O futuro (presente) do trabalho. Quais as carreiras estarão em alta em 2023? Para qual área se capacitar, como se preparar, as habilidades exigidas pelo mercado, soft skills, competências técnicas, as novas profissões, habilidade de trabalhar no ambiente virtual, a colaboração e trabalho em equipe, o pensamento crítico, flexibilidade e gerenciamento do tempo, adaptabilidade, inteligência emocional...
Cíntia Ladeira destaca também as áreas de marketing digital, design de experiência do usuário (UX design) e construção de conteúdo digital.
“O ESG (environmental, social, and corporate governance), que reúne as políticas de meio ambiente, responsabilidade social e governança corporativa, é formação importante, já que está sendo aplicado cada dia mais nas empresas, especialmente aquelas que têm suas ações nas bolsas de valores”.
Formando profissionais, a professora lembra ainda de setores como agile coach, engenharia, especialmente na área de mineração, e especialista em metodologia BIM (building information modeling), ou modelagem da informação da construção. Usada para criar e gerenciar dados durante o processo de projeto, construção e operações.
“Houve um apagão profissional no Brasil e é preciso ir atrás de qualificação, já que há procura por profissionais mais específicos. Buscar formação, certificados, metodologias e ferramentas, não só para a área de tecnologia, não precisa ser do setor, mas agregar expertises que farão o profissional se destacar em qualquer área, podendo até virar a chave e fazer uma transição de carreira. Há cursos de certificação básica de R$ 100. O profissional brasileiro é barato e empresas do Vale do Silício, dos EUA e Índia estão contratando em áreas de metodologias ágeis para o colaborador trabalhar em BH ganhando em dólar. A parte da logística está forte com o e-commerce e a engenharia de mineração, depois de 10 anos em baixa, com o Petrolão apagando o brilho de grandes corporações, dá lugar a novas empresas que alavancam obras, principalmente no Pará.”
Thiago Matos, de 28 anos, é graduado em comunicação social e atua como UX designer – experiência do usuário –, umas das carreiras mais promissoras no momento: “Consegui aliar as duas áreas que mais gosto. Tem a ver com tecnologia, o objetivo é fazer com que as pessoas usem uma plataforma da melhor maneira possível, seja com produtos ou serviços e colocamos sua experiência como meta principal do negócio. A pessoa é o foco, seja em um site ou aplicativo, tangível e intangível. É uma área multidisciplinar, com contatos com outros setores como tecnologia, negócios, marketing, comercial e comunicação. Exige uma escuta ativa, ouvir o que o usuário tem a dizer e melhorar sua experiência”.
Para Thiago, o maior desafio da área passa por articular três pilares: “O que o usuário deseja, o que é possível fazer tecnologicamente e o que é rentável para a empresa. O ponto principal é ser inovador, que está intimamente ligado com a criatividade. Já tinha noção de design de jogos, com um curso técnico, projetando interface, amo tecnologia e a comunicação é o ponto de contato dessas áreas”.
Na outra ponta da cadeia profissional está Marcello Machado Ladeira, analista de sistemas, de 52 anos, área que segue aquecida.
Com especialização em inovação e empreendedorismo em Stanford, na Califórnia (EUA), em 2014, MBA em marketing e bacharel em ciência da computação, hoje, é CEO do Siteware.
“Atuo há 30 anos e, quando me formei, a tecnologia era o futuro, agora, é o presente. Todo negócio passa pela tecnologia e a pandemia só acelerou a transformação digital. Mas falta mão de obra e a demanda é superior à formação. O desafio de todo profissional do setor é que, como ele sempre está em evolução, ter de acompanhar. O que aprendi há três décadas está defasado, tenho de me atualizar o tempo todo. A vantagem é que o mercado tem potencial de crescimento no mundo, com várias oportunidades e salários altos, ainda que com alta concorrência. Não importa a idade, o profissional tem de evoluir junto com a tecnologia, ser dinâmico e ter aprendizado constante.”
Demanda na área de automação
Rafael Brazão, chefe de Gente & Gestão no C6 Bank, enfatiza que ocorre um crescimento da demanda por carreiras ligadas à automação. O que é possível comparar com o dia a dia.
“Não precisamos, por exemplo, lembrar de pagar uma determinada conta todo dia 1º de cada mês. Podemos cadastrar esse pagamento para que seja debitado automaticamente. Se fazemos a compra do mês em um site de supermercado, não é preciso digitar todo mês os mesmos itens. Podemos salvar aquele conjunto de produtos no carrinho e refazer a compra com um clique. Nas empresas, temos essa mesma oportunidade de automatizar processos repetitivos. Cada vez mais, as empresas buscam profissionais que sejam capazes de identificar oportunidades de automação. O cientista de dados tem papel relevante nesse processo, mas outros profissionais podem treinar esse olhar e se perguntar como podem agir como “alimentadores” da inteligência artificial.”
Para Rafael Brazão, as áreas de tecnologia, ciências de dados e experiência do usuário continuarão a ser carreiras importantes em 2023. E para ter empregabilidade, ele destaca uma capacidade importante neste cenário.
