Dados da inflação abaixo das projeções animaram os investidores, com valorização das ações

Dados da inflação abaixo das projeções animaram os investidores, com valorização das ações

Miguel Schincariol/AFP - 29/10/18


A Bolsa brasileira registrou nova alta ontem, após a divulgação do IPCA-15 de julho, que caiu mais que o esperado pelo mercado e reforçou apostas de um possível corte maior da Selic (taxa básica de juros) na próxima semana. Uma disparada da Vale diante da expectativa de estímulos econômicos na China também apoiou os negócios no Brasil. Já o dólar começou a sessão em queda, mas passou a operar em alta ao longo do dia, com investidores aguardando a próxima decisão sobre juros do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), que será divulgada hoje. As negociações também foram marcadas por um movimento de realização de lucros. Com isso, o Ibovespa subiu 0,54%, aos 122.007 pontos, enquanto o dólar avançou 0,33%, fechando o dia cotado a R$ 4,749.

Os dados da inflaçao reforçaram o otimismo do mercado sobre a queda da inflação neste ano, especialmente os resultados dos núcleos – que desconsideram o peso de fatores temporários sobre os índices – e do setor de serviços. “A avaliação confirma a expectativa de que a desinflação dos núcleos e serviços continua, e deve encerrar o ano em cerca de 50% com intensificação a partir de agosto. O número de hoje volta com o otimismo de que a velocidade de arrefecimento está em linha com a projetada”, diz Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Rena.

Já Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, diz que o IPCA-15 de julho dá sinais de melhora, mas não permite dizer que a queda da inflação está consolidada. “Ainda não dá para cravar que o agrupamento de serviços perdeu resiliência e nem que o processo desinflacionário está completo. Mas trata-se de mais uma observação benigna da inflação corrente, ainda que seja apenas um alívio”, afirma Sanchez. Para Alexandre Maluf, economista da XP Investimentos, os novos dados de inflação reforçam as apostas de um corte de 0,50 ponto percentual na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que ocorre na próxima semana. A casa manteve, porém, sua projeção de uma redução mais cautelosa de 0,25 ponto.

Para o consultor econômico da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimetno (Acrefi), Nicola Tingas a deflação de 0,07% do IPCA 15, com o acumulando em 12 meses caindo de 3,40% em junho para 3,19% agora dá ao Banco Central condição favorável para o início do ciclo de queda da Selic. “Estamos revisando de 0,25 ponto para 0,50 ponto”, afirma Tingas.
 
 
O diretor de investimentos da Nomos, Beto Saadia, também afirma que um corte de 0,50 ponto ganhou força após a divulgação do IPCA-15. “O novo dado coloca Roberto Campos Neto (presidente do Banco Central) num debate desconfortável sobre a redução de 0,50 ponto já na próxima reunião. Esse BC sempre atuou com mais rigor, manteve os juros maiores do que a expectativa do mercado e provavelmente deseja reduzi-los num ritmo mais lento que o esperado”, diz Saadia.

O economista aponta, ainda, que um corte de juros mais forte acompanhado de um aumento dos combustíveis – após a retomada da cobrança de impostos federais no início do mês – pode deixar o trabalho do BC mais ruidoso e provocar uma alta nos juros longos pelo mercado. As curvas de juros futuros, aliás, refletiram o aumento das apostas de um corte de maior magnitude. Os contratos com vencimento em janeiro de 2024 saíram de 12,70% para 12,63%, enquanto os para 2025 foram de 10,73% para 10,63%. Nesse cenário, a Bolsa brasileira registrou nova alta e superou os 122 mil pontos, apoiada por subida de ações da Vale (3,09%) e da Petrobras (2,31%), as maiores do Ibovespa, em dia positivo para commodities no exterior.