O preço médio da gasolina comum caiu R$ 0,24, por litro, na Grande BH. Em alguns postos, o combustível já é vendido abaixo de R$ 5. Etanol e diesel também apresentaram redução no preço, segundo pesquisa feita pelo Mercado Mineiro, entre os dias 25 e 27 de julho. No total foram consultados 200 postos na Grande BH. Na comparação com o levantamento feito em 7 de julho, a gasolina passou, em média, de R$ 5,40 para R$ 5,16, uma redução de 4,51% ou R$ 0,24 por litro. O preço mínimo encontrado foi de R$ 4,90, e o máximo, de R$ 5,99, variando 22,24%. O cenário, entretanto, pode se alterar, uma vez que há volatilidade nas cotações internacionais do petróleo, classificadas como um cenário de “grande incerteza” pela Petrobras. Isso pode levar a mudanças nos preços nas refinarias –, embora a estatal tenha dito, em comunicado divulgado ontem, que tentará evitar repassar “volatilidade conjuntural” ao mercado interno (leia texto abaixo).
No caso do etanol, o preço médio caiu 7,24% ou R$ 0,28, já que antes o valor era de R$ 3,82 e passou para R$ 3,54. O menor preço encontrado, entre os postos pesquisados, foi de R$ 3,12, e o maior de R$ 3,99, com uma variação de 27,88%. O diesel também teve queda de R$ 0,04 ou 0,76%. O preço médio, que antes era de R$ 4,87 passou para R$ 4,83. O menor valor encontrado foi de R$ 4,63 e o maior, de R$ 5,49, uma diferença de 18,57%.
O economista e coordenador do Mercado Mineiro, Feliciano Abreu, considera que dois fatores contribuíram para a queda no preço dos combustíveis: o custo do etanol e a concorrência mais acirrada. O etanol, explica, “acaba interferindo no preço (da gasolina), tanto em matéria de demanda – porque muita gente opta pelo combustível –, como em razão da própria composição da gasolina, que tem parte do etanol.” De acordo com ele, “o consumidor fica muito atento” às vantagens e desvantagens de usar o combustível derivado do petróleo ou de cana-de-açúcar e isso termina estimulando a concorrência.
Abreu destaca ainda os efeitos da volta da cobrança do PIS/Cofins e da Cide sobre os combustíveis, no fim de junho, quando a Medida Provisória (MP) 1.163/2023 perdeu a validade. Com isso, o litro dos produtos nas distribuidoras encareceu e muitos donos de postos acabaram repassando o aumento na íntegra para os consumidores. Ele lembra que a Petrobras não reduziu o preço dos combustíveis nesse período.
Mas agora a concorrência entre postos é maior, especialmente em decorrência da redução da demanda no atual período. “As férias afetam a Grande BH porque as pessoas acabam circulando menos de carro”, aponta. Para o economista, a queda nos preços pode ser uma tendência. “Se o etanol continuar caindo, pode jogar o preço da gasolina mais para baixo ainda.”
MAIS VANTAJOSO
A pesquisa mostra também que, no momento, está mais vantajoso abastecer com etanol na Grande BH, já que o combustível corresponde a 68% do valor da gasolina. Portanto, abaixo dos 70%, índice limite para que haja vantagem no uso do etanol, considerando o consumo dos dois produtos por quilômetro. O cálculo do custo do quilômetro rodado foi feito em um consumo fixado em 8,5km por litro no etanol e 11,5km por litro na gasolina.
O economista explica que a queda no preço do etanol está relacionada à safra da cana-de-açúcar. “Estamos em plena safra. Tem uma oferta maior de etanol no mercado. Inclusive, Minas está batendo recorde em relação ao ano passado”, ressalta. Segundo ele, a tendência é que o preço do combustível continue em queda neste período de safra, que vai até agosto. “Vai dar uma folga no preço dos combustíveis e da gasolina, principalmente, que é uma concorrente direta. É ótimo para o mercado, o setor e o consumidor, que tem uma opção além da gasolina.”
Abreu diz que, apesar da tendência de queda, não é possível prever como ficam os preços nos próximos meses, já que isso depende de inúmeros fatores. “Pode haver oscilações. Há alguns fatores que não conseguimos controlar porque estão relacionados ao mercado. Os donos de estabelecimento ficam sentindo o mercado para determinar os preços. As pesquisas são excelentes para o consumidor e para os pesquisados porque eles ficam por dentro e monitoram o preço dos concorrentes.”
MOTORISTAS COMEMORAM
A queda no preço dos combustíveis, com o etanol sendo mais vantajoso para abastecer, no momento, é motivo de comemoração dos consumidores. O motorista de aplicativo Bruno Meira, de 45 anos, optou por abastecer com etanol em um posto de combustível localizado na Avenida dos Andradas, no Bairro Santa Efigênia, Região Leste da capital. No estabelecimento, a gasolina é vendida a R$ 5,05 e o etanol a R$ 3,45.