“Uma habilidade muito valorizada no mercado de trabalho é a facilidade de adaptação às mudanças. Isso vale tanto para quem busca recolocação no mercado de trabalho quanto para quem está empregado e busca uma promoção. Tem um conceito que gosto bastante, o de plasticidade. Não se trata da capacidade de enfrentar desafios, ser resiliente. A gente pode pensar em plasticidade como a habilidade de, depois de enfrentar uma situação difícil, não voltar a ser igual ao que a gente era antes. Os desafios mudam nossa forma de nos comportar e de ver o mundo. A gente não tem que querer voltar para o jeito que a gente era antes. A gente costuma voltar muito melhor depois de passar por desafios.”
Para o gestor, os profissionais precisam ter uma prontidão para se prepararem para o novo. “É com isso que eles conseguirão ser cada vez mais arrojados e inovadores. O modelo atual de trabalho exige que os profissionais pensem no coletivo, que entendam as necessidades da empresa como um todo, e não apenas da própria área. Dessa forma, conseguem identificar novas oportunidades. A pandemia mostrou que só superamos desafios dessa magnitude se todo mundo pensar no coletivo. Vejo que as empresas tendem a buscar profissionais com capacidade de empatia, ou seja, aqueles que respeitam os colegas e os pontos de vista que são diferentes.”
Tecnologia não substituiu as pessoas
A tecnologia dita o ritmo do mercado, seja qual for o negócio. Outro personagem que se adapta é Gideão Costa, analista de sistema da informação da Solarvolt: “Não é de hoje que construir uma carreira na área de tecnologia da informação é uma boa escolha. O mercado de TI é um dos que mais vem crescendo nos últimos anos, desenvolvendo novas áreas e oportunidades para os profissionais. Inclusive, está sempre presente na lista de profissões do futuro”.
Gideão Costa reconhece que atuar nessa área requer enfrentar vários desafios: “A principal é acompanhar a evolução das tecnologias e se manter atualizado diante da velocidade com que as novidades surgem. Essa é uma necessidade para todos os profissionais de TI, mas também para as empresas que precisam da tecnologia para atuar e expandir. Novas atualizações, versões, linguagens, metodologias, ferramentas, enfim, uma infinidade de coisas são lançadas todos os dias. Portanto, estar por dentro e manter-se atualizado não é apenas saber o que está acontecendo, mas compreender como isso impacta no seu dia a dia. Lembrando que a tecnologia não veio para substituir as pessoas, mas sim, contribuir para que o trabalho desenvolvido seja cada vez melhor”.
Profissões em alta
1) Engenharia
- Segmentos que lideram as contratações: saúde, bens de consumo, tecnologia, logística, infraestrutura, varejo e energia.
- Profissionais mais procurados: gerente de supply chain, comprador, engenheiro de aplicação/vendas, gerente de projetos/PMO, gerente de vendas técnicas, coordenador de S&OP, engenheiro de EHS/ESG.
- Habilidades técnicas: idiomas, domínio de sistema de gestão integrada, tech skills, inovação.
- Habilidades comportamentais: perfil analítico, facilitador, equilíbrio emocional, comunicação, adaptabilidade/flexibilidade, senso de dono.
- Carreiras do futuro: engenheiro de ESG, gerente de ESG, engenheiro de dados, engenheiro de inovação, engenheiro de Firmware, especialista de melhoria contínua/Lean/Indústria 4.0.
2) Finanças e contabilidade
- Segmentos que lideram as contratações: infraestrutura (logística/energia/concessões), serviços (educação/telecom), farmacêutico/healthcare, agronegócio, bens de consumo, tecnologia.
- Áreas mais demandadas: planejamento financeiro/ controladoria, modelagem financeira, contábil/fiscal (coordenador/gerente), controller, tesouraria/financeiro
- Habilidades técnicas: automatização de processos, Excel e BI, modelagem financeira e valuation, ERP de mercado, inglês
- Habilidades comportamentais: flexibilidade, adaptabilidade, dinamismo, resiliência, comunicação, relacionamento interpessoal
3) Vendas e marketing
- Segmentos que lideram as contratações: bens de consumo, varejo, tecnologia, startups, healthcare, agronegócio, logística.
- Posições mais demandadas: executivo de contas, coordenador de marketing digital, gerente de e-commerce, gerente de marketing digital, analista de marketing digital, CRM-CX, inside sales, analista de inteligência de mercado, analista de inteligência de negócios.
- Habilidades técnicas: inglês (espanhol é um diferencial), tech skills, marketing digital, visão de negócios, gestão financeira/ rentabilidade, controle de indicadores, funil de vendas.
- Habilidades comportamentais: comunicação, equilíbrio emocional, flexibilidade, criatividade/inovação, teamwork, senso de dono, resiliência.
- Profissões do futuro: analista martech, estrutura ligada a produtos digitais, analista de inteligência de mercado, SDR e BDR.
*Fonte: Robert Half
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