Minas Gerais está ampliando a oferta de turmas em tempo integral e implementando um novo modelo na matriz curricular da última etapa da educação básica como aposta para deixar de lado uma posição nada confortável no ranking da educação nacional. A partir do início do ano que vem, estudantes do 1º ano do ensino médio terão uma grade mais flexível, que contempla a base comum e obrigatória, mas também a possibilidade de novos percursos de aprendizado. Poderão escolher aquilo que faz sentido para seu itinerário escolar e de vida, incluindo formação técnica e profissionalizante. Para tanto, a carga horária aumenta e passa para 9 horas. Mas as mudanças são ainda muito incipientes face à realidade das salas de aula. Vão contemplar apenas 4,4% dos alunos do ensino médio. Ou seja, para a maior parte das matrículas nessa etapa na rede mineira resta o desafio de também ofertar uma estrutura capaz de frear o crescimento das taxas de abandono e tirar o estado do segundo lugar entre as unidades da Federação com o maior percentual de reprovação nos últimos quatro anos. No ensino fundamental, vagas do programa cortadas no início do ano devem ser retomadas também no ano que vem.
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É nesse cenário que será implantado, para esses 28 mil alunos, o novo ensino médio, formado pelas quatro áreas do conhecimento (linguagens e códigos, ciências da natureza, ciências humanas e matemática) mais o ensino profissionalizante. “No novo ensino médio, o estudante é protagonista do seu aprendizado”, destacou ontem a secretária de estado de Educação, Júlia Sant'Anna. A formação técnica entra como o quinto itinerário formativo, ao lado dos conteúdos previstos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). No ensino médio integral regular, são levados em conta o projeto de vida do adolescente (identificação de quais seriam seus interesses em relação ao futuro), o protagonismo e o aprofundamento acadêmico. No integral profissional, foi feito o diagnóstico de setores produtivos, empregabilidade e a diversificação de ofertas.
O ensino profissionalizante também tem seus diferenciais. Os cursos técnicos serão ministrados em 800 horas, no período de 18 meses, em 29 escolas. Os de formação inicial continuada (FIC), relacionados a turismo ou cultura, têm 160 horas em seis meses, e ocorrerão em 113 estabelecimentos de ensino. Ambos podem ser feitos concomitantemente ao ensino médio ou depois dele. Atendendo a demanda de municípios, o curso normal terá 6,4 mil vagas para a formação de profissionais voltados para a educação infantil. Eles serão ministrados em 1,6 mil horas em 18 meses.
Também não haverá mais turno e contraturno. As escolas vão organizar as disciplinas da base comum e as diferenciadas de acordo com sua realidade. Elas também vão oferecer disciplinas eletivas a alunos do 1º, 2º ou 3º ano. “O cardápio de cursos será discutido por nós com cada escola e ofertado a elas”, explicou Júlia. “Com mais tempo para estudar, o aluno poderá fazer as escolhas dele, inclusive para seu futuro imediato. Serão geradas opções de disciplinas eletivas e no projeto de vida, poderão planejar bem a sua trajetória ao longo dos três anos.”
Quadro preocupante
A nova proposta tem por trás dados preocupantes. De 2014 a 2018, Minas Gerais foi o segundo estado com o maior crescimento da taxa de reprovação, que ficou em 11,5%. E o único a registrar crescimento no percentual de abandono (3,5%). Além disso, tem uma meta a cumprir até 2024, da qual está ainda muito longe. De acordo com o Plano Nacional de Educação (PNE), o Brasil tem que oferecer em, no mínimo, 50% das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% dos alunos da educação básica.
A rede estadual de educação tem mais de 2,3 mil escolas com ensino médio e mais de 634 mil estudantes matriculados nessa etapa. Mesmo com a ampliação do tempo integral, 4,4% dos alunos e 12% das escolas terão acesso ao programa, considerado um impulsionador da educação brasileira. A secretária Júlia Sant’Anna disse que é preciso dar um passo de cada vez, mas disse estar otimista no cumprimento da meta. A subsecretária de Estado de Educação Básica, Geniana Guimarães Faria, destacou que o compromisso é mostrar aos jovens por que é importante estar numa escola em tempo integral, ao ser questionada sobre como alcançar ainda milhares de alunos. “Por isso, o abandono e a reprovação. Os estudantes não viam sentido na escola. Oferecer uma matriz em que ele veja sentido em estar 9 horas na escola muda a perspectiva”, afirmou.
Fundamental
No início do ano, a educação em tempo integral sofreu um duro golpe em Minas. O governo reduziu de 1.640 para apenas 500 (de um total de 3.612 colégios estaduais) o número de escolas de ensino fundamental com carga horária estendida. O atendimento a 111.528 alunos foi reduzido para cerca de 30 mil alunos. A secretária Júlia Sant’Anna garantiu ontem que mais 50 mil vagas serão anunciadas nos próximos dias, retomando o total que havia antes do corte. O atendimento em tempo integral já foi restabelecido a 64 mil estudantes da rede.