Enquanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenta dar sinais ao mercado financeiro de que está conseguindo avançar nas conversas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sobre o desenho do novo arcabouço fiscal — sem abrir o teor da proposta —, agentes financeiros reiteram a aposta de que a taxa básica da economia (Selic) será mantida na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, que começa hoje e termina amanhã.
O Copom desta semana coincide com os mesmos dias da reunião do Fomc, comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). Analistas preveem que o Copom mantenha a Selic no patamar atual e que o Fed diminua o ritmo de alta dos juros norte-americanos de 0,50 ponto percentual para 0,25 ponto.
O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, demonstra preocupação com o fato de Haddad levar tanto tempo para apresentar o arcabouço fiscal. Para o analista, a demora pode sinalizar uma proposta ruim, que acabe tirando muitas despesas da regra do teto de gasto e, assim, jogar por terra o compromisso com o equilíbrio fiscal. "Não dá pra acreditar em queda de juros antes de o arcabouço ser aprovado pelo Congresso", alerta. Vale prevê que o Copom só deverá iniciar o novo ciclo de queda da Selic a partir do terceiro trimestre deste ano.
A Associação Brasileira de Bancos (ABBC) também projeta, para esta semana, a manutenção da taxa de juros em 13,75%. "Acreditamos que a Selic deva ser mantida, ainda que tenham ocorrido alguns eventos no sistema bancário internacional que trazem riscos consideráveis à estabilidade financeira e ao cenário econômico", aponta Everton Gonçalves, Superintendente da Assessoria Econômica da ABBC, em nota.
Alberto Ramos, chefe de estudos para a América Latina do Goldman Sachs, também avalia que o Copom manterá a taxa Selic inalterada em um restritivo 13,75%. A autoridade monetária deve ainda, segundo ele, reiterar uma postura vigilante, apesar do enfraquecimento da atividade econômica, com sinais de desaceleração do mercado de trabalho e das condições de crédito mais restritivas.
"Esperamos que o Copom manifeste desconforto com a deterioração adicional das expectativas de inflação de curto e de médio prazos desde a última reunião (que leva a uma trajetória de inflação projetada mais alta e aumenta o custo da desinflação) e o alto nível e rigidez do núcleo da inflação; isso provavelmente limitará o escopo para uma flexibilização precoce e agressiva da política monetária, embora, em nossa avaliação, não elimine totalmente o espaço para um início lento de um ciclo de flexibilização até o terceiro trimestre de 2023", observa.
A XP Investimentos também reforça as apostas de manutenção da Selic em 13,75% no Copom desta semana, mesmo patamar que a instituição prevê para a taxa de juros básica no fim do ano. "Reconhecemos, entretanto, a possibilidade de cortes mais cedo, a depender da evolução dos choques financeiros e da forma que o Copom optará por administrar o balanço entre desaceleração da atividade e convergência da inflação", avalia a empresa. Segundo a XP, a inflação continua pressionada com aumento das projeções para o IPCA deste ano de 5,6% para 5,4%; as do ano que vem, de 3,4% para 3,5%.
O Boletim Focus, divulgado ontem pelo BC, apontou uma pequena redução na expectativa do mercado para a inflação em 2023. A projeção do ano caiu de 5,96% para 5,95%. A expectativa para o Produto Interno Bruto (PIB) também recuou de 0,89% para 0,88%.
A pequena oscilação aponta para uma estabilidade em 2023, mas com uma expectativa de alta nos próximos três anos. Em 2024, a projeção do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), segundo o Focus, avançou de 4,02% para 4,11%. Já em 2025,a projeção saltou de 3,80% para 3,90%; E, para 2026, subiu de 3,79% para 4,00%.
Os números também apontam a piora nas expectativas para o PIB nos próximos anos. Em 2024, o crescimento retraiu de 1,50% para 1,47%, em 2025 recuou de 1,80% para 1,70%, e o projetado para 2026 passou de 1,98% para um crescimento de apenas 1,80%.
Os números também apontam a piora nas expectativas para o PIB nos próximos anos. Em 2024, o crescimento retraiu de 1,50% para 1,47%, em 2025 recuou de 1,80% para 1,70%, e o projetado para 2026 passou de 1,98% para um crescimento de apenas 1,80%.
As previsões do mercado consolidadas pelo boletim Focus se mostram mais alarmistas do que a perspectiva da gestão Lula. Na última sexta-feira, a equipe econômica do governo apresentou a primeira previsão para a inflação e para o PIB. A análise aponta para uma inflação menor, mas mais próxima à estimada pelo mercado, em 5,31% — 0,64% abaixo dos 5,95%. Já a estimativa do Ministério da Fazenda para o crescimento do PIB em 2023, demonstra mais otimismo, com a previsão de alta de 1,6%, contra a expectativa do mercado de 0,88%.
Para especialistas, o número do PIB apresentado pelo governo é historicamente mais otimista que os projetados pelo mercado. "O mercado sempre vê com mais pessimismo que o governo. Eu acho que (o PIB) vai crescer bem menos, não tão baixo como a do mercado, algo em torno de 1,2%. Mas isso tudo vai depender de fatores domésticos e internacionais que nós ainda não temos como calibrar" pondera o economista e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), André Braz.
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