Fachada do Banco Central

Havia uma expectativa de que o Banco Central adotasse uma mensagem mais suave em documento divulgado nesta quarta-feira (21/6)

Marcello Casal Jr/Agência Brasil
A equipe econômica reagiu mal à decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de manter a taxa de juros em 13,75% e interpretou o comunicado como um "boicote" ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem cobrado o corte na Selic para estimular a atividade econômica.

Havia uma expectativa de que o Banco Central adotasse uma mensagem mais suave no documento, abrindo a porta para uma possível flexibilização da política monetária já no mês de agosto – o que foi frustrado pelo texto divulgado pela autoridade monetária.

De acordo com relatos ouvidos pela Folha, membros do governo subiram o tom contra o Banco Central e seu presidente, Roberto Campos Neto – alvo preferencial das críticas do governo petista. Agora, já se fala em "declaração de guerra" por parte da autarquia.

Um dos pontos que causou indignação é o trecho do comunicado que cita "alguma incerteza residual sobre o desenho final do arcabouço fiscal", apesar de a proposta ter sido aprovada nesta quarta-feira (21) pelo Senado Federal com poucas mudanças. Embora a decisão do BC tenha sido divulgada antes da votação, o texto do parecer já era conhecido desde a terça-feira (20).

Outra ala do governo ainda mantém esperanças de que a ata do Copom, a ser divulgada na próxima terça-feira (27) com maior detalhamento da decisão, traga um tom mais ameno, abrindo espaço para sinalizar um corte na Selic.

As críticas nos bastidores ecoam o tom adotado por Lula, que vem sistematicamente criticando Campos Neto pelo patamar dos juros no país. O petista já afirmou que Campos Neto não tem compromisso com o Brasil e sim com o governo de Jair Bolsonaro (PL), que indicou o atual chefe da autoridade monetária.


Além da pressão de Lula e de seus ministros, um grupo de 51 integrantes do Conselhão (Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável da Presidência da República), dentre eles a empresária Luiza Heleno Trajano, escreveu uma carta aberta pedindo corte de juros. Houve ainda um protesto em frente ao prédio do BC em São Paulo, na terça-feira (20), promovido por centrais sindicais.

Após a decisão desta quarta, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), defendeu a saída dos atuais integrantes do BC.

"Está na hora do Senado agir, com os poderes que a lei confere, para cobrar Campos Neto e a diretoria bolsonarista do Banco Central. Sabotam a economia e atuam propositalmente contra o país. Não há mais como tolerar esta situação. O certo é a saída desse pessoal", afirmou Gleisi em rede social.


O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), disse à reportagem que discorda da decisão do BC e reclamou que "nem aceno teve" para um corte de juros. "Não falei com ninguém [do governo] sobre isso, mas não deve ter gostado. Aliás, não o governo, acho que o Brasil não gostou", afirmou.

"Mas é o papel deles, eles estão fazendo a missão deles. Só quero ter o direito de discordar. Eu e o Brasil", acrescentou.

Mais cedo, durante a sessão, Wagner disse no plenário aos senadores que "não há nenhuma pretensão do governo de retirar o presidente do Banco Central".

"O presidente da República do nosso governo respeita a legislação vigente. Já existe a legislação da autonomia, tanto faz se concordo ou não, a lei esta aí e será respeitada", disse.


"Por outro lado, quero dizer que não é o governo, não é o presidente da República, são vários setores da economia que têm o direto [de criticar]. Quem senta na cadeira de presidente do Banco Central não é superior a nenhum de nós", afirmou Wagner.