Jornal Estado de Minas

PREJUÍZO NA EDUCAÇÃO

Escolas infantis falam em colapso com aumento no cancelamento de matrículas


Pelo menos um quarto das escolas infantis em Minas Gerais devem fechar definitivamente as portas até o fim do ano e, entre as que continuarem abertas, são cada vez menores as chances de cumprimento do mínimo de horas letivas previstas para o calendário de 2020. Cinco meses se passaram desde que as salas de aula ficaram vazias – desde 18 de março - por causa da pandemia do novo coronavírus, e resta menos de quatro meses e meio para o fim do ano civil. Com o crescente cancelamento de matrículas, o setor já fala em colapso. 





Segundo projeções do Sindicato das Escolas Particulares do Estado de Minas Gerais (Sinep-MG), passadas com exclusividade ao Estado de Minas, os cancelamentos atingem 30% a 40% do total. A inadimplência nas escolas já chega a 50% da receita das instituições.

Na edição desta terça-feira, o EM mostrou a evasão e a crise na educação infantil. Pais estão preferindo tirar crianças para não pagar mensalidades em escolas que optaram por não adotar o ensino remoto ou o adotaram em tempo reduzido. O entendimento de muitos é que os termos do contrato de prestação do serviço (aulas presenciais) não está sendo cumprido.

O desemprego ou redução da renda foi outro fator determinante nessa decisão. 

O resultado tem sido o fechamento de escolas ou de ciclos inteiros da educação infantil (no caso de colégios que oferecem também a partir do ensino fundamental) e demissão de professores e funcionários.



Segundo o Censo de 2019, somente Belo Horizonte conta com 902 escolas privadas de educação infantil, que atendem a 60.557 alunos nas creches e pré-escola. Esse montante corresponde ao atendimento de 55,19% da demanda do ensino infantil na cidade.  

Além de não conseguirem se sustentar financeiramente, o Sinep estima que as instituições que ainda estão de portas abertas não conseguirão cumprir as 480 horas do calendário deste ano.

Em nível nacional, o Ministério da Educação retirou a obrigatoriedade de cumprimento de 200 dias letivos, mas não abriu mão das 800 horas.

No caso da educação infantil, que não teve o ensino remoto regulamentado, o Conselho Nacional de Educação (CNE) recomendou seguir brecha na Lei de Diretrizes e Bases, que permite 60% da carga horária (480 horas). A mesma indicação foi dada, no caso de BH, pelo Conselho Municipal de Educação. 

Situação crítica


Neste momento, pesam aflições, inseguranças, contratempos, incertezas, especulações, além de distanciamento físico, isolamento social e medidas de controle de transmissão da COVID-19 para proteger a saúde. Tudo isso sem uma previsão de vacina.



“Continuamos vivenciando, com muita tristeza, a situação crítica da escola particular mineira, como jamais vimos em nossa história. Em especial as escolas de educação infantil, as mais afetadas pela pandemia e tão importantes para o desenvolvimento humano”, afirma a presidente do Sinep-MG, Zuleica Reis.  

“Buscamos alternativas de atividades não presenciais para manter, na medida do possível, o vínculo com as famílias, o contato com os estudantes e a sequência do ensino/aprendizado da melhor forma possível. Contamos com incansáveis professores que, mesmo exaustos, continuam não medindo esforços para vencer esse momento de crise”, acrescenta.

Zuleica lembra que a escola “secular” se transformou em remota em curto espaço de tempo e cobra a inserção da educação no plano Minas Consciente – programado governo do estado para a retomada econômica dos municípios.  

“Fomos convidados a participar de algumas reuniões, sem nenhuma perspectiva de avanço ou direcionamento. Sem nenhum horizonte ou previsão. Hoje percebemos o quanto é real o pouco valor que os órgãos públicos dão à educação, especialmente porque, em ano eleitoral, é mais fácil se apropriar de discursos demagógicos e oportunistas”, diz.

Ela reitera que a intenção não é forçar um retorno, mas ter um direcionamento: "Só retornaremos quando os órgãos da saúde sinalizarem que as escolas estão permitidas para tal, com segurança, sem grandes riscos para professores e alunos. O que insistimos mais uma vez é na participação das discussões, que devem ser propositivas, com horizontes, projeções, para que possamos orientar as escolas com antecedência. O silêncio dos órgãos competentes educacionais, a falta de posição dos comitês e as declarações desanimadoras das autoridades trazem a sensação de que a escola particular e a educação não têm real importância para o estado e os municípios”. 





(foto: Sinep-MG/Facebook)

Migração para a rede pública


Como o EM mostrou, a situação das escolas particulares mineiras preocupa o Ministério Público de Minas Gerais e a Prefeitura de BH. Isso porque a expectativa é de que parte dessas crianças que não mais estão matriculadas irá para a rede pública de ensino.

De acordo com a Secretaria Municipal de Educação da capital, quando os atendimentos presenciais forem retomados haverá um recenseamento de vagas e anúncio do mecanismo de um cadastro excepcional para acesso a elas para quem saiu da rede particular.

Já as promotorias de Justiça acompanham do ponto de vista econômico e pedagógico para auxiliar na solução de questões contratuais ou, no caso da migração para as redes públicas, garantir as vagas.