A harmonização facial está em alta. Embora o conceito de um rosto bonito e de proporções ideais tenha se modificado ao longo do tempo, alguns conceitos de beleza, na verdade apontam mais para o passado e o legado da nossa essência primitiva do que para nosso futuro tecnológico.
Hoje, muitos homens têm recorrido a harmonização facial em busca de um rosto mais harmonioso e assim obtido como resultado um rosto com formato mais retangular, considerado belo e mais masculino. Isto na minha concepção está ligado ao fato de que ainda somos, em essência, primatas. Homens estão a aplicar ácido Hialurônico para deixar a mandíbula mais retangular e o queixo mais largo e pronunciado, o que dará a impressão ao sexo oposto de que o homem é mais forte e mais viril, e este conceito não é novo, e sim herdado de nossa ancestralidade primitiva.
A moda atual do rosto retangular e a impressão de força e poder que ele dá, está ligado ao nosso cognitivo primata de uma época em que tínhamos as mandíbulas mais desenvolvidas, pois comíamos basicamente carne. O primata que comia carne era considerado forte, devido a sua notória habilidade para a caça e, como resultado da evolução e do seu hábito carnívoro, apresentava as mandíbulas bem definidas. Hoje a comida é mais processada e não precisamos usar tanto os músculos da mandíbula para mastigar, o que tornou as nossas feições mais suaves. Há até quem coma carne hoje em dia e fique com a mandíbula dolorida pela falta de hábito de consumir este alimento.
De volta ao passado
Aquilo que está hoje em alta, que virou moda, e que se tornou padrão de beleza contemporâneo, na verdade, é apenas o reflexo da nossa ancestralidade primitiva, novamente a mostrar que está viva dentro de nós e que induz inclusive nas nossas impressões.
Isso faz-nos lembrar o quanto somos ainda animais mesmo em meio a uma evolução e serve para quebrar a nossa arrogância fútil, da estética como algo primordial, quando somos apenas animais tentando nos adaptar e ser aceitos na sociedade através da nossa aparência, em busca de aceitação. Ao invés de evoluirmos a ponto de perceber que é o nosso conhecimento, inteligência e a maneira que nos portamos na sociedade que faz a diferença, seguimos guiados pelo que vemos e pelo que nosso eu primitivo acha aprazível. Se somos a sociedade do conhecimento, nossas atitudes e ideias deveriam ser o verdadeiro atrativo, não apenas a nossa aparência.
O Estereótipo do super-herói
Repare que este formato quadrado ou retangular do rosto é como a maioria dos super-heróis é desenhada. Do Superman ao The Flash, ou até mesmo o Batman, com rostos quadrados ou retangulares. Note também que este é formato dos rostos da maioria dos atores de filmes de ação. Isto não é por acaso.
No entanto, muito antes do século 20 trazer estes heróis e do século 21 representá-los nas telas dos cinemas em alta definição, este estereotipo já era considerado um sinônimo de força e masculinidade, e muito valorizado em populações primitivas do norte da Europa, e que transmitiram tais características a alemães, escandinavos, e ingleses, que eram considerados fortes, dando origem aos vikings, bárbaros e tantos outros grandes guerreiros, sempre representados como poderosos.
O que se nota é que estamos brincando de evoluir mas a nossa questão genética não se perdeu e se, um dia for perdida, pode levar alguns milhares de anos. Até hoje, somos influenciados por aspectos, genótipo e fenótipo, semelhantes ao de nossos mais antigos ancestrais.
A aceitação da autoimagem
Apesar de supostamente tão evoluídos, ainda temos a tendência a acreditar mais no que vemos, pois, somos muito visuais. Tiramos muitas de nossas conclusões a partir do que vemos e seria hipócrita dizer que isto não acontece na vida real. Sim, aparência importa. E Na era da mídia social o gerenciamento da própria imagem virou um objetivo comum.
Não se pode negar, dada a nossa natureza primitiva e a tendência que temos a sermos atraídos pelo que os nossos olhos nos mostram, que uma boa apresentação faz a diferença. Contudo, acredito que podemos usar a inteligência para fazer isto de uma forma saudável e sem agredir o corpo ou a nossa mente, sem que tenhamos que ser o que não somos, como uma personagem, mas aceitando quem somos. Não sou contra os procedimentos estéticos, e sim contra o exagero, o abuso, a quase anulação da autoimagem em prol de uma obsessão. A busca incansável pela suposta perfeição pode levar, como efeito colateral, não apenas a corpos deformados, mas a outras distorções muito além do físico.
Vejo que hoje o investimento em cirurgias estéticas, salvo os casos em que ele se faz realmente necessário, como deformidades de nascença ou cirurgias reparadoras, é como um disfarce, uma máscara, para mostrar à sociedade o que não conseguimos mostrar talvez com a capacidade intelectual. E na era das mídias sociais, das selfies e de uma exposição em níveis jamais antes experimentados na história da civilização humana, a preocupação com a estética atinge o seu ápice. Se as vidas das pessoas fossem os seus perfis nas redes sociais, tudo seria realmente muito diferente do que realmente é.
O auto reconhecimento e a autoaceitação são grandes passos para atingir a autoconfiança plena e assim transmitir segurança para os demais ao nosso redor. Podemos ser admirados pelo comportamento e pela maneira de lidar com as pessoas sem precisar nos submeter a procedimentos e tratamentos estéticos invasivos. Há uma linha nada tênue entre cuidar de si e do exterior e a não aceitação, submetendo-se a cirurgias para transformar totalmente sua aparência em busca de se encaixar nos padrões.
Acredito que o caminho que leve a estarmos bem com a nossa autoimagem não necessariamente passe por uma mesa de cirurgia, salvo os casos já citados que demandam intervenção cirúrgica. Por exemplo, uma barba maior e mais bem cuidada, no estilo lenhador, pode trazer ao rosto características mais masculinas e a impressão de força e virilidade pretendida. Isto sem precisar de agulhas, sem preenchimentos, sem sofrimento. Investir em roupas, em vestir-se melhor, pode transmitir também uma mensagem positiva. São muitos recursos que podem ser usados para valorizar o exterior sem que seja necessário negar a si mesmo e se submeter aos ditames do modismo.
A Inteligência é o diferencial
Não podemos esquecer que a inteligência e a desenvoltura geral cognitiva social podem fazer a diferença. Como você se porta e como se expressa, a depender de onde você está e com quem está, chamará mais atenção que a beleza e o formato do seu rosto. A beleza exterior pode atrair, em especial as pessoas mais fúteis, mas o conjunto da obra, conteúdo e boa apresentação, podem causar as melhores impressões em pessoas mais interessantes e relevantes para os seus objetivos sociais, pessoais e profissionais. E ai está a evolução: identificar que temos sim nossa herança primitiva e a propensão a se deixar levar pelo apelo visual e usar tais informações ao seu favor, de modo inteligente, para atrair para si o que se quer.
Aprender a lidar com as frustrações é um sinal de maturidade e inteligência. Perceber que não é preciso ter as medidas encomendadas pelo mercado para ser bem resolvido consigo mesmo é libertador. Entender que sim, a sociedade pode ser superficial e tem expectativas em relação à aparência e saber usá-las ao seu favor, sem recorrer a exageros estéticos, é o diferencial trazido pela inteligência e pela evolução para além dos instintos primitivos herdados de nossos ancestrais primatas. Muito além de um rosto retangular e da força física, está aquilo que podemos conquistar e realizar com o nosso intelecto.