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Estado de Minas COMBUSTÍVEIS

Descompasso entre reajustes do diesel e de frete eleva perdas

Caminhoneiros sofrem com a defasagem, que impõe prejuízos para a atividade


26/07/2022 04:00 - atualizado 26/07/2022 00:27

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Veículos de carga trafegam por estrada no Norte de Minas: combustível representa 35% dos gastos de caminhoneiros e frete é regulado pela ANTT (foto: Fotos: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)

A desafagem entre a aplicação dos reajustes do óleo diesel e a mudança na tabela de frete mínimo complica a vida de caminhoneiros, duramente atingidos pelos aumentos do combustível, afirma Marcus Quintella, o diretor da FGV Transportes, da Fundação Getúlio Vargas. Ele lembra que o combustível responde por  35% dos gastos da categoria. O piso (leia o Saiba mais)é regulado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) . “Nenhum controle de preços é uma situação que favoreça a livre competição e a livre concorrência. Talvez, seja necessária uma tabela de referência. O mercado tem que regular o frete”, pondera o especialista. Diante disso, o auxílio que começa a ser pago em agosto (leia mais abaixo) não é visto como solução para os problemas do setor diante das altas do diesel.
 
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Os caminhoneiros Osvaldo Augusto E) e José Aparecido reclamam dos preços do diesel e defasagem dos fretes: "Do jeito que está, estamos rodando somente para manter os postos de combustíveis", diz o primeiro
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O gerente da Unidade de Inteligência Empresarial do Sebrae Minas, Felipe Brandão de Melo, destaca que os caminhoneiros autônomos e pequenas empresas de transporte rodoviário de carga são os mais impactados pelo aumento dos custos do óleo diesel. Ele lembra que existem em Minas Gerais 28 mil pequenas empresas de transporte de cargas, dos quais 11 mil são microempreendedores individuais (MEIs), que “possuem menos fôlego financeiro e poder de negociação”.
 
“As incertezas em relação à disponibilidade de fretes e dos custos afetam a confiança deste segmento, provocando inclusive problemas de abastecimento, já que grande parte da logística da indústria e comércio é atendida pelo modal rodoviário e a falta de matérias-primas para fábricas e a diminuição do nível de serviço de entregas fazem com que os efeitos se espalhem”, diz Melo.
 
“Os caminhoneiros para enfrentar essa situação dependem não só das reduções do preço do diesel, mas também do aumento da capacidade de organização, da identificação da viabilidade do atendimento de fretes e sobretudo de uma melhoria da capacidade de gerenciar a eficiência da operação especialmente nesse momento crítico”, considera o especialista do Sebrae Minas.
 
O cenário também é avaliado professor Mauro Sayar Ferreira, da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG. A elevação do valor do óleo diesel termina sendo dividida por quem está comprando os produtos finais (transportados) e o caminhoneiro, que acaba ficando com uma parte do aumento de custo”.
 
O professor Rafael Ribeiro, da mesma instituição, também segue essa linha de raciocínio . “Quando a tabela do frete não se reajusta na mesma velocidade do aumento de custos, isso significa que os caminhoneiros acabam absorvendo esse aumento de custos, reduzindo ainda mais seus ganhos. Eles ficam em situação cada mais crítica, inclusive, em muitos casos, sem segurança alimentar e sem condições de alimentar a própria família”, descreve Ribeiro.
 
A situação extrema relatada pelos especialista é encarada na estrada “O aumento do óleo diesel está muito pesado. O que ganho está dando para cobrir dívidas. Mas falta dinheiro para as despesas essenciais”, lamenta o caminhoneiro Waldir José Costa, natural de Araçatuba (SP), que corta as estradas do Sudeste e do Nordeste brasileiro transportando carga.
“O valor do frete não está cobrindo os custos das viagens. No meu caso, como trabalho com caminhão frigorífico, a despesa com o óleo diesel é dobrada”, relata José Aparecido Souza, que transporta vacinas e medicamentos veterinários para estados do Sul e Sudeste, além de países do Mercosul.
 
Ele disse que a única forma que encontrou para equilibrar receitas e despesas diante da defasagem entre o frete e o custo do óleo diesel foi aumentar o tempo de trabalho. “Tenho que fazer muitas viagens por mês para ganhar alguma coisa”. O problema, neste caso, é que o equilíbrio das finanças implica uma vida mais estressante e mais exposta aos perigos das estradas.
 
“A nossa margem de lucro caiu demais. Estamos trabalhando no limite”, afirma Sidnei Dias Santos, que conduz o próprio caminhão, vendendo e entregando ovos em cerca de 50 cidades do Norte de Minas. “Espero que o governo possa oferecer alguma melhoria para a gente”, diz o caminhoneiro e vendedor.
 
Outro que espera alguma medida para melhorar a situação dos transportadores, diante da disparada do óleo diesel, é Osvaldo Augusto Oliveira, dono de um “caminhão boiadeiro” no Norte de Minas. “Do jeito que está, estamos rodando somente para manter os postos de combustíveis”. Osvaldo salienta que o governo deveria adotar medidas eficazes para reduzir o preço do óleo diesel. “Temos que ver que tudo no Brasil é transportado por caminhão. E, sem óleo diesel, o caminhão não anda”.
 
O caminhoneiro Robson Simões Rocha, que transporta frutas e verduras do Projeto Jaíba, no Norte do estado, para a sede das Centrais de Abastecimento de Minas Gerais (Ceasa), em Belo Horizonte, afirma que o aumento do preço do óleo diesel em descompasso com a correção do valor do frete deixa a categoria sem dinheiro para cobrir custos de manutenção, com mecânica e compra de pneus, que também são elevados.
“O preço do óleo diesel aumentou muito e o reajuste não foi repassado para o valor do frete. O dinheiro a mais que estamos pagando pelo óleo diesel é o recurso que está faltando para comprar pneus e para os gastos com a manutenção dos caminhões”, relata Rocha.

Saiba mais - Tabela semestral

Elaborada em 2018, após a greve dos caminhoneiros, a legislação sobre a Política Nacional de Pisos Mínimos do Transporte Rodoviário de Cargas estabelece que a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) deve publicar a tabela a cada seis meses, até os dias 20 de janeiro e 20 de julho de cada ano, com os valores que serão válidos de piso para o semestre. O texto prevê ainda que a tabela deve ser atualizada sempre que houver oscilação no preço do produto igual ou superior a 10%. Com mudança introduzida por medida provisória publicada em 17 de maio deste ano, esse percentual foi reduzido para 5%.



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