Não basta escrever bem nem ter boas ideias. É preciso seguir o padrão e não sair dos trilhos. O segredo para se dar bem na prova decisiva do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a redação, aplicada no primeiro dia da avaliação, é simples e se resume a três ações-chave. A primeira é apresentar uma tese adequada ao tema proposto. A segunda, argumentar, o que significa a problematização e fundamentação do ponto de vista. Por último, elaborar proposta de intervenção apta a ajudar a solucionar o problema. Ontem, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou a cartilha da redação, documento publicado anualmente dias antes do teste com as indicações dos pontos aos quais os participantes não podem fugir.
“É menos talento e mais técnica. O aluno precisa escrever corretamente de acordo com o que o Enem exige. O texto deve estar alinhado ao edital, pensando, claro, dentro da estrutura dissertativo-argumentativo”, afirma a supervisora de redação do Coleguium, Anna Carolina Araújo. “A cartilha casa com informações que professores repassam aos alunos no ensino médio inteiro. É importante olhar esse documento, consultar todas as redações que fizeram este ano, revisar as correções e, se possível, reescrever para consertar o que foi marcado como problema”, acrescenta.
Um ponto crítico e que leva muitos alunos ao erro é justamente no fim, quando se deve apresentar a proposta de intervenção. A professora destaca que o texto não precisa propor resolver todos os problemas do mundo. Basta uma parte, para colaborar para a resolução. E a proposta deve estar bem detalhada, obedecendo a uma regra que tem, no mínimo, quatro elementos muito bem claros: ação (o que será feito); o agente (quem fará); como a ação será executada (por meio de palestras, de parcerias, entre outros) e a finalidade (consequência imediata da ação). “Não vou mudar o mundo, mas vou transformar qual parte do problema? Se for possível, é bom algum detalhamento a mais: curto ou longo prazo, se vai precisar de dinheiro, como vai conseguir esse recurso”, explica Anna Carolina.
Tema
E, faltando nove dias para o primeiro domingo de provas, o momento é de revisão. “O que se espera do aluno do 3º ano é que ele tenha feito muita redação ao longo do ano. Por isso, vale rever, o que permite retomar estrutura, regras e conteúdos”, avalia. A expectativa é de que, este ano, o tema da redação seja neutro – não só a produção de texto, mas o Enem inteiro. A hipótese foi reforçada esta semana, quando o presidente do Inep, Alexandre Lopes, afirmou que quem fizer “redação de esquerda não será prejudicado”. Além disso, recentemente, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, deixou claro que a edição 2019 do exame será muito mais conteudista.
Dentro do critério técnico, a supervisora do Coleguium acredita e temas mais voltados para o cotidiano da sociedade, como saúde, segurança alimentar, obesidade da população, envelhecimento, esporte. Além desses, um assunto esperado há vários anos pelos professores ganha notoriedade com todo esse cenário: mobilidade urbana. “Tentar adivinhar é perigoso. Ano passado, o tema foi ligado à internet e à tecnologia, mas como muita gente tinha apostado em fake news, era o que havia mais parecido com aquilo ali. Nesses casos, o aluno se furta de pensar no tema mesmo”, diz.
Mas, não importa o tema, e sim, a forma. Nem o estilo, pois só vale um: o estilo Enem – impessoal, objetivo, com argumentação fundamentada em provas, estatísticas e causa e consequência. Valorizar uma segunda área do conhecimento também é fundamental para garantir mais pontos, pois o candidato precisa extrapolar o que normalmente está associado a essa área. “Se saúde é área-base, pegar questão da matemática, da filosofia, da história para comprovar que consegue relacionar o tema a qualquer área do conhecimento é extremamente importante”, ressalta Anna Carolina. E essa segunda área não precisa ser ciência. Pode ser tirinha, uma série, um filme – eixos temáticos que representam os repertórios socioculturais.
PRIMEIRO Outra dica preciosa diz respeito ao gerenciamento do tempo. Além da redação, os participantes serão submetidos aos conhecimentos das áreas de linguagens e humanas. Por isso, comece pela redação, fazendo esquema e rascunho. “Deixar para escrever um texto desse no fim, quando já está exausto, é quase a receita para o fracasso. Fazendo a parte principal com a cabeça descansada, ainda permite revisar o texto com mais proficiência, pois se consegue vê-lo com olhar mais de leitor do que de produtor do texto.”
De olho nesses detalhes, o estudante Heitor Avelar Campos, de 19 anos, quer aumentar os 840 pontos conquistados ano passado e, para isso, está em busca da nota mil. Ele se formou em 2018 no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG) em mecânica e, este ano, divide o tempo entre o estágio e o cursinho. Heitor fez um preparatório ano passado exclusivamente de redação, que é sua base até hoje. “Tentei mudar o modelo a que estava acostumado, mas piorei as notas no cursinho. Então, voltei ao original. Cheguei à conclusão de que cada um tem que criar seu próprio modelo”, diz o jovem, que quer uma vaga em engenharia mecânica.
Heitor fez, em média, uma redação por semana ao longo do ano e, perto da prova, passou a escrever duas. “É uma prova decisiva, mas, ao mesmo tempo, a única possível de se alcançar a nota máxima, com foco e muito treino. O segredo é estar preparado e dominar qualquer tema, pois isso é o inesperado da prova. Embora considere grandes as chances de uma redação que cobre algo relacionado a saúde, ele também prefere não apostar. “Por causa do momento social que o país vive, a única certeza é de que não será um tema polêmico.”
Bê-Á-Bá do texto
Características da redação nota mil
» Ter uma proposta de intervenção para o problema apresentado no tema
» Ter repertório sociocultural produtivo no desenvolvimento da argumentação do texto
» Respeitar os direitos humanos
» Apresentar as características textuais fundamentais, como coesão e coerência
» Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa
» Atender ao tipo textual dissertativo-argumentativo
Fonte: Inep/MEC
Treino com direito a diversão
Uma aula divertida promete ensinar estudantes em Belo Horizonte a tirar nota mil na redação. Amanhã, a professora Cíntia Chagas (foto), colunista do Estado de Minas, estará no Teatro Alterosa, no Bairro Floresta, na Região Leste, com o evento Hackeando a redação do Enem. Das 14h às 19h, ela vai falar tudo o que os candidatos ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) precisam saber para alcançar a pontuação máxima na prova decisiva da avaliação. Com 17 anos de experiência na área e um toque único de humor, ela cativa os alunos ao mesmo tempo em que mostra, na prática, exatamente o que fazer e garantir todos os pontos em cada competência avaliada na redação. Autora do primeiro Stand Up Comedy de Português do país, a professora tem índice de aprovação de mais de 90% dos seus alunos no curso de medicina. Cíntia se destaca por ensinar de uma maneira divertida e metodologicamente única. As vagas são limitadas e os ingressos estão no terceiro lote. Ingressos: https://cintiachagas.com.br/obg-1000-enem/