Dúvidas rondam retorno das escolas infantis (Emeis) em Belo Horizonte
O primeiro dia de aulas para crianças até 5 anos e 8 meses na rede pública de Belo Horizonte começa em meio a incertezas por conta da COVID-19
Gabriel Ronan
Por
Larissa Ricci
03/05/2021 06:00 - Atualizado em 03/05/2021 08:28
audima
Mais de um ano depois, as Escolas Municipais de Educação Infantil (Emeis) voltam à ativa hoje em Belo Horizonte. Depois de uma semana de preparação, o primeiro dia de aulas para as crianças de 0 a 5 anos é cercado de dúvidas.
Enquanto a prefeitura convoca o retorno, o Sindicato dos Trabalhadores de Educação da Rede Pública de Belo Horizonte (Sind-Rede/BH) orienta a categoria a continuar em greve sanitária. O movimento, segundo a entidade, tem como motivação apenas a saúde dos servidores e da comunidade escolar, sem relação com o financeiro.
Ontem, a reportagem do Estado de Minas flagrou escolas de educação infantil com cartazes em suas portas, informado sobre a greve. Na Emei Vila Estrela, na Rua Primavera, Bairro Santo Antônio, Centro-Sul da capital mineira, o abandono da unidade chamou a atenção, além dos comunicados sobre a paralisação.
Já na Emei Timbiras, no Centro, informativos também divulgavam a greve, mas, ao contrário da outra, a estrutura estava impecável para receber as crianças hoje.
No sábado, uma preocupação saltou aos olhos dos professores de educação infantil de Belo Horizonte. A Emei Piratininga, no bairro de mesmo nome, em Venda Nova, informou a prefeitura um caso suspeito de infecção pelo novo coronavírus na unidade. A servidora em questão teve contato com sua filha, essa sim com diagnóstico da COVID-19. Apesar disso, o Executivo municipal garantiu o retorno.
A Emei Timbiras está preparada para volta às aulas nesta segunda-feira
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
A administração Alexandre Kalil (PSD) trata o caso como “positivo por critério clínico-epidemiológico”. "Não há, por parte da Secretaria Municipal de Saúde, orientação para a suspensão das aulas na EMEI Piratininga. A situação não é configurada como surto", informou a administração do prefeito Alexandre Kalil (PSD). A funcionária será afastada e ficará em isolamento social, segundo a prefeitura.
Além disso, a prefeitura esclareceu que vai enviar uma equipe da saúde para orientar os funcionários da Emei para "minimizar riscos de contágio, além de intensificar ações de vigilância epidemiológica". No Instagram da Emei Piratininga, no entanto, a escola convoca a presença apenas das crianças de 5 anos, resguardando as menores.
Rotina
Olga, de 3 anos, e Laura, de 5, pedem para voltar à sala de aula, mas com medo da pandemia a mãe diz que não vai mandá-las para a escola (foto: Arquivo pessoal
)
Laiane Carolina Pereira, de 32 anos, é mãe de duas filhas, de 5 e 3. Elas estudam na EMEI Sarandi, que fica no Bairro Serrano, na Região da Pampulha. "A rotina sem as aulas está uma verdadeira tortura. Primeiramente, porque ficamos na expectativa de tudo voltar em pelo menos um ano e um ano depois a pandemia está pior e mais aterrorizante", afirmou.
Ela relata que as crianças pedem pela para voltar à sala de aula. "Elas ficam pedindo pra ir pra escola, o que traz mais ansiedade para mim e para elas também. A verdade é que a gente fica querendo a nossa vida de volta e não sabe quando isso vai ser possível", acrescentou.
'''Depois eu volto a estudar'; 'depois eu me dedico mais ao meu trabalho' ou 'ano que vem eu reorganizo as coisas'. Mas esse dia nunca chega.'' Em contrapartida, ela afirma que não vai normalizar a vida se a pandemia não estiver de fato controlada. "Então, se as aulas presenciais voltarem agora, eu não vou mandar as minhas filhas. Ainda mais depois que esse vírus sofreu mutação e o contágio em crianças aumentou. A ansiedade é grande, mas primeiramente a segurança delas e de todos", disse.
Resistência
Nesse primeiro momento, apenas a educação infantil retorna. Ou seja, as crianças entre 0 e 5 anos e 8 meses. O anúncio foi feito em entrevista coletiva pela prefeitura, mas sofre resistência do Sind-Rede/BH. A entidade já realizou duas assembleias para tratar sobre o retorno e em ambas a categoria decidiu pela greve sanitária. A prefeitura tem informado que considera a ação legítima, mas lembra que a adesão ou não depende de cada servidor.
Os professores da educação infantil de Belo Horizonte também reivindicam prioridade na vacinação contra a COVID-19 para retornar às escolas. Outra alternativa apontada pelo Sind-Rede/BH é o controle da pandemia, que ainda está longe de acontecer. Como o EM mostrou em sua edição de domingo, o próprio comitê da prefeitura analisa com preocupação a chegada do outono e do inverno, quando a transmissão das viroses se intensifica.
“Definimos pelo não retorno ao trabalho presencial. A gente defende a manutenção do ensino remoto. Não é possível cumprir esse protocolo da prefeitura. A própria prefeitura não o segue, já que os servidores terceirizados do grupo de risco, como faxineiras, estão sendo convocados para trabalhar, o que vedado pelo protocolo”, afirma Daniel Wardil, diretor do Sind-Rede/BH.
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