A qualidade da educação brasileira passa pela melhoria dos resultados de aprendizagem e pelo enfrentamento das altas taxas de evasão escolar, sobretudo no ensino médio. Relatórios inéditos da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), publicados na manhã desta quarta-feira (30/6), mostram que o desafio se impõe ainda mais na pandemia e deixa uma conta dura a pagar se o problema não for enfrentado de frente.
A grande proporção de jovens que não conclui os estudos ou não o faz dentro do tempo esperado é resultado de uma série de aspectos, incluindo a repetência e um currículo pouco engajador. A organização afirma ainda que outras causas de abandono dos estudos - procurar emprego ou assumir responsabilidades de sustento da casa – podem ter sido alimentadas ainda mais pelos efeitos da pandemia, especialmente entre os mais vulneráveis.
A equidade é tema abordado inúmeras vezes ao longo dos relatórios. A OCDE afirma que o contexto social e econômico do Brasil tem um impacto maior sobre a participação e os resultados de aprendizagem do que nos outros países da OCDE. Mesmo com aumento das taxas de matrícula servindo para reduzir as lacunas no acesso à educação, as crianças começam a escola com níveis já bastante diferentes de desenvolvimento e “prontidão para aprender”.
“As desigualdades refletem ainda a maneira como a oferta escolar de baixa qualidade e contextos familiares socialmente mais vulneráveis se combinam para que as habilidades básicas não sejam adquiridas logo no início, colocando os alunos de nível socioeconômico mais baixo em uma trajetória que leva a um desempenho escolar fraco, altas taxas de evasão e oportunidades de vida limitadas”, ressalta a publicação. “Para conseguir oferecer qualidade e equidade, o Brasil precisará definir prioridades claras e garantir os recursos necessários para a educação”, afirma.
O relatório A Educação no Brasil: uma perspectiva internacional traz um olhar especial ao Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), em relação a países comparativamente relevantes, incluindo os da América Latina e os membros da OCDE. A presidente-executiva do Todos Pela Educação, Priscila Cruz, lembra que para a OCDE o momento atual é de mitigar os efeitos imediatos do prolongado período de fechamento das escolas e, em paralelo, retomar a visão de médio e longo prazos para as políticas educacionais do país. “E para avançarmos nesses dois caminhos, o relatório traz análises detalhadas e recomendações específicas, algo razoavelmente inédito nas publicações da OCDE para o Brasil”, diz.
Já a publicação Education Policy Outlook: Brazil (Panorama das Políticas Educacionais: Brasil) traçou um panorama das respostas do sistema de ensino, incluindo ações do Ministério da Educação, sociedade civil e exemplos bem sucedidos em estados. A superintendente do Itaú Social, Angela Dannemann, ressalta que o Brasil obteve muitas conquistas no campo da educação nas últimas décadas e suas políticas públicas foram exemplo para outras economias emergentes. “Mas, as taxas de realização do ensino médio e superior são insuficientes comparadas a outros países e metade dos jovens de 15 anos não têm nível básico de proficiência em leitura, segundo o Pisa. O aperfeiçoamento, continuidade e investimentos em políticas públicas são urgentes para oferecer qualidade e equidade aos estudantes brasileiros”, afirma.
Para o futuro, a OCDE sugere priorizar uma resposta nacional mais coerente de recuperação da aprendizagem; apoio a educadores no desenvolvimento de novas habilidades e conhecimentos; e tratamento das lacunas de aprendizagem com urgência para minimizar a interrupção das jornadas educacionais dos estudantes.