A questão mais esperada do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e que faz girar apostas em qualquer curso preparatório é, sem dúvida, o tema da redação. Em tempos de coronavírus, o assunto, na crista da onda há quase um ano, poderia ser o grande “homenageado”, mas, como de previsível a prova mais importante e decisiva da avaliação nada tem, vale a pena desconfiar e se ligar em outras possibilidades. Hoje, o Estado de Minas mostra algumas delas e, nos próximos dias, faz também um giro por conteúdos das outras áreas do conhecimento cobradas nas versões impressa e digital, com dicas preciosas de quem é fera nas matérias.
Segundo ela, publicações nas páginas oficiais do governo são fortes indicativos de temas. “Em sua página e no Instagram, o Ministério da Educação(MEC) postou vários artigos, fotografias e mapas mentais sobre a redação e outras áreas. Isso ajuda os alunos que estão se preparando a distância a ter um norte ou, pelo menos, tentar identificar um ‘spoiller’ da redação”, afirma. Nesse sentido, publicações que envolveram repostagens do MEC e de outros ministérios ganham força. “No início do ano, tivemos uma repostagem do MEC sobre tabagismo. A área da saúde é possível e engloba vários temas. Outros aspectos são os diferentes programas educacionais, como o dedicado à formação de professores de alfabetização. Há também programa de incentivo à leitura e à família. O assunto alfabetização está bem em evidência”, diz Janiny.
Uma aposta que não descarta possibilidade de dar zebra. “Há um universo tão vasto de temas e quando pensamos na questão da COVID-19 mesmo, se o governo optar por falar, terá de trazer estrutura temática bem delimitada. Em relação a temas que podem cair, já tivemos surdos, violência contra a mulher, intolerância religiosa e as temáticas foram fiéis a tudo que estava acompanhando os governos da sua época. Seria a grande zebra (COVID), mas é o que as pessoas estão vivendo”, ressalta a coordenadora do Chromos.
Nesse caso, Janiny explica que a delimitação de temas de difícil discussão pelo fator controverso se faz por meio de intervenções possíveis, uma vez que o candidato precisa se mostrar crítico em situações-problema no mundo. A exemplo do tema de 2016, quando foram cobrados caminhos para combater o racismo no Brasil e caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil, na segunda e primeira aplicações, respectivamente. “Algo que pode suscitar polêmica estará relacionado a alguma sugestão e intervenção. Assim, caminhos para amenizar impactos da COVID-19 cobra do candidato que ele se demonstre preocupado com uma intervenção e o governo sai pela tangente dessas polêmicas.”
Com cerca de 50 redações feitas este ano, o estudante Lucas Santiago, de 20 anos, aluno do pré-vestibular Chromos, se preparou não apenas para ir bem, mas para tirar nota 1 mil. Ao longo da preparação em 2020, foram quatro notas máximas. Em casa, em Belo Horizonte, ele brinca que tem um texto em cada cômodo, pois escreve e passa para os pais lerem. “Quando saí do ensino médio não estava realmente preparado para fazer uma redação totalmente coerente com o que pede o Enem. Além da maturidade que ganhei, no curso preparatório há um direcionamento dos professores para atender aos objetivos pretendidos. Saí de uma nota 680 no fim do ensino básico para 920 no ano passado”, conta o jovem, que quer cursar medicina.
Assim como a professora Janiny, Lucas aposta em temas relacionados ao eixo da educação. “Em 2019, uma semana antes da prova, publicaram ações de democratização de acesso ao cinema e foi esse o tema”, lembra. “Estamos vivendo uma revolução nos paradigmas da educação, mostrando que temos muito a aprender e evoluir”, ressalta. “Prefiro o ensino presencial, mas me adaptei ao on-line e no curso que quero é preciso capacidade de se adaptar. Estou fazendo o que posso para ter o melhor rendimento possível. A mudança veio forçada e enfrentou muita gente conservadora nessa área, embora houvesse há muito tempo movimento pregando ensino remoto”, diz.
Para esta reta final, estava na agenda a última produção semanal de textos, sem esquecer do descanso. “Horas e horas de estudo na última semana de prova não vão mudar muito, pois o que tinha de ser aprendido já foi. E descansar é parte da preparação.”
Regra básica: propor solução sem ferir direitos humanos
Identificar a situação-problema e se posicionar frente a ela é obrigação de todo candidato, não importa o tema. Todos exigem a mesma estrutura: introdução, uma boa dose de argumentos e, para encerrar, proposta para solucionar a questão abordada. A coordenadora da área de redação da Rede Chromos de ensino, Janiny Nominato, explica que posicionamento é a base dessa estrutura dissertativo-argumentativa, sendo necessário trazer informações de fora dos textos motivadores, mostrar que conhece e saber se posicionar, elaborar defesa de um ponto de vista e, ainda, apresentar intervenção. “É importante que saibamos apontar problemas sociais, políticos, econômicos e culturais, mas, sobretudo, apontar soluções. Sociedade crítica não é apenas aquela que sabe apontar um problema, mas se posicionar frente a ele, defender uma posição e ainda apresentar sugestões de intervenções. É muito fácil criticar os outros, mas na hora de apresentar sugestão de melhoria é muito difícil. E o Enem quer isso da gente”, destaca a professora.
Outro ponto importante da redação: proibido ferir os direitos humanos no momento da intervenção. E isso se traduz por intolerância e tudo que fere a dignidade humana, direitos de ir e vir e liberdades individuais. “Ano passado, uma pessoa falou que deveria acabar com o cinema. Isso fere o direito cultural. Conhecer a Declaração Universal dos Direitos Humanos é aspecto importante, porque é uma prova cidadã”, lembra Janiny.
Se antes esse passo mal dado anulava toda a redação, há dois anos zera apenas a proposta. Ou seja, o aluno perde 200 pontos. “E perder 200 pontos na redação complica muito o ingresso na universidade”, avisa. São motivos para zerar a redação: texto insuficiente (até sete linhas), escrita ilegível, parte deliberadamente desconectada (para demonstrar a relevância de se fazer o Enem, pois envolve dinheiro público), palavrões, desenhos na pauta de escrita, não se ater a uma dissertação argumentativa.
Dicas para se dar bem na redação
» Mostre-se crítico em situações-problema no mundo.
» Preocupe-se em escrever com letra legível. Se considerarem ilegível, ou seja, não dá para entender, é zero.
» É possível o aluno que comete erros gramaticais ter uma boa nota se sabe propor intervenção e articular ideias.
» É importante conhecer a Declaração Universal dos Direitos Humanos, porque o Enem é uma prova cidadã.
» O texto exige dissertação argumentativa, não é poema, música nem desabafo.
Fonte: Janiny Nominato/ Chromos
Confira mais dicas no vídeo abaixo:
Enem impresso
» Primeiro dia: domingo, 17 de janeiro
» Provas: Linguagens e códigos; redação; e ciências humanas
» Duração: 5h30min
Aulão gratuito
O Elite Rede de Ensino promove amanhã, às 14h, a live Aulão Enem 360°. O evento será gratuito e aberto para alunos de outras escolas e cursos, com o objetivo de revisar os principais temas cobrados na prova em cada competência (português, física, biologia, matemática, filosofia, química, redação, geografia e história). Dois professores por disciplina comandarão as aulas. Nos intervalos, o aulão terá como atrações teatro e dicas de respiração e alongamento. Para participar acesse o site ensinoelite.com.br/eventos/aulao-enem-360/. O aulão será transmitido ao vivo no YouTube: www.youtube.com/ensinoelite.
Calendário continua em questão
A Justiça mineira saiu pela tangente no imbróglio envolvendo a manutenção ou não do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nos próximos dois domingos e, agora, a questão não só persiste, como saiu de Minas novamente para as mãos da Justiça de São Paulo, que poderá definir o futuro de 568 mil mineiros inscritos na avaliação. Ontem, o Tribunal Federal da 1ª Região disse nem sim nem não ao pedido de anulação da prova nessas datas, em todo o Brasil ou apenas em Minas, feito anteontem pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), e deixou a cargo do tribunal do estado vizinho a decisão. A equipe jurídica responsável pela ação promete acionar o comitê de enfrentamento à COVID-19 de Belo Horizonte para tentar barrar a avaliação, pelo menos na capital.
Em sua decisão, o juiz federal Daniel Carneiro Machado considerou que como o mandado tem pedido idêntico na 12ª Vara Cível Federal de São Paulo,“torna-se evidente o risco de julgamentos conflitantes”. Por isso, ele determinou “a remessa dos autos, com urgência, ao Juízo da 12ª Vara Cível Federal de São Paulo”.
O problema é que a 12ª Vara já se pronunciou: indeferiu a ação movida pela Defensoria Pública da União (DPU) solicitando o adiamento do exame. A Defensoria recorreu. Em Minas, a ação foi elaborada pelo gabinete da deputada Duda Salabert e impetrada pelo PDT. A chefe de gabinete da vereadora e advogada Clarissa Cotrim, uma das responsáveis pela elaboração do mandado, explica que como foram feitos dois pedidos, um para suspender em Minas, outro para todo país, a decisão do juiz mineiro está correta no que diz respeito ao âmbito nacional.
“Mas, o mais acertado, era julgar o pedido de suspensão em Minas, declarar prejudicado o de suspensão nacional e remeter apenas essa parte da matéria para São Paulo”, defende.
E como a decisão do tribunal paulista, embora dando aval à aplicação do Enem, permite à autoridade local suspendê-lo, a equipe jurídica da vereadora vai interpelar o comitê de enfrentamento à COVID em BH sobre o adiamento. Em todo o país, são esperados 5,6 milhões de participantes nos dois domingos de prova impressa. Em Minas, 568 mil estudantes confirmaram participação na avaliação.