A queda no preço da gasolina devido à redução de vários tributos deve ter impacto direto na inflação oficial do país nos próximos meses. A expectativa geral é que haverá deflação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho. As estimativas variam entre uma variação negativa de 0,6% e 0,7%, e que o índice do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) fique com variação próxima de zero no mês de agosto.
Os combustíveis têm peso em torno de 7% no IPCA, indicador oficial de inflação, segundo dados do IBGE. Economistas calculam que o alívio no preço pago pelas distribuidoras, anunciado pela Petrobras nesta semana — que reduziu em R$ 0,20 o preço médio de venda da gasolina nas distribuidoras — pode chegar a 2% para os motoristas nos postos.
Os revendedores já vinham baixando o preço nas bombas na maior parte dos estados, por conta da redução da alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) sobre os combustíveis. Conforme a projeção do economista-chefe do Banco Original, Marco Caruso, o IPCA de julho deve registrar queda de 0,60% e, em agosto, subir 0,04%. "Essa decisão da Petrobras terá maior impacto em agosto. Ela representa uma queda de 4,93% nas refinarias e, supondo um repasse de 50%, estamos falando de uma queda de aproximadamente 2,5% na inflação apenas da gasolina", afirmou.
O economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, destacou que, neste mês, o impacto da queda dos preços dos combustíveis no IPCA ainda não será tão significativo, porque a última redução feita pela Petrobras ainda não terá chegado na ponta, ou seja, ao consumidor final. "Existe ainda uma defasagem na transmissão da queda dos preços. O componente político também é muito incerto, considerando que nós tínhamos uma expectativa de alta na verdade no preço da gasolina", disse.
O alívio na cotação internacional do barril petróleo, que voltou a ficar abaixo de US$ 100 nos últimos dias, também viabilizou a deflação esperada para o IPCA deste mês. Para o head de Investimentos da Nomad, Caio Fasanella, ainda não é possível precificar o tamanho do impacto dessa redução na inflação anualizada, devido às condições do mercado. "Ainda não existe um consenso entre os economistas, porque pode haver mudanças a depender de outros fatores, como o câmbio, que pode causar pressão inflacionária", explicou.
Revisões
Algumas instituições passaram a estimar um IPCA até 1,5 ponto porcentual inferior ao projetado antes. "Toda essa questão da redução tributária, mais a desaceleração da inflação até o final do ano deve impactar de 1% a 1,5% no IPCA neste corrente ano, a ponto de que a projeção da inflação fique entre 7 e 7,5%", disse o Matheus Peçanha, pesquisador e economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
Segundo Penhaça, ainda há margem para novas quedas nos preços do combustível, o que deve gerar uma deflação ainda maior nos meses seguintes. "Quem diria que, neste ano inflacionário doido de 2022, teríamos um mês com inflação negativa. As perspectivas mostram que pode haver novas quedas na gasolina mais à frente. Temos uma perspectiva de queda também nos preços do petróleo. A commodity tem oscilado, mas a tendência é de queda. O câmbio também já se encaminha para o campo mais estável, o que deve gerar uma desaceleração ainda maior no combustível", afirmou.
O governo está correndo contra o tempo na tentativa de mostrar ao consumidor que tem trabalhado para diminuir o peso no bolso dos eleitores. Ontem, foi editado um decreto que flexibiliza prazo para a compra de créditos de descarbonização do setor de combustíveis, medida que também pode ajudar a reduzir ainda mais o preço nos postos. Segundo o ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, o diesel e a gasolina devem ter uma redução de R$ 0,10.
Analistas avaliam que essa queda da inflação será um componente importante para a campanha eleitoral, que começa em agosto. "Combustíveis como o diesel, que são utilizados no transporte rodoviário, acabam impactando também no aumento de preço de outros itens da cesta de produtos, como os alimentos, porque afetam os custos de distribuição dos produtos. A expectativa é que a redução do preço do diesel segure um pouco o espalhamento da inflação em relação aos demais itens", disse Fasanella.