Brasília – A agência norte-americana de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) elevou de estável para positiva a perspectiva para os títulos soberanos do Brasil, diante dos “sinais de maior certeza sobre as políticas fiscais e de estabilidade para a política monetária”. Na avaliação da instituição, essas sinalizações “podem beneficiar as atuais projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro”.
“Apesar de déficits fiscais (das contas públicas) ainda elevados, o crescimento contínuo do PIB, os avanços no novo arcabouço fiscal podem resultar em um aumento menor do ônus da dívida do governo do que o inicialmente esperado”, destacou a agência. “A perspectiva positiva reflete sinais de maior certeza sobre a estabilidade da política fiscal que poderia beneficiar as projeções ainda baixas de crescimento do PIB do Brasil”, acrescentou.
Diante da perspectiva de avanços na política fiscal podem ajudar na flexibilização da política monetária, a agência aponta que ainda como fator positivo a resiliência da estrutura institucional do Brasil, com formulação de políticas baseadas em amplos freios e contrapesos entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Além de revisar de estável para positiva a perspectiva para o Brasil, a S&P reafirmou os ratings de crédito soberano “BB-/B” para os títulos soberanos de longo e curto prazos em moeda estrangeira e local.
É a primeira mudança na perspectiva do rating da instituição desde 2019. A agência também reafirmou o rating na escala nacional “brAAA”, e a perspectiva permanece estável. A avaliação de transferência e conversibilidade permanece “BB+”. “Nossa visão positiva baseia-se na perspectiva de que medidas contínuas para enfrentar a rigidez econômica e fiscal podem reforçar nossa visão da resiliência da estrutura institucional do Brasil e reduzir os riscos à sua flexibilidade monetária e posição externa líquida”, destacou o comunicado da S&P. Contudo, a agência faz alertas sobre as incertezas para frente em relação à dívida pública bruta, que ainda deve continuar crescendo, pelo menos, até 2025 ou 2026, destacou Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos.
“O texto é bem consistente e fala um pouco que o Brasil está em uma situação razoavelmente boa em relação a outros países emergentes que passaram pela pandemia”, afirmou Velho. Ele lembrou que essa melhora na perspectiva era esperada devido à melhora recente nas perspectivas de risco do país após o avanço do arcabouço fiscal, pois os prêmios de risco caíram, como os CDS (Credit Default Swap), que voltaram a ficar abaixo de 200 pontos.
“A nota da S&P dá uma sinalização positiva para a economia brasileira, mas dá uns alertas e mostra que o anterior era mais pessimista”, acrescentou Velho. Ele ressaltou que a melhora nas últimas semanas sobre essa percepção de risco está refletindo na Bolsa, que voltou a ficar acima de 115 mil pontos, e as apostas do mercado indicam que o Índice Bovespa poderá chegar a 135 mil pontos até o fim do ano. De acordo com o comunicado da S&P, a economia brasileira vem crescendo acima das expectativas do mercado. desde 2020, devido aos termos de troca favoráveis e ao consumo resiliente “após forte recuperação do emprego”. “Grandes de liquidez por parte do Banco Central e condições financeiras favoráveis em 2020-2021 também apoiaram a recuperação”, acrescentou, em relação aos pacotes de estímulo do governo desde a pandemia.
A S&P revisou, recentemente, a previsão de crescimento do PIB brasileiro em 2023, de 0,7% para 1,7%, devido ao desempenho muito forte do setor agrícola e seus efeitos colaterais na economia. Diante da desaceleração da inflação, a agência considera aposta em um provável afrouxamento da política monetária, levando o crescimento econômico do país a 2% até 2026. “Estimamos que o PIB per capita (do Brasil) chegará a US$ 9.700, em 2023, e tenderá a US$ 10.800, até 2026”, destacou o comunicado. “A taxa média do crescimento do PIB está aumentando, mas ainda é inferior ao de pares com o mesmo nível de desenvolvimento econômico”, acrescentou
Pelas redes sociais, o ministro Fernando Haddad comemorou o novo patamar do rating. “É importante que uma agência externa consiga observar esses avanços do Brasil. Tem muito trabalho a ser feito, esse é só o começo, mas penso que, se mantivermos o ritmo de trabalho, vamos conseguir atingir nossos objetivos”, disse Haddad. “O Brasil precisa voltar a crescer. Não há solução para o Brasil sem crescimento. É um resultado ainda modesto, mas importante. Está faltando o Banco Central se somar a esse esforço”, completou.
FED
O Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, interrompeu ontem o ciclo de alta de juros do país, mantendo o referencial uma faixa de 5% a 5,25%. A decisão ocorre após 10 altas consecutivas, o que elevou a taxa ao maior nível desde 2007. “Indicadores recentes sugerem que a atividade econômica segue crescendo em ritmo modesto. Os ganhos de empregos foram robustos nos últimos meses e a taxa de desemprego permaneceu baixa. A inflação continua elevada", comunicou o Fed em nota.Análise da notícia
Só um sinal
Por Marcílio de Moraes
A mudança na perspectiva da nota de crédito (o rating) do Brasil de estável para positiva pela agência de classificação de risco S&P é uma boa notícia, mas é apenas uma sinalização de melhora nas condições da economia brasileira, sem alterar significativamente a percepção dos investidores, principalmente grandes fundos de investimento. Isso porque a nota de crédito soberano do país foi mantida em BB-, patamar em que se encontra desde 2020 e que classifica o país como especulativo.
O governo tem motivos para comemorar, é mais um indicador positivo, principalmente considerando-se que essa é a primeira mudança na classificação de risco do país desde 2019. Mas é preciso lembrar que no fim do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva o Brasil alcançou o grau de investimento nas agências de classificação de risco. Perdeu em 2015, no governo Dilma Rousseff.
Hoje, o grau de investimento está três degraus acima da posição na qual o Brasil se encontra na classificação da S&P. A percepção de melhora da economia precisa da ratificação da Moody's e da Fitch, agências que no ano passado reafirmaram a classificação de risco soberando do Brasil em Ba2 e BB-, respectivamente. Na Moody's o país está a dois degraus do grau de investimento e na Fitch a três posições. Há um longo caminho a percorrer para o Brasil retomar a classificação de grau de investimento pelas agências de risco.
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