Por Lucas Rizzi - Fundada em Milão há 150 anos, a Pirelli tem como maior conquista no Brasil, onde está há mais de nove décadas, o fato de ser reconhecida como uma empresa brasileira, apesar de seu DNA profundamente italiano.
É o que diz o CEO e vice-presidente executivo da fabricante de pneus para a América do Sul, Cesar Alarcon, em entrevista exclusiva à ANSA durante a inauguração de uma exposição que celebra a história da marca, no MIS Experience, em São Paulo.
"Essa identificação do povo brasileiro talvez seja a característica mais importante que a Pirelli atingiu", afirma o executivo, que mantém um olhar otimista a respeito do Brasil, apesar das incertezas geradas por um processo eleitoral que se desenha tenso e acirrado.
"A Pirelli está no Brasil há 93 anos, a gente já trabalhou com diversas ideologias políticas e a gente ainda vai estar aqui em 2023, independentemente de quem estiver no governo", garante Alarcon. Confira a entrevista abaixo na íntegra.
Essa exposição conta muito do passado da Pirelli em seus 150 anos de história, mas o que você projeta para a empresa no futuro no Brasil?
Mais que ter a imagem do passado, a gente tem aqui uma oportunidade de projetar o futuro, porque o passado define as raízes que determinam o futuro. E, sinceramente, a gente tem 150 anos, mas a gente se define como uma empresa jovem, principalmente por causa de uma cultura que mira muito na inovação e na revolução tecnológica. Eu enxergo a Pirelli como protagonista do ponto de vista tecnológico e social, mas também em como nos inserimos nas comunidades em que estamos presentes. Eu enxergo o futuro indo nesse caminho de inovação tecnológica, cultura, arte, mas também de sustentabilidade em todas as vertentes: social, econômica, ambiental, e eu quero destacar também a diversidade, que vai ser uma marca característica da Pirelli no mundo e no Brasil.
O que a Pirelli tem feito para aumentar a diversidade dentro da empresa?
Temos programas para favorecer a presença de mulheres nos segmentos de gestão e atividades para a presença de outras minorias menos representadas e que têm de ter um espaço. A Pirelli tem de ser um reflexo daquilo que acontece fora das portas da empresa. Essa inclusão também vai agregar valor para nós, e as comunidades onde estamos presentes vão ter em nós uma presença na qual elas se identifiquem.
Você deu algumas entrevistas no fim do ano passado demonstrando otimismo para 2022. Com sua primeira metade concluída, o ano tem correspondido às expectativas?
Acho que o otimismo tem sido confirmado. O PIB está crescendo quase 2%. Eu enxergo o Brasil com muito otimismo, sou sul-americano, tive a oportunidade de viajar o mundo, e cada vez que eu venho para o Brasil - e eu venho todas as semanas -, fico sempre muito otimista com o potencial não somente do país, mas também sobre como o Brasil gera uma influência nos outros países sul-americanos. O mercado está crescendo, acho que temos mais oportunidades para crescer, e o que quero trazer são componentes mais tecnologicamente avançados. No fim do ano passado, lançamos a tecnologia Seal Inside, que repara automaticamente quando fura o pneu. Neste ano, a gente está expandindo os volumes de produção, entrando como equipamento original em novos veículos. Estão saindo os novos veículos com esse tipo de tecnologia a partir da segunda metade do ano, e isso vai trazer um produto revolucionário para o consumidor brasileiro. Isso tem a ver com muita pesquisa e desenvolvimento e também com a confirmação desse otimismo que eu tenho em relação ao Brasil para fazer um investimento muito significativo. O meu otimismo para a economia do Brasil está confirmado para 2023, e os investimentos que a gente tem planejado vão nessa direção.
As incertezas referentes às eleições de 2022 podem tirar o Brasil dos trilhos?
Independentemente de quem ganhe, acho que o eleitor conhece os dois candidatos e conhece o sistema econômico que cada um dos candidatos oferece. A Pirelli está no Brasil há 93 anos, a gente já trabalhou com diversas ideologias políticas e a gente ainda vai estar aqui em 2023, independentemente de quem estiver no governo. O Brasil tem desafios pela frente, e algumas reformas, como a tributária e a administrativa, poderiam trazer uma aceleração concreta das oportunidades de investimento que já acontecem no exterior.
Quando a Pirelli vai voltar aos números do pré-pandemia?
Em termos de resultado econômico, a gente já atingiu em 2021 os resultados que a gente tinha pré-pandemia. O que estou agora contando é que todos esses investimentos que a gente tem anunciado, e que ainda estão por se confirmar nos próximos anos, comecem a se manifestar como um retorno positivo, não apenas do ponto de vista econômico, mas também da nossa presença e da percepção do consumidor sobre nosso serviço. O Brasil tem uma capacidade significativa de produção de veículos, que ainda está muito abaixo da capacidade do setor automotivo, e nós, que produzimos mais de 12 milhões de pneus por ano no Brasil, podemos ser um fator fundamental para o desenvolvimento da indústria.
Quando se fala em tecnologia em um automóvel, geralmente o pneu não é a primeira coisa a vir à mente. Como um pneu pode ser tecnológico e como o consumidor pode perceber essa tecnologia?
A tecnologia do autorreparo vai nessa direção, de trazer uma tecnologia que possa ser facilmente identificável pelo consumidor. É verdade que temos muita tecnologia em desenvolvimento de materiais, por exemplo, a nanotecnologia, mas entendo que alguns desses desenvolvimentos depois sejam sintetizados em uma melhor resistência ao rolamento, uma melhor eficiência no consumo de combustível. O que estou tentando agora também é, a partir de pesquisas com consumidores, fazer com que essa tecnologia seja mais intuitiva, que ela esteja mais perto das necessidades básicas do consumidor quando está dirigindo. Quem fura o pneu entende a complexidade do processo de substituir o pneu. Não é somente o produto, mas também pensar no desenvolvimento de um serviço que esteja mais perto das necessidades do consumidor.
Investir em tecnologia também é uma forma de a Pirelli se preparar para um mercado mais eletrificado no futuro?
Grande parte da nossa produção no Brasil vai para um dos mercados mais tecnologicamente avançados, os Estados Unidos. Já estamos desenvolvendo aqui no Brasil produtos com tecnologia para veículos elétricos, que são produtos completamente inovadores porque requerem uma resistência ao peso do veículo mais significativa, o torque do veículo requer um pneu com muito mais aderência, e a autonomia das baterias requer um pneu muito mais eficiente. Nos preparando para a exportação, também nos preparamos para estar prontos no momento em que a indústria local requerer uma tecnologia para veículos elétricos.
Como a Pirelli tem lidado com a pressão inflacionária?
A gente começou a sofrer pressões inflacionárias a partir da desvalorização do real, quase 21 meses atrás, porque uma grande porcentagem do nosso produto é material importado, commodities, como borracha natural, sintética, cordas de metal. Tenho que dizer que as últimas ações do Banco Central, aumentando a taxa de juros, me fazem pensar que a situação está caminhando para ser contida, mas claramente é uma situação que a gente segue cotidianamente.
Qual é a maior conquista da Pirelli em 93 anos de história no Brasil?
Talvez a maior conquista seja ser identificada como uma empresa brasileira no Brasil. Essa identificação do povo brasileiro com a Pirelli, não somente fazendo indústria, mas também como protagonista do desenvolvimento social, talvez seja a característica mais importante que a Pirelli atingiu nos últimos 93 anos. E tem de ser também uma marca que continue determinando nosso futuro aqui no Brasil. (ANSA)