O governo argentino, em situação crescente de desespero, procura ajuda da China e do Fundo Monetário Internacional (FMI) para evitar uma crise cambial. A inflação no país deve atingir 145% neste ano, e uma recessão se avizinha. As reservas líquidas em moeda forte do banco central são praticamente inexistentes, e o peso argentino sofreu uma desvalorização de quase 40% em relação ao dólar americano no mercado paralelo em 2021.
Diante das eleições presidenciais e do Congresso em outubro, o governo peronista busca impedir uma forte desvalorização ou hiperinflação. Sergio Massa, ministro da Economia e pré-candidato à presidência, desempenha um papel crucial nesse cenário. Ele anunciou diversas medidas emergenciais para manter a economia estável, como taxas de câmbio especiais para estimular os exportadores de soja a embarcar suas colheitas e a troca de dívidas internas por vencimentos mais longos.
Massa visitará Washington no fim do mês, em busca de recursos adicionais do FMI. Porém, a severa seca que afeta a produção e as exportações agrícolas dificulta sua missão. Em junho, uma viagem à China resultou em um acordo para a Argentina ter acesso a US$ 5 bilhões adicionais em um acordo de swap cambial em iuanes. Massa também tenta convencer o Novo Banco de Desenvolvimento, instituição de crédito dos Brics sediada em Xangai, a admitir a Argentina como membro.
Desde o calote em 2020, a Argentina está isolada dos mercados internacionais e precisa financiar um déficit orçamentário estimado pelo JPMorgan em 3% de seu PIB neste ano. Com reservas internacionais líquidas estimadas em cerca de US$ 1,5 bilhão negativos, segundo analistas da Ecolatina, de Buenos Aires, Massa deposita suas esperanças no FMI para obter dólares.
Salvador Vitelli, da consultoria empresarial Romano Group, afirma que Massa busca evitar que a situação econômica saia do controle antes das eleições, mas que a seca nas exportações de soja dificulta esse objetivo. Federico Sturzenegger, ex-chefe do banco central no governo conservador de Mauricio Macri, critica a estratégia de Massa de contrair mais dívidas para sustentar o déficit fiscal.
O FMI, por sua vez, enfrenta um dilema em relação ao apoio ao seu maior devedor. Apesar do fracasso da Argentina em cumprir metas estabelecidas em um programa de crédito de US$ 44 bilhões acordado com o fundo no ano passado, espera-se que o FMI aprove mais recursos na próxima revisão em julho. Alejandro Werner, ex-chefe do departamento do hemisfério ocidental do FMI, acredita que o fundo não quer ser responsável pela crise argentina, mas também não quer o país em atraso por um longo período.
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