“Trabalho com aplicativo, abasteço praticamente todos os dias. A economia com o custo do etanol está mais em conta, mesmo se rodar muito”, afirma. Ele calcula que o custo mensal com combustível gira em torno de R$ 2,5 mil. Além disso, aponta que a diferença de preços entre os postos é muito grande. Por isso, pesquisa antes de abastecer. “Como estou na rua no dia a dia, faço comparação entre as regiões para ver onde é mais vantajoso abastecer.”
O também motorista de aplicativo Robson Villas Boas, de 52, é outro que passou a adotar o etanol nos últimos dias. Ele também optou pelo combustível no posto da Avenida dos Andradas e ressaltou que, quando está na Região Hospitalar, abastece nesse estabelecimento por ser o mais barato da região. “Quando estou em outra região, como Contagem, onde moro, abasteço lá que é bem mais barato.”
O motorista diz ainda que sempre faz pesquisa de preço e gasta, em média, R$ 1 mil. “Foi excelente a queda de preços. Rodo muito e pesquiso o valor, percebi a queda nos últimos dias.” Mas mesmo diante da redução nos preços, ele diz que não costuma encher o tanque porque, afirma, o carro fica mais pesado. “Ando com, no máximo, meio tanque. Nunca ultrapasso, porque o consumo é menor do que com o tanque cheio. Agora, se for fazer um deslocamento mais longo, como uma corrida para o interior, encho o tanque porque o desenvolvimento é maior.”
Petrobras aponta “incertezas” nas cotações
Rio de Janeiro – Questionada pelas elevadas defasagens dos preços internos dos combustíveis, a Petrobras afirmou ontem que ainda vê grande incerteza em relação ao comportamento das cotações internacionais do petróleo e defendeu não repassar volatilidades ao mercado interno. O petróleo Brent, referência internacional negociada em Londres, ultrapassou ontem a casa dos US$ 85 por barril, diante de cortes de produção em países como Rússia e Arábia Saudita e de notícias a respeito das economias da China e dos Estados Unidos.
O cenário indica que as defasagens nos preços internos dos combustíveis permanecerão elevadas. Na abertura do pregão de ontem, a gasolina da Petrobras custava R$ 0,78 por litro abaixo da paridade de importação calculada pela Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom). Considerando refinarias privadas, a defasagem média nacional da gasolina é de R$ 0,68 por litro. No caso do diesel, a diferença nas refinarias da estatal era ainda maior, de R$ 0,83 por litro -a média nacional é R$ 0,75. Desde maio, quando alterou sua política comercial, a Petrobras vende combustíveis abaixo dessa referência – abandonada pela companhia quando alterou sua política de preços dos combustíveis.
Em comunicado divulgado ontem, a estatal diz que "tem observado com atenção os desdobramentos do mercado internacional de petróleo e seu impacto sobre o mercado brasileiro", mas reforçou que não repassará volatilidades aos preços internos. "O momento é de grande incerteza quanto à recuperação da economia global, o que influencia diretamente a demanda por energia, e quanto à oferta de petróleo e de combustíveis, de uma maneira geral", afirma. "Essa combinação, no curtíssimo prazo, levou a uma elevação dos preços de referência e da volatilidade", continua, ponderando que, por outro lado, há um crescimento no fluxo de combustíveis da Rússia para o Brasil. Mais barato, o produto russo tem pressionado para baixo os preços internos.
A nova política comercial da Petrobras considera a paridade de importação como uma espécie de teto para os preços internos, cujo cálculo considera também o custo de produção e as alternativas para o cliente. Especialistas vêm alertando, porém, que preços muito baixos geram distorções no mercado, com eventuais prejuízos para a estatal e produtores de etanol, como ocorreu no governo Dilma Rousseff.
No segundo trimestre de 2023, por exemplo, a Petrobras registrou o melhor volume de vendas de gasolina em seis anos, diante da melhor competitividade em relação ao etanol. Para abastecer seus clientes, teve que ampliar as importações do produto.
As vendas de gasolina pela estatal atingiram a média de 434 mil barris de gasolina por dia no trimestre, alta de 15,7% em relação ao mesmo período do ano anterior. A produção cresceu 4%, para 399 mil barris por dia. As importações somaram 52 mil barris por dia, bem superior à média recente.
As defasagens se ampliaram no início do terceiro trimestre. Na nota de ontem, a Petrobras diz que "reajustes continuam sendo feitos sem periodicidade definida, evitando o repasse para os preços internos da volatilidade conjuntural das cotações internacionais e da taxa de câmbio". E que qualquer decisão por reajustes será suportada por "análises técnicas e independentes". "A companhia reitera que ajustes de preços de produtos são realizados no curso normal de seus negócios, em razão do contínuo monitoramento dos mercados", reforça o texto. "O que compreende, entre outros procedimentos, análise de preços competitivos por polo de venda, em equilíbrio com os mercados nacional e internacional, levando em consideração a melhor alternativa acessível aos clientes."
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