Se existe algo que não pode faltar na mesa do mineiro é o tradicional cafezinho. Mas o preço do produto continua salgado para consumidores em Belo Horizonte e Região Metropolitana.
De acordo com o Índice dos Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o café moído teve alta de 10,99% nos seis primeiros meses de 2022. Nos últimos 12, a variação é ainda maior, de 43,88%.
Apesar da ligeira queda de 2,02% no preço em junho, o valor do pacote de café continua alto nos supermercados e nas padarias. Tradicionais marcas consumidas são encontradas a R$ 19, com reajustes de 40% a 50% em relação ao ano passado. Em estabelecimentos da periferia, um pacote de 500g já chega a R$ 22.
Algumas razões são apontadas para a alta expressiva: a valorização do dólar, o aumento dos custos dos insumos, o volume da safra e o clima. Devido à seca e às geadas, o café ficou mais caro em um ano de colheita que, naturalmente, já seria mais baixa, pois, em ano ímpar, as quantidades produzidas já seriam baixas.
“O preço do café é muito relacionado à oferta e ao dólar. Em abril, houve aumento de 4%, e em maio, a variação foi de 1%. Então, a gente consegue observar que agora há uma desaceleração e uma queda em junho ligadas à oferta do produto”, analisa o coordenador de pesquisas do IPCA em Belo Horizonte e Grande BH, Venâncio Otávio Araújo.
"Houve aumento do custo de produção do grão, o que acaba influenciando nesse aumento, sobretudo no início do ano. Em dezembro do ano passado, o aumento foi de 10%, o que está ligado às fortes geadas e secas que influenciaram na produção. O produto sentiu as variações climáticas”, completa o especialista.
Mineiros sofrem com alta no preço do café
Os mineiros vêm sofrendo com os altos preços, mesmo que o estado seja o maior produtor de café no Brasil. Dados da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) mostram que no ano passado foram colhidos 21,45 milhões de sacas, o equivalente a 46% de todo o país.
Com os preços em alta, os consumidores fazem esforços para continuar adquirindo o cafezinho. “Minha família consome café todo os dias. Com esse valor, porém, a gente fica desanimado. O ideal seria parar de comprar, mas não dá. É preciso economizar em outras coisas, como carne e leite, cujos preços também estão altos”, afirma a aposentada Marly de Souza, de 67 anos.
O pedreiro Valter Assis, de 45, admite que tem retirado aos poucos o café da cesta básica mensal. “Temos de aprender a viver sem ele, já que tudo está caro. Eu, por exemplo, tomo café no meu trabalho. Assim, economizo ao comprar o pó em casa”, brinca.
Comerciantes
O valor do produto em alta também afeta profundamente os comerciantes. É o caso da sócia-proprietária do Spiral com Café, Camila Dornas, que diz sentir os efeitos da inflação de produtos como café, leite e queijos servidos aos clientes. “Estamos segurando os preços na medida do possível para o cliente. Com essa inflação, nossa margem de lucro é menor, e perdemos faturamento. Ficou mais difícil buscar opções, pois tudo subiu muito”, relata.
Apesar disso, ela diz que o movimento de consumidores no estabelecimento não diminuiu em razão da tradição do local. “Estamos aqui há 16 anos. Para ter sucesso, é preciso ter um bom café. Se servirmos um café ruim, os clientes vão sentir. Nosso movimento ainda está bom. Fico pensando outros estabelecimentos cujo movimento esteja fraco. Não está fácil para ninguém”, afirma.