrangimento inédito para o presidente da instituição, Roberto Campos Neto.

No documento, o BC admitiu que existe "100% de probabilidade" de o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, chegar a dezembro acima do teto da meta de 2022 determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 5%. O BC passou a prever 8,8% de alta do custo de vida neste ano. No relatório anterior, de março, a estimativa era de 6,3%.

"Em termos de probabilidades estimadas de a inflação ultrapassar os limites do intervalo de tolerância, destaca-se, no cenário de referência, o aumento da probabilidade de a inflação ficar acima do limite superior em 2022, que passou de 88% no relatório anterior para próximo de 100%", destacou o relatório. Para 2023, essa probabilidade chegou a 29%. Antes, era de 12%.

Além de elevar as projeções de inflação deste ano, o BC revisou as previsões para 2023 e 2024, que passaram de 3,4% e 2,3%, respectivamente, para 4% e 2,7%. O BC ainda reforçou o comunicado do último Comitê de Política Monetária (Copom) e destacou que a taxa básica de juros (Selic), atualmente em 13,25% ao ano, após a alta de 0,50 ponto percentual neste mês, deve sofrer um ajuste de "igual ou menor magnitude" na próxima reunião, em agosto. Dentro da dificuldade de o BC entregar a inflação dentro da meta, analistas não descartam uma Selic acima de 10% até o fim de 2023.

No ano passado, o IPCA encerrou o ano com alta de 10,06%, acima do teto de 5,25%. Para este ano e o próximo, os limites superiores são de 5% e 4,75%, respectivamente, mas as projeções do mercado superam esses dois patamares. De acordo com Julio Hegedus, economista-chefe da Mirae Asset, que prevê IPCA em 9,4% no fim deste ano e em 5,18%, em 2023, a divulgação do RTI não teve grandes novidades além das revisões de projeções e da sinalização de que o BC deve se manter cauteloso, embora sem novos arroubos de aperto monetário.


"O BC reforçou o comunicado e a ata do Copom, e disse que deve manter o juro em patamar elevado por mais tempo, e que a 'taxa neutra' deve se manter em torno de 4% a 5%", destacou. Pelas estimativas do analista, a taxa Selic deverá continuar elevada, entre 13,75% e 14%, "diante do ambiente de incertezas nos fronts da inflação, pelos choques externos e difusão dos índices e pelos riscos fiscais". Ele manteve a projeção para a Selic no fim de 2023 em torno de 10% e 11% anuais.

Na avaliação de Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos, o RTI confirmou um cenário de surpresa inflacionária persistente. "O relatório reforçou o contexto de que o balanço de riscos ainda é desfavorável. A inflação efetiva tem ficado acima do esperado e o BC passou a ter a convicção de que não vai cumprir a meta neste ano. Mas, no ano que vem, ele também não cumprirá a meta devido aos riscos fiscais que tendem a ser maiores em 2023", resumiu. Velho estima o IPCA em 6,11% no fim do ano que vem, uma vez que o processo de desaceleração da inflação será mais demorado diante do cenário de "altíssimo" risco trazido pelo fim do teto de gastos.

No relatório, o BC ainda melhorou a previsão de crescimento do PIB deste ano, de 1% para 1,7%, devido à surpresa na atividade do primeiro trimestre de 2022 e pela perspectiva do impacto dos estímulos ao consumo, como o saque emergencial do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Contudo, reconheceu que, devido ao impacto da política de ajuste monetário e à persistência inflacionária global, a tendência é de desaceleração da economia no segundo semestre.


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