Cerca de 800 escolas particulares, quase todas de pequeno porte e de atendimento exclusivo à educação infantil, devem fechar as portas no ano letivo de 2021. Essa é a estimativa de uma pesquisa realizada pelo Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG), que também avaliou outros impactos financeiros da pandemia da COVID-19 nas instituições de ensino.
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Remédios do programa Farmácia de Minas continuarão a ser entregues em casaMinas Gerais ainda não tem previsão de ter uma vacina contra o coronavírusPrincipal cartão-postal da fé de belo-horizontinos será reaberto em outubroEstudantes veem mudanças definitivas no ensino pós-pandemia, aponta pesquisaEm alguns casos, até mesmo grandes colégios devem deixar de oferecer a creche (de 0 a 3 anos, em que a matrícula da criança não é obrigatória) em 2021 devido ao grande número de pais inadimplentes e de cancelamento de contratos nessa faixa etária.
"Muitas famílias tiveram a situação financeira comprometida e, além disso, em algumas cidades, o Conselho Municipal de Educação não valida a oferta como parte da carga horária obrigatória, como é o caso de Belo Horizonte. Isso causa um desestímulo para que os pais continuem pagando", defende Zuleica Reis, presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais.
Em junho, o Conselho Municipal de Educação de Belo Horizonte estabeleceu a redução da carga horária anual das escolas infantis em 60% para 2020, passando de 800h para 480h. Na visão do sindicato, o cumprimento ainda é um grande desafio para as escolas.
"A questão é que essas horas têm que ser presenciais. E a gente já está entrando em outubro e sabemos que ainda não temos condições de voltar. Precisamos que essas horas remotas sejam validadas", argumenta a presidente.
"Já protocolamos esse pedido junto ao Conselho Municipal de Educação, com documentos científicos que provam que a qualidade do trabalho oferecido vão além da tela do computador, mas auxiliam no desenvolvimento das crianças".
"Já protocolamos esse pedido junto ao Conselho Municipal de Educação, com documentos científicos que provam que a qualidade do trabalho oferecido vão além da tela do computador, mas auxiliam no desenvolvimento das crianças".
A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Belo Horizonte, que ainda não se manifestou sobre o assunto.
Empregos e renda
Reis complementa que essa validação é importante também para a manutenção dos empregos de professores e funcionários da educação infantil da rede particular: "O maior impacto da pandemia foi no segmento infantil, como esperávamos. Foi o maior número de redução de salários de professores e de funcionários".
De maneira geral, 32,2% das escolas particulares reduziram os salários durante o período de pandemia do novo coronavírus. Desses, 28,9% dos atingidos foram professores e 42,7% foram funcionários administrativos e serviços.
Na educação infantil, o número de escolas que reduziram salários sobe para 48,9% – sendo, de longe, o índice mais alto na educação básica (ensinos fundamental e médio).
A inadimplência também atinge principalmente a educação infantil. Em geral, a média é de 37,4%; na educação infantil, salta para 40,9%.
O cenário também se repete quando o assunto é o cancelamento de matrículas. Em geral, a média é de 26,2%; quando a análise é somente a educação infantil, esse número sobe para 30,1%.
Fechamento
A Escola Infantil Companhia da Criança, no Palmares, Região Nordeste de BH, foi um exemplo de fechamento após 20 anos de funcionamento.
"Escola grande se sustenta com o fundamental e o médio, mas para as pequenas não tem jeito. Admiro quem ainda está com as portas abertas, porque mesmo as grandes estão em dificuldade. São muitos encargos, e o auxílio do governo às empresas acaba em breve", disse a educadora Angelita Machado Viana, dona da escola.
Retorno às aulas
O sindicato não esconde a ansiedade pelo retorno às aulas presenciais. "Principalmente em função do tempo muito longo. Vemos que já há um movimento dos pais a favor do retorno", diz Zuleica.
"No caso das escolas particulares, precisamos ter a equipe preparada, trabalhando as questões de higienização e distanciamento. Reivindicamos a autonomia, para que cada escola faça a sua escala, pois cada uma tem sua dimensão e estrutura", defende.
O sindicato pede uma "pacto coletivo", para que haja o respeito dos profissionais e das condições de retorno. "Qualidade e discernimento para ver quantas famílias querem voltar e como podemos organizar a escola dentro da segurança possível", conclui.
Membros do sindicato se reuniram com a secretária de Estado de Educação, Julia Sant'Anna. Há expectativa de que o Governo do Estado autorize o retorno das aulas presenciais a qualquer momento. (Com informações de Júnia Oliveira)
*Estagiário sob supervisão da subeditora Kelen Cristina