Depois de uma escalada que assustou consumidores, o preço do quilo da carne bovina está em queda em Belo Horizonte. Apesar disso, o bife de boi não voltou aos pratos feitos (PFs) montados em restaurantes da capital, e muitos o cobram à parte, com acréscimos na conta que variam de R$ 2 a R$ 7.
Segundo pesquisa do site Mercado Mineiro em 38 açougues da capital, entre janeiro e agosto deste ano, um dos cortes mais servidos no PF, o contrafilé, teve redução de 8,8%. Para a picanha, carne mais cara, a queda foi de 14,5% nos pontos de venda.
Em contrapartida, outro levantamento feito pelo site mostra reajuste do PF em 3,83%. Em janeiro, o preço médio do prato feito na capital era de R$ 24,14. Atualmente, o custo é de R$ 25,06, em média.
Segundo o economista e coordenador do Mercado Mineiro, Feliciano Abreu, o valor dos PFs deveria no mínimo apresentar estabilidade. “O gasto caiu com o valor da carne diminuindo, mas o custo da alimentação fora de casa está subindo. Era para ficar, pelo menos, estável”, avalia. A provável explicação é uma busca de recuperação financeira após a pandemia.
“O comerciante quase quebrou durante a pandemia e, agora, vê que os insumos estão ficando mais baratos. Por isso, garante uma margem maior de lucro, até mesmo para conseguir recuperar dessa época”, analisa Feliciano.
Donos de restaurantes entrevistados pelo Estado de Minas justificam o preço diferenciado pelo fato de a carne bovina, ainda que em queda, custar mais que outras opções. Todos eles cobram o valor do bife de boi à parte, mas viram as vendas diminuírem quando a taxa foi instituída.
De fato, como o acréscimo pesa no bolso, há quem opte por outras carnes, embora haja clientes que não abram mão do tradicional PF com bife de boi. Um deles é Divino Silva. Todos os dias, ele almoça na região central de BH e paga pelo acréscimo. “Eu só como carne de boi, não gosto de outra. Reparei que teve aumento depois da pandemia, mas acho normal, porque os restaurantes também têm que pagar mais caro”, diz.
Fernanda Caetano e Vanilson Ribeiro discordam quanto à cobrança do acréscimo. Ambos almoçam fora de casa constantemente, mas se houver cobrança extra no prato escolhido, ele afirma procurar outro restaurante, enquanto Fernanda diz que concorda em pagar mais.
O preço da carne vai diminuir?
Segundo o economista Feliciano Abreu, a tendência é que o preço da carne bovina diminua ainda mais até o fim deste ano, devido ao grande investimento feito por produtores quando o valor estava mais alto. “A compra de animais para engorda foi feita com a aposta de que seriam vendidos pelo dobro do preço, mas agora tem bastante disponibilidade de carne no mercado interno. A expectativa é que o valor diminua”, prevê.
FALA COMERCIANTE
"Repasso o valor para manter a qualidade, porque se eu optar pelo preço, tenho que mudar o tipo de bife que sirvo, que é de contrafilé. Fiz a mudança no início deste ano, e o prato sai por R$ 18, com mais R$ 3 pelo acréscimo do bife de boi. Atualmente, são 45 pratos diários e só 15 com acréscimo"
- Lucas Silva Henrique Baião, dono do Cia dos Irmãos Bar e Restaurante
"O self-service sem balança é R$ 17,99, e com o contrafilé custa R$ 19,99. Percebi que, quando estava tudo no mesmo preço, as outras carnes saíam bem menos e o lucro era baixo. Fiz a mudança há cerca de dois anos e, mesmo abaixando o valor da carne, não compensa manter tudo igual, porque a de boi custa o dobro das outras. Atualmente, os clientes se adaptam , saem cerca de quatro quilos de carne bovina por dia, um gasto diário de R$ 300"
- Diego Cupertino Vasconcelos, dono do Quintal de Minas
"Cobro mais, porque o quilo (da carne bovina) também está mais caro. Antes da pandemia era tudo igual, mas precisei reajustar. Agora, o PF é R$ 20, e com boi custa R$ 23. Sirvo contrafilé ou chã de dentro. Geralmente, vendo 60 almoços por dia, 12 com boi. Mesmo com a inflação caindo, a carne bovina ainda custa o dobro das outras"
- Rogério de Araújo, dono do Restaurante Fogão de Lenha
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