O assunto de quando retomar as aulas é uma questão que coloca governantes, gestores, pais e professores muitas vezes em lados opostos. Não há consenso sobre como e quando retornar às salas de aula. Todos devem voltar seguindo protocolos de segurança? Deve-se retomar em ensino híbrido? Permanecer em ensino remoto?
Qualquer sugestão gera polêmica. Neste momento, buscar orientação no exemplo de outros países pode ajudar, aproveitando para saber o que deu certo e o que deu errado e, assim, se inspirar para aplicar um modelo melhor aqui. Olhar para fora é essencial em um momento em que a sociedade aprende a lidar com esse novo vírus.
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Pesquisadores estudam adaptação de caneta que detecta câncer para o coronavírusPBH analisa conjugar dois anos em um na educação municipalCoronavírus: volta às escolas públicas começa cercada de medo no BrasilEnsino remoto pode continuar até o fim de 2021, diz conselho de educaçãoCOVID-19 provoca evasão e quebradeira de escolas infantis em MinasEntre as nações que decidiram pela retomada das aulas de forma presencial, um bom exemplo é o Japão. No entanto, o que serviu para o país asiático não pode ser simplesmente reproduzido aqui, é preciso adaptar. São evidentes as diferentes situações em que Brasil e Japão se encontram atualmente com relação à pandemia do novo coronavírus.
Nesta quarta-feira (13/8), o Japão havia registrado 50.210 casos confirmados e 1.059 mortes, enquanto o Brasil, na mesma data, encontra-se na marca dos 3.180.758 casos confirmados e 104.528 mortes.
O caso japonês
O estado de emergência em decorrência da pandemia de COVID-19 foi implantado em 7 de abril no Japão. Essa medida permaneceu em vigor até 25 de maio, quando foi revogada. Em relatório produzido na reunião de especialista sobre medidas contra a COVID-19, divulgado pelo Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do Japão e traduzido pela Embaixada do Japão no Brasil, a contenção de novos casos é atribuída às medidas adotadas no país.
O relatório aponta fatores que foram importantes para reduzir a disseminação do vírus. Entre eles estão: acesso a tratamento médico de alto nível, nível elevado de padrão de higiene pública, alta consciência a respeito da higiene dos cidadãos, detecção rápida e medidas contra a infecção coletiva.
Segundo o documento, a confirmação do primeiro caso em solo japonês ocorreu em 16 de janeiro, e o primeiro caso de transmissão comunitária foi em 28 do mesmo mês. Em 10 de abril, o país atingiu o pico da notificação de novos casos diários. Após a declaração do estado de emergência, em 7 de abril, houve diminuição na disseminação do novo coronavírus.
Reabertura das escolas
Segundo informações divulgadas pelo Ministério da Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia (MEXT) traduzidas pela Embaixada do Japão, em 1º de junho, 99% das escolas públicas do Japão estavam reabertas. Desse total, 55% tinham retornado totalmente, 27% em modo de escalonamento de turmas e 17% com turno reduzido. Desde o fechamento de todas as escolas e a data do levantamento, passaram-se 91 dias.
A Embaixada do Japão avalia que os riscos de contaminação de alunos dentro de sala de aula estão sendo reduzidos em decorrência da adoção de medidas profiláticas. As ações seguem o Manual de cuidados com a higiene, formulado pelo MEXT.
Confira detalhes de regras desse manual no vídeo:
Um time de funcionários da Embaixada do Japão no Brasil se reuniu para responder a questionamentos enviados pelo Correio. “Dentre os principais aspectos da experiência japonesa que merecem maior atenção, estão os cuidados em evitar três condições: espaços fechados, aglomerações e contato próximo”, refletem os colaboradores da embaixada.
“É importante a ideia de ‘nova vida cotidiana’, em que serão mantidas medidas básicas contra a infecção, tais como uso de máscara e manter a higiene com a lavagem das mãos”, completam. “Atualmente, há regiões onde se verifica a tendência de avanço da infecção, portanto, mais medidas contra a infecção continuam sendo tomadas, incluindo nas escolas”, explicam.
Futuro das crianças
A Embaixada do Japão informa que, após a desaceleração da pandemia em meados de maio, as escolas começaram a considerar a ideia de retomar a educação devido à sua importância, mas tomando os devidos cuidados, baseando-se na teoria da impossibilidade de zerar o risco da contaminação.
Além de medidas de profilaxia e cuidados para que não haja novos infectados, foram adotados passos para amenizar os déficits de aprendizagem. Com essa premissa, o MEXT anunciou o Pacote abrangente para garantir a aprendizagem das crianças na crise de COVID-19. “No Japão, considera-se que o futuro do país depende do aprendizado das crianças”, explica a embaixada do país em Brasília.
Entre as medidas presentes no pacote, está o apoio às escolas com o aumento do quadro de profissionais, prevendo um acréscimo de 3.100 novos professores. Além disso, verbas adicionais serão dirigidas para cada escola. A inovação também tem importância no pacote, sendo dirigidos cerca de 460 bilhões de ienes à aceleração para estruturar ambientes equipados com as TICs (tecnologias da informação e comunicação).
*Estagiário sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa