Jornal Estado de Minas

IMPACTO NA EDUCAÇÃO

Quase 800 escolas particulares mineiras devem fechar em 2021, estima sindicato

Cerca de 800 escolas particulares, quase todas de pequeno porte e de atendimento exclusivo à educação infantil, devem fechar as portas no ano letivo de 2021. Essa é a estimativa de uma pesquisa realizada pelo Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG), que também avaliou outros impactos financeiros da pandemia da COVID-19 nas instituições de ensino.





Embora ainda não haja o número exato de instituições que virão a fechar, a estimativa é de que atinja 25% do total de pequenas escolas de educação infantil.

Em alguns casos, até mesmo grandes colégios devem deixar de oferecer a creche (de 0 a 3 anos, em que a matrícula da criança não é obrigatória) em 2021 devido ao grande número de pais inadimplentes e de cancelamento de contratos nessa faixa etária.

"Muitas famílias tiveram a situação financeira comprometida e, além disso, em algumas cidades, o Conselho Municipal de Educação não valida a oferta como parte da carga horária obrigatória, como é o caso de Belo Horizonte. Isso causa um desestímulo para que os pais continuem pagando", defende Zuleica Reis, presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais.





Em junho, o Conselho Municipal de Educação de Belo Horizonte estabeleceu a redução da carga horária anual das escolas infantis em 60% para 2020, passando de 800h para 480h. Na visão do sindicato, o cumprimento ainda é um grande desafio para as escolas.

"A questão é que essas horas têm que ser presenciais. E a gente já está entrando em outubro e sabemos que ainda não temos condições de voltar. Precisamos que essas horas remotas sejam validadas", argumenta a presidente.

"Já protocolamos esse pedido junto ao Conselho Municipal de Educação, com documentos científicos que provam que a qualidade do trabalho oferecido vão além da tela do computador, mas auxiliam no desenvolvimento das crianças".





A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Belo Horizonte, que ainda não se manifestou sobre o assunto.

Empregos e renda


Reis complementa que essa validação é importante também para a manutenção dos empregos de professores e funcionários da educação infantil da rede particular: "O maior impacto da pandemia foi no segmento infantil, como esperávamos. Foi o maior número de redução de salários de professores e de funcionários".

De maneira geral, 32,2% das escolas particulares reduziram os salários durante o período de pandemia do novo coronavírus. Desses, 28,9% dos atingidos foram professores e 42,7% foram funcionários administrativos e serviços.

Na educação infantil, o número de escolas que reduziram salários sobe para 48,9% – sendo, de longe, o índice mais alto na educação básica (ensinos fundamental e médio).





A inadimplência também atinge principalmente a educação infantil. Em geral, a média é de 37,4%; na educação infantil, salta para 40,9%.

O cenário também se repete quando o assunto é o cancelamento de matrículas. Em geral, a média é de 26,2%; quando a análise é somente a educação infantil, esse número sobe para 30,1%.
 

Fechamento


A Escola Infantil Companhia da Criança, no Palmares, Região Nordeste de BH, foi um exemplo de fechamento após 20 anos de funcionamento.

"Escola grande se sustenta com o fundamental e o médio, mas para as pequenas não tem jeito. Admiro quem ainda está com as portas abertas, porque mesmo as grandes estão em dificuldade. São muitos encargos, e o auxílio do governo às empresas acaba em breve", disse a educadora Angelita Machado Viana, dona da escola. 





Retorno às aulas


O sindicato não esconde a ansiedade pelo retorno às aulas presenciais. "Principalmente em função do tempo muito longo. Vemos que já há um movimento dos pais a favor do retorno", diz Zuleica.

"No caso das escolas particulares, precisamos ter a equipe preparada, trabalhando as questões de higienização e distanciamento. Reivindicamos a autonomia, para que cada escola faça a sua escala, pois cada uma tem sua dimensão e estrutura", defende.

O sindicato pede uma "pacto coletivo", para que haja o respeito dos profissionais e das condições de retorno. "Qualidade e discernimento para ver quantas famílias querem voltar e como podemos organizar a escola dentro da segurança possível", conclui.

Membros do sindicato se reuniram com a secretária de Estado de Educação, Julia Sant'Anna. Há expectativa de que o Governo do Estado autorize o retorno das aulas presenciais a qualquer momento. (Com informações de Júnia Oliveira) 

*Estagiário sob supervisão da subeditora Kelen Cristina