O drama vivido por milhares de famílias brasileiras com uma pandemia marcada pelo fechamento de estabelecimentos de ensino ganhou eco em nível internacional. O Brasil bateu o triste recorde de país com o maior número de dias letivos com escolas totalmente fechadas, no ano passado: 178. Esse pódio, do qual não há nada a se orgulhar, é composto por 46 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) – 38 membros e oito outros parceiros, sendo um deles o Brasil. Os dados estão no relatório Estado da educação mundial: 18 meses de pandemia, divulgado na manhã desta quinta-feira (16/9), em Paris (França).
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Os dados do relatório foram recolhidos e produzidos em colaboração com Unesco, Unicef e o Banco Mundial. “Um ano e meio depois, a reatividade impressionante do poder público na maior parte dos países da OCDE permitiram uma melhora significativa da situação sanitária e econômica. São muitos os países a gerir uma nova onda de contaminação, graças a uma campanha vacinal de amplitude inédita. Mas, apesar dos avanços encorajantes e mesmo se as escolas se adaptaram à limitação sanitário, a propagação da COVID-19 continuou a travar o acesso à educação em presencial em muitos países do mundo”, disse o secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann, na entrevista coletiva.
Ele destacou a atuação da França, que conseguiu garantir a educação de suas crianças do maternal ao ensino médio: os estudantes perderam, em média, de 34 a 49 dias de aula desde o início da pandemia, ou seja, duas vezes menos na comparação com a média dos países da OCDE.
Cormann ressaltou que, embora a atenção política seja voltada para a gestão dos efeitos imediatos da crise, é importante considerar os efeitos estruturais, que podem ter repercussão a longo prazo. E não se esquecer do bem-estar econômico e social das pessoas de todas as origens e idade, assim como o desenvolvimento de suas competências ao longo de toda sua vida.
Estado da educação mundial: 18 meses de pandemia integra a publicação Olhares sobre a educação 2021 (Education at a glance), que inclui dados atualizados sobre funcionamento, organização, evolução dos sistemas de ensino e investimentos associados, principalmente no quesito recurso humanos.
“É preciso evitar que a equidade e acesso a uma educação de qualidade num contexto tão particular como o atual se agrave nos próximos anos. Equidade é o tema central desta edição de Olhares sobre a educação. A pandemia pôs em evidência a importância da equidade na educação, que já faltava nessa área e que não necessariamente recebeu o tratamento adequado no passado. São os alunos mais vulneráveis e marginalizados que, infelizmente, foram mais uma vez duramente afetados”, destacou o secretário-geral da OCDE.
Graduação
Ao tratar da educação superior, a publicação deixa em evidência outras desigualdades. No ensino superior, em expansão nas últimas décadas, em 2020, as mulheres da faixa etária de 25 a 34 anos tinham mais possibilidade de chegar à graduação em todos os países da organização. O Brasil seguia a tendência mundial já em 2018, quando 27% delas tinham diploma de ensino superior, contra 20% dos homens. Na média do conjunto da OCDE, o percentual feminino é de 52% e o masculino, de 39%.Mas, se as mulheres têm mais chance de qualificação, o mesmo continua não se traduzindo no mercado de trabalho. Na média de países da OCDE, 80% das mulheres com graduação estavam empregadas em 2018 – entre os homens, o índice sobe para 87%. No Brasil, a diferença é ainda maior: 77% e 85%, respectivamente.