Não basta aprender na teoria: frente à urgência da preservação ambiental para a manutenção da qualidade de vida no planeta, crianças estão sendo estimuladas desde cedo para a adoção de práticas de sustentabilidade. E colocam a mão na massa.
Na rede de ensino da Grande BH sobram exemplos de que o aprendizado prático já gera resultados nas escolas e para além de seus muros. Um deles vem da turma de Gustavo Guimarães Motta, de 16 anos, estudante do 1º ano do ensino médio do Colégio Santo Agostinho – unidade Nova Lima.
Ano passado, a turma que integra o Grupo de Trabalho de Envolvimento e Iniciativa Ambiental venceu o concurso Minha Galera Faz Eco 2018 —promovido pela Coca-Cola FEMSA Brasil e que premia escolas de cidades mineiras. Com o prêmio, Gustavo e os colegas levaram a iniciativa de plantar hortas, criar compostagens (reaproveitamento de lixo orgânico para a criação de adubo) e sistemas de coleta seletiva em comunidades do entorno.
“Com o dinheiro, levamos o projeto para uma creche, duas igrejas e um condomínio aqui da região. Acaba que além de ensinar sustentabilidade para outras crianças e até para adultos, ajudamos na promoção de uma alimentação mais saudável e na reciclagem do lixo, processos que são importantes para a saúde das pessoas e a do planeta”, reflete o jovem, que já está engajado em novo projeto. “Neste ano, estamos investindo em legados de sustentabilidade, com a execução de jardins sustentáveis, criados a partir de conceitos como reutilização e reciclagem de matéria-prima.”
Gustavo lembra que tudo o que aprende é dividido também com a família e os amigos. Em casa, onde já havia horta, ele implementou uma compostagem. “Já não vemos com tanta frequência pessoas jogarem lixo no chão, por exemplo. Mas ainda falta muito para a conscientização de outras práticas: alto consumo de comida ultraprocessada, reciclagem, reaproveitamento”, avalia.
O professor de geografia da turma, Saulo Soares, informa que, desde 2017, a escola tem criado grupos de trabalho envolvidos em temas de sustentabilidade. “O principal objetivo é encorajar os alunos a saírem das discussões teóricas para implementar ações práticas, envolvendo parcerias com associações de catadores, entidades que trabalham com recursos hídricos e com projetos sociais. A ideia é fazer com que sejam multiplicadores de sustentabilidade, agentes de uma virada ecológica que o mundo tanto precisa.”
REAPROVEITAMENTO
No Colégio Batista Mineiro – unidade Castelo (BH), estudantes do 4º ano do ensino fundamental trabalham conceitos de sustentabilidade de maneira criativa, transformando o que seria descarte em objetos funcionais. Entre os feitos da turma há pipoqueira criada a partir de latas de refrigerante; balança feita com garrafas pet para medir o peso de produtos alimentícios e porta-ração feito com garrafa PET e papelão para evitar o desperdício.
Diretora da unidade, Christiane Silva, pedagoga, psicopedagoga e especialista em neuroeducação, descreve a metodologia utilizada nos projetos, inspirada na resolução de problemas. “Dessa forma, a aprendizagem fica mais significativa e o estudante se vê como protagonista. Consegue analisar, avaliar sua postura e modificá-la de acordo com as demandas sociais e as necessidades que ele mesmo identifica. Ele consegue desenvolver o sentimento de empatia e virtudes como cooperação, respeito, tolerância, criatividade, atenção, disciplina... tudo em prol do bem comum.”
A especialista afirma ainda que os alunos “se engajam muito e querem fazer diferente e diferença”. Uma vez empenhados, espalham os conceitos mundo afora. “Eles realmente impactam as famílias e cobram mudança de ação, de hábitos.” Ela justifica a importância da adoção de conceitos de sustentabilidade no ensino. “Um projeto como esse mobiliza diversos saberes e desenvolve várias habilidades. Não temos dúvida do impacto na vida das crianças e no dia a dia das famílias. Quando uma criança amplia sua visão de mundo e coloca a mão na massa, ela desenvolve a capacidade de refletir sobre seu comportamento e decidir pela mudança de atitude.”