O primeiro Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em versão digital teve índice de falta de 68,1%. Ontem, 58.489 dos 93.079 estudantes inscritos para essa modalidade não compareceram ao local de provas. Os dados são do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O presidente da autarquia, Alexandre Lopes, concedeu entrevista coletiva à imprensa na noite de domingo.
Conforme os dados apresentados pelo Inep, apenas 3.338 (33,1%) dos 8.695 inscritos em Minas Gerais fizeram as provas. Portanto, 5.357 (66,9%) faltaram. Ainda assim, o presidente do Inep elogiou os "ganhos pedagógico e de logística" com a prova digital. "A gente vai levar essa experiência para os outros exames que o Inep faz. A maior vantagem é do ponto de vista pedagógico: melhorarmos a forma como avaliamos nossos alunos. Fazemos questões melhores e trazendo toda riqueza do mundo digital", disse.
Sobre a logística, Alexandre Lopes afirmou que a ideia do Inep é realizar várias provas do Enem durante o ano para evitar que o exame ocorra em dois fins de semana. "O aluno pode até ter mais oportunidades de fazer o Enem durante o ano. A ideia é que a gente distribua os participantes do Enem. Esse é o futuro", afirmou o presidente do Inep. Sobre o índice de ausentes, ele afirmou que a pandemia da COVID-19 influenciou nos números. "Muitas cidades estão em lockdown", afirmou. O Enem digital ocorreu em 104 cidades brasileiras, a partir de 1.028 locais de prova e 4.053 laboratórios.
PROBLEMAS
O primeiro Enem digital também teve problemas que impediram ou limitaram o desempenho dos estudantes. No Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amapá (Ifap), em Macapá, as provas não aconteceram porque uma viga do prédio da instituição caiu. A Defesa Civil interditou o local. Dessa maneira, os 111 inscritos para fazer a prova no local a farão nos dias 23 e 24 de fevereiro, quando os estudantes do Amazonas também serão avaliados. Vale lembrar que o Inep adiou as provas no Amazonas pelo colapso da saúde pública do estado, sobretudo na capital Manaus.
Outro problema ocorrido no Enem digital foi por causa da falha de um servidor. Alguns estudantes desistiram depois que os técnicos do Inep não conseguiram baixar a avaliação até as 13h30 de domingo. Esses alunos também terão suas provas remarcadas, segundo o Inep.
MINISTRO
Em visita a Belo Horizonte, ontem, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, elogiou a primeira edição do Enem Digital. "Desde já, pudemos constatar que a primeira edição do exame logrou êxito. O governo Jair Bolsonaro segue à frente, inovando e garantindo o eficiente empenho de recursos para melhor servir à população brasileira", escreveu no Instagram.
Milton Ribeiro acompanhou a aplicação das provas na Faculdade de Ciências Empresariais (FaceCE), da Universidade Fumec, localizada no Bairro Cruzeiro, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. A secretária de Estado de Educação, Julia Figueiredo Goytacaz Sant'Anna, acompanhou o ministro na agenda. Procurada, a assessoria de imprensa da pasta informou que Julia não se pronunciou no encontro. (GR)
Atraso de quase duas horas em BH
A jovem Adriana Cardoso Rosas, de 21 anos, que quer fazer curso de nutrição, saiu da prova Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no fim da tarde de ontem se sentindo “imensamente prejudicada”. Isso porque ela conta que ocorreu um problema no sistema para a liberação de provas e o início do exame atrasou em quase duas horas. A jovem realizou o teste na PUC-Minas, na unidade do Bairro Coração Eucarístico, na Região Noroeste de Belo Horizonte.
O novo formato do Enem começou a ser testado ontem em todo o Brasil. Em Minas Gerais, 8.695 estudantes se inscreveram para as provas on-line, que são aplicadas presencialmente. Antes de o exame começar, Adriana estava confiante com a prova digital. "A única diferença é fazer no computador", disse a estudante, pouco antes de entrar para a sala. Portanto, por volta das 18h30, ela contou que passou momentos de aflição dentro da sala de aplicação.
"A prova estava marcada para as 13h, mas só começou por volta das 15h. Entendo que é a primeira aplicação digital, mas o sistema não funcionou e deixou todos muito aflitos. Ninguém sabia o que ia ocorrer, se a prova seria cancelada ou não. Eu me senti muito prejudicada", relatou. De acordo com ela, o horário de realização foi estendido para até as 20h. "Eu sai de casa às 10h da manhã, como ficar lá até este horário?", questionou.
Adriana também reclama do local da prova. Como mora no Bairro Santa Amélia, Região da Pampulha, ela teve que pegar quatro ônibus para chegar ao Coração Eucarístico. "Tive que sair cedo de casa, porque no domingo os ônibus demoram ainda mais. Saí às 9h e cheguei às 12h40".
Além disso, a dificuldade de Adriana, na verdade, foi com a preparação. Demitida na pandemia, ela não conseguiu dinheiro para comprar um computador nem pagar por cursos. "Tive que estudar pelo celular ou com os livros que tinha em casa. Isso me prejudicou muito." Ela conta que foi surpreendida por algumas questões. Mas acha que fez uma boa redação. "O tema abordava a desigualdade entre regiões do país. Acho que fiz um bom texto", disse. (LR)
Desigualdade regional
foi o tema da redação
O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) digital foi "O desafio de reduzir as desigualdades entre as regiões do Brasil". Além da prova de redação, os estudantes fizeram ontem as provas de linguagens e ciências humanas. Assim como na edição impressa do Enem, a redação deve ser feita à mão, com caneta esferográfica preta.
A redação deve ser do tipo dissertativo-argumentativo, com até 30 linhas, desenvolvida a partir da situação-problema proposta e de subsídios oferecidos pelos textos motivadores. O texto dissertativo-argumentativo precisa ser opinativo e organizado para a defesa de um ponto de vista. A opinião do participante deve estar fundamentada com explicações e argumentos. O texto é dissertativo, porque disserta sobre um assunto proposto, descreve-o e explica-o. É também argumentativo, pois defende uma opinião e tenta convencer o leitor com argumentos.
As redações do Enem são avaliadas de acordo com cinco competências. São corrigidas por pelo menos dois corretores. A nota pode chegar a 1 mil pontos. Para participar de programas como o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que oferece vagas em instituições públicas de ensino superior, e o Programa Universidade para Todos (ProUni), que concede bolsas de estudo em instituições privadas de ensino superior, é necessário não ter tirado zero na redação.
Os participantes podem zerar a redação caso haja fuga ao tema proposto ou tipo textual diferente do dissertativo-argumentativo; desrespeito à seriedade do exame, com uso de impropérios ou outras formas de anulação da redação; cópia integral de textos motivadores ou do Caderno de Questões; presença de parte deliberadamente desconectada do texto; texto escrito em língua estrangeira, ilegível ou com menos de sete linhas.
Veja os temas das redações de anos anteriores:
» Enem 2009: O indivíduo frente à ética nacional
» Enem 2010: O trabalho na construção da dignidade humana
» Enem 2011: Viver em rede no século 21: os limites entre o público e o privado
» Enem 2012: O movimento imigratório para o Brasil no século 21
» Enem 2013: Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil
» Enem 2014: Publicidade infantil em questão no Brasil
» Enem 2015: A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira
» Enem 2016: Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil e Caminhos para combater o racismo no Brasil
» Enem 2017: Desafios para formação educacional de surdos no Brasil
» Enem 2018: Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet
» Enem 2019: Democratização do acesso ao cinema no Brasil
» Enem 2020 impresso: O Estigma Associado às Doenças Mentais na Sociedade Brasileira