A Escola Estadual “de Felipe”, localizada em uma comunidade de remanescentes quilombolas no município de Bom Jesus do Amparo, na Região Central de Minas, está ameaçada de fechamento. O anúncio foi feito durante reunião entre a Superintendência Regional de Ensino (SRE) e funcionários da escola, em 28 de abril deste ano.
Segundo Magno Augusto, morador da região e ex-aluno da escola, a comunidade é atendida pela instituição desde 1963, quando foi inaugurada, e preserva toda a cultura do quilombo De Felipe. As aulas são para crianças de até 11 anos, que estão na 5ª série e cerca de 70 delas frequentam a escola.
Após problemas com a caixa escolar, a instituição ficou sem receber recursos e passou o ano de 2018 sendo sustentada por familiares de alunos, professores, comerciantes locais e a comunidade em geral, que fazia compra de material como folhas A4, merenda escolar e qualquer manutenção que fosse necessária.
O problema foi causado há anos, quando outra coordenação estava à frente da escola e deixou prestações de contas irregulares. As direções seguintes precisaram ajustar a situação, porém, atualmente, o local está sem coordenadores, já que a última diretora saiu do cargo em março deste ano.
Sem coordenação, a SRE alegou que a escola, que já vem enfrentando problemas desde 2018, seria fechada, municipalizada ou tornaria um ‘braço’ de outra instituição, a Escola Estadual Edmundo Pena, que fica no Centro de Bom Jesus do Amparo.
Caso a escola “De Felipe” se torne parte do município, os funcionários temem que as verbas destinadas não sejam suficientes para sustentar toda a estrutura e o local seja fechado futuramente. A outra opção, se tornar um ‘braço’ da Escola Edmundo Pena, também causa preocupação em relação às raízes da comunidade, que receia perder o nome da instituição, além de todas as comemorações tradicionais que são feitas no espaço.
"É importante manter a escola aberta pela história. Manter a identidade das crianças, os costumes, as festas da localidade. Lá é um ponto de referência cultural da comunidade quilombola, não só dos alunos, mas de toda comunidade que participa das atividades” conta Magno Augusto.
Se a escola for mesmo fechada, as crianças precisariam ser transferidas para centros de educação no município e outro custo entraria para as contas, o transporte escolar. “A escola está dentro de uma comunidade quilombola, não tem risco e nem custeio do transporte dos alunos. São cerca de 11km da comunidade até o centro da cidade, isso geraria custo de transporte, risco para as crianças, além de tirar a identidade delas, que estudaram a vida inteira na comunidade quilombola”, diz o ex-aluno.
Funcionários da escola acreditam que a solução é encontrar uma direção exclusivamente para a escola e não colocar uma das professoras para exercer os dois cargos, que causa ‘muito desgaste’, de acordo com Miriam Mota, uma das educadoras. “Como a professora vai cuidar da sala de aula e ainda ter uma coordenação? Não querem pegar, porque o cargo é muito trabalhoso e causa muito desgaste”.
Duas funções e um salário baixo são apontadas como os problemas da falta de coordenadores no local, que teriam uma solução caso a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais escolhesse um profissional exclusivamente para o cargo, segundo os funcionários.
“Lá é uma comunidade especial, é quilombola. Merece uma atenção especial. Nenhuma professora concorda com isso, é uma revolta geral dentro da escola. Toda vida trabalhamos ali, temos a escola como a casa da gente”, diz Miriam.
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Estado de Educação afirmou que os alunos não serão prejudicados e um processo de escolha para novo coordenador está em andamento.
Veja a nota:
A Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG) esclarece que o atendimento na Escola Estadual de Felipe, em Bom Jesus do Amparo, segue normalmente sem prejuízo para os alunos da comunidade que estudam nesta unidade. A Superintendência Regional de Ensino Metropolitana A, responsável pela coordenação da escola, está acompanhando a situação da unidade e o processo de escolha de um novo coordenador, que já está em andamento.
*Estagiária sob supervisão da editora-assistente Vera Schmitz