Edney Ribeiro e o irmão têm 30 mil pés de morango no bairro Serrinha, zona rural de Pouso Alegre, no Sul de Minas. "A gente plantava no chão. Com a tecnologia avançando, foi dificultando a produção no chão, as terras ficavam com doenças nematoide e fungo. Aí implementamos esse plano de cultivo (estufa)", contou Edney.
Ele está entre os cerca de 8 mil produtores do fruto na região e migrou para a estufa há quatro anos. Esse ambiente protege as plantas dos efeitos de chuvas de granizo e geada, além de manter a umidade ideal para o morango. Os 18 mil pés ficam em linhas suspensas que reduzem o esforço na colheita e melhoram a produtividade.
O investimento na estrutura que abriga a área de plantio dele custou cerca de R$ 200 mil há quatro anos. Para o agricultor, "vale a pena”. “O investimento inicial fica caro, mas para manter fica bem mais barato e prático", disse.
E tem mais benefícios nesse formato de cultivo. "Ajuda na saúde. Nosso uso de agrotóxico é quase zero. Na colheita no chão era dor nas costas e na coluna, tudo prejudicava, e aqui a gente colhe em pé, é bem mais tranquilo. Todo ano, a gente trabalha na mesma área, e no chão tinha que ficar trocando de área", relembrou.
Sul de Minas tem maior produção do fruto no país
Pouso Alegre e outros 24 municípios formam a maior região produtora de morango do Brasil. A safra 2022 estimada pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-MG) é de cerca de 150 mil toneladas.
Entre os maiores produtores por área na região estão Bom Repouso (540 ha), Espírito Santo do Dourado (465 ha), Estiva (370 ha), Senador Amaral (320 ha) e Pouso Alegre (250 ha).
"Pouso Alegre foi o primeiro produtor e está hoje na ordem de 50 a 52 toneladas por hectare de produção", destacou o extensionista agropecuário da Emater, José Abílio de Oliveira Filho.
Importância vai além da economia
O cultivo do morango é uma importante fatia da economia regional. Segundo Oliveira Filho, há 50 anos o distrito de São José do Pântano, em Pouso Alegre, dependia das culturas de leite, feijão e milho. O morango mudou esse cenário.
"A importância econômica (do morango) para o local, a comunidade e o município é muito grande. É um dos maiores geradores de renda", comentou
Os frutos surgem após 45 dias do plantio, e a colheita é feita toda semana. Em um ano, cada pé produz 1 quilo do fruto. Cada bandeja vendida por até 8,99 em supermercados de Pouso Alegre sai da produção por cerca de R$ 3,50, sendo que só a embalagem custa em média R$ 0,40.
Agricultura familiar
Agricultores familiares representam 90% da produção de morangos na região. João Batista de Faria, que trabalha nessa cultura há 15 anos, e mais quatro pessoas da família cultivam o fruto às margens da MG-173, em Cachoeira de Minas.
Na própria rodovia, a família vende cada caixa com quatro bandejas do fruto por R$ 15. "Mais da metade eu vendo aqui mesmo na rodovia e o restante eu mando para a fábrica”, relatou.
O que tem dificultado o trabalho dos agricultores são os valores de produção e de venda. "O valor dos insumos aumentou bastante, dobrou o preço. E o morango continua com o mesmo preço do ano passado", explicou Faria.
Edney concorda que "o maior desafio é a alta dos custos, porque aumentou muito o custo de produção. O preço (de venda) este ano está melhor, mas a gente sabe que quando aumentar a produção vai cair bastante", salientou.
Soluções para continuidade desse cultivo
Melhorar a valorização de mercado, capacitar produtores e inovar na produção podem ser a solução para incentivar quem trabalha nesse setor, assegurou o extensionista da Emater. "A inovação tem como exemplo o ambiente protegido que pode ser feito em estufa ou túneis baixos", observou Oliveira Filho.
Ele destacou ainda que na inovação estão presentes fatores como irrigações regulares em tempo e quantidade por cultivar, "uso de insumos como produtos biológicos e baixo uso de agrotóxicos", entre outros.
Até o consumidor pode ter um importante papel para ajudar a cultura do morango a ter continuidade no Sul de Minas. Para Oliveira Filho, ao comprar, é preciso ter consciência de que descontos não podem ser concedidos, pelo alto custo de produção. "É preciso que o consumidor tenha consciência disso, mas também cobre qualidade do produto", disse.
(Nayara Andery/Especial para o EM.)