Os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Meio Ambiente, Marina Silva

Os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Meio Ambiente, Marina Silva, deixaram recado de que país quer retomar protagonismo internacional

Fabrice Cofrini/AFP

O novo governo teve, na semana passada, a primeira participação em um dos mais importantes eventos globais. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, representaram o país no Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), que ocorre anualmente em Davos, na Suíça. Ambos levaram a mensagem de que “o Brasil está de volta” ao cenário internacional e que irá se reincluir nas discussões em prol de uma economia mais sustentável.

Os Alpes suíços reúnem, uma vez por ano, os líderes de grandes empresas, autoridades e investidores para discutir os desafios recentes no cenário internacional, e como eles afetam possíveis parcerias comerciais e investimentos. O tema deste ano do Fórum foi “cooperação em um mundo fragmentado”, e o encontro tratou, especialmente, da questão ambiental, das consequências da pandemia e da guerra na Ucrânia e da expectativa de uma recessão global em 2023 –  que não deverá ajudar o país a crescer neste ano.

Em um painel especial dedicado ao Brasil, Haddad deu pistas sobre a nova política econômica do país. “Nós temos uma agenda reguladora para melhorar o ambiente de investimento no Brasil, especialmente com parcerias público-privadas e também concessões e orçamentos públicos para algumas obras que não são lucrativas para o setor privado, mas que são muito importantes”, declarou o ministro da Fazenda.

Haddad admitiu, porém, que o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve enfrentar novos desafios no setor econômico, incluindo as perspectivas de crescimento. “Nós não temos mais o boom das commodities do começo do século, então teremos que fazer de outra forma. Nós teremos que fazer um boom de integração para favorecer o comércio, transações financeiras, o sistema de créditos na nossa região”, explicou.

Com sua participação em Davos, Haddad apresentou aos investidores as expectativas para o novo governo, em um esforço para atrair o investimento internacional. Além dos painéis, o ministro teve pelo menos 12 reuniões com líderes empresariais. Em seu último dia na Suíça, na quarta-feira, Haddad esteve com o CEO global da Uber, Dara Khosrowshahi, com quem discutiu um plano de modernização dos direitos dos trabalhadores por aplicativo no país.

Sustentabilidade 

A participação de Marina Silva também foi representativa da mensagem que o novo governo quer passar. A ministra tem grande reconhecimento pelo seu trabalho no tema ambiental, e foi convidada para Davos mesmo antes de ser anunciada no cargo. Ela garantiu, no fórum econômico, que sua pasta atuará em conjunto com a Fazenda em prol do crescimento.

“Nós temos um compromisso para que o Brasil saia de uma economia intensiva de carbono para uma economia de baixo carbono. Estamos falando da transição ecológica, bioeconomia, todos esses investimentos. Eu tenho muito orgulho de falar sobre eles aqui, mas todos esses investimentos foram acordados pelo nosso ministro da Fazenda”, afirmou Marina, citando ainda que os gastos com políticas ambientais foram retirados do teto de gastos. “Acho que a sinergia que nós estabelecemos é uma característica do governo Lula, pelo terceiro mandato agora”, completou.

O cuidado com o tema ambiental é, atualmente, uma exigência de muitos países e blocos internacionais para a realização de acordos. “Estamos de volta à agenda internacional para tratar de metas ambiciosas voltadas para o clima, mas também para a biodiversidade”, afirmou a ministra do Meio Ambiente. “O Brasil também pretende ser líder de uma iniciativa global na defesa das florestas e estamos falando com todos os países que têm grandes florestas para que possamos reduzir a perda das florestas em níveis globais. Internamente, temos um compromisso de alcançar o desmatamento zero até 2030’, acrescentou.

Especialistas avaliam que a participação do governo no Fórum sinaliza uma adequação maior do Brasil ao cenário econômico internacional, incluindo a cobrança por práticas mais sustentáveis, mas citando ainda as reformas programadas para o ambiente interno. “A apresentação do Brasil em Davos foi muito importante, porque marcou uma mudança de governo. Isso ficou muito claro”, avalia a economista Carla Beni, professora de política fiscal da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

O economista e ex-deputado federal Luiz Carlos Hauly, autor da proposta que inspirou a PEC 110/2019 – proposta de emenda à Constituição de reforma tributária do Senado e que será aproveitada na reforma do atual governo –, também destacou a importância da medida. “O Brasil inteiro está esperando, e todas as empresas brasileiras estão esperando. Lá em Davos, foi tudo sinalizado. Isso já muda o humor. O mercado está azedo com anúncios recentes do governo, e a aprovação da reforma vai trazer a simpatia e aceitação econômica de todos os setores. Além disso, sem a mudança do atual sistema tributário o país não entra na OCDE”, avaliou Hauly.

enquanto isso...

...ONU vai utilizar
software brasileiro

Um software nacional, criado pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), unidade de pesquisa do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, vai ser utilizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para facilitar os sistemas de avaliação de produtos sustentáveis no mundo todo. Trata-se do Lavoisier, ferramenta desenvolvida pelo Ibict em parceria com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), que permite a comunicação entre as informações de diversos sistemas e padrões das bases de dados de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) dos produtos de diversos países. O instituto recebeu, nesta semana, a confirmação de que a ONU Meio Ambiente utilizará o software brasileiro em sua plataforma mundial. Agora, de acordo com a diretora do Ibict,  Cecilia Leite Oliveira, o instituto trabalha nessa ferramenta desde 2019 e, no ano passado, finalizou as conversões iniciais e, a partir de agora, trabalhará para a integração dos sistemas